Histórias Antigas de Vallongo.
No ano de 1809, durante a segunda invasão francesa Vallongo foi ocupado pelas tropas.
No ano de 1809, as batalha ainda eram travadas com tropas a cavalo.
E quando as tropas francesas ocuparam Vallongo, a nossa Igreja de São Mamede de Vallongo, foi utilizada como cavalariça e arsenal.
A Igreja de São Mamede de Vallongo toda engalanada durante as festas do Santo Padroeiro, o São Mamede.
Acho que esta deve ser a fotografia mais antiga da nossa Igreja de São Mamede de Vallongo.
No painel de azulejos no topo da igreja, está o São Mamede, que é o Santo Padroeiro de Vallongo.
Muitos textos que vou utilizar são deste livro A Villa de Vallongo, que é da autoria do Prº Joaquim Alves Lopes Reis, um cidadão de Vallongo, nascido no ano de 1871.
E em algumas passagens do livro, o Prº Joaquim diz:
Conforme contam os velhos de Vallongo, e conforme contam os nossos avós.
Por isso deduzo, que o Prº Joaquim terá convivido com pessoas que terão presenciado os acontecimentos que narra no livro.
......Agora à minha maneira de uma forma muito simplista, vou fazer um resumo dos acontecimentos, que no meu entender nos levaram até às invasões francesas.
......E para mim toda esta história das invasões começa no ano de 1792, quando o Infante Dom João, que tinha na altura 25 anos é nomeado Príncipe-Regente de Portugal, devido à doença de sua mãe a Rainha Dona Maria I, só anos mais tarde, após a morte da mãe é que ele veio a ser aclamado como Rei Dom João VI.
......Alguns historiadores dizem que o Infante Dom João, como era o segundo na linha de sucessão ao trono, não terá recebido uma educação igual à do seu irmão Dom José, que era o filho primogénito e que portanto seria o herdeiro natural ao trono, mas com morte prematura deste, o herdeiro passou a ser Dom João.
......Alguns historiadores também dizem que foi por causa da inabilidade diplomática de Dom João VI, que viemos a sofrer aquelas 3 Invasões Francesas que tantos horrores provocaram em Portugal.
......Mas como se verá, o Reinado de Dom João VI não viria a ser nada pacifico, e apesar da nossa história ter sido sempre muito complexa, esta talvez tenha sido das épocas mais atribuladas que o reino viveu.
......E para mim a história das invasões francesas começa no ano de 1804, quando Napoleão Bonaparte é proclamado Imperador de França.
Napoleão Bonaparte com as suas ideias megalómanas, envolve-se em guerra com todas as grandes potências um pouco por todo o Mundo, nas que ficaram para a história conhecidas como as Guerras Napoleónicas.
......No ano de 1805 trava-se A Batalha de Trafalgar.
No ano de 1805 Napoleão Bonaparte faz uma aliança com Espanha, e com uma armada conjunta tenta invadir Inglaterra pelo Canal da Mancha, mas os Ingleses vêm ao seu encontro com uma armada comandada pelo famoso Almirante Nelson, que os derrotou na Batalha de Trafalgar.
......No ano de 1806 Napoleão Bonaparte decreta o Bloqueio Continental.
......Portugal que era então governado pelo Príncipe-Regente Dom João VI, não acatou essa ordem de Bloqueio, devido a uma antiga aliança que tinha com a Inglaterra.
......Ao saber isso Napoleão ficou furioso, por Portugal um pequeno País à beira mar plantado, não ter acatado a sua ordem de Bloqueio Continental ao comércio com a Inglaterra.
......Na página 147 do livro A Villa de Vallongo, o Prº Joaquim diz o seguinte sobre este episódio conturbado da nossa história:
......Napoleão Bonaparte jurou vingar-se de Portugal, e em segredo celebrou com o Rei de Hespanha Carlos IV o tratado de Fontainebleau, onde ficou acordado que as tropas Francesas poderiam atravessar o território Espanhol para invadir Portugal.
......E depois de conquistado o Reino de Portugal, este devia ser riscado do numero das Nações, e dividido em três partes, que seriam repartidas da seguinte maneira:
......A parte compreendida entre o Douro e o Minho, onde está Vallongo, ficaria para o Rei da Etruria, o Algarve e o Alentejo ficariam para o Rei de Espanha, e o resto ficaria em poder de França, para conseguir este fim começaram aquelas invasões, que todos conhecem, e que tanto mal fizeram a Portugal, e a Vallongo.
......Como combinado com a conivência de Espanha para atravessar o seu território, Napoleão manda as suas tropas invadir Portugal.
..... E assim no ano de 1807, começa a primeira invasão francesa.
As
tropas francesas comandadas pelo general Junot, vieram com ordens para invadir Portugal pela zona
do Tejo, e seguir rapidamente para Lisboa para aprisionar a família Real.
......Mas
a aridez do Alentejo, e as muitas dificuldades que as tropas foram encontrando
pelo caminho, quase acabaram com elas, e quando chegaram a Lisboa, a família Real
e as Cortes, já tinham partido com malas e bagagem para o Brasil.
......Alguns livros de história dizem que quando as primeiras tropas francesas entraram em Lisboa, ainda viram ao longe no Mar, as velas das caravelas mais atrasadas, que seguiam para o Brasil com as Cortes e a família Real.
......Nesta primeira invasão, as tropas francesas comandadas por Junot, mantiveram Lisboa ocupada durante algum tempo, mas após muitas rebeliões, e depois com o auxilio de tropas Inglesas, os franceses foram expulsos de Lisboa, e acabaram por abandonar Portugal, e assim acabava a primeira invasão francesa.
......Mas no ano de 1808, mal chegaram a Lisboa notícias de que as tropas francesas estavam a invadir Portugal pelo Alentejo, a família Real foi aconselhada a partir para o Brasil, para que não viesse a ficar aprisionada pelos invasores.
......A partida da família Real e das cortes para o Brasil.
Uma pintura, que retrata a partida da família Real para o Brasil, no ano de 1808.
Uma gravura a preto e branco, que retrata a partida da família Real para o Brasil no ano de 1808, para que não viesse a ficar aprisionada pelas tropas Francesas.
Pela quantidade de veleiros que se vêem em todas as gravuras, a logística para fazer o transporte de toda a família Real, das Cortes e de toda a Governação do Reino com armas e bagagens para o Brasil, deve ter sido impressionante.
Outra pintura, que retrata a partida da família Real para o Brasil, no ano de 1808.
Em todas as gravuras, e pinturas, que retratam a partida da família Real para o Brasil, aparece a Torre de Belém, por isso deduzo que o embarque foi por aqui, pela zona de Belém.
A Torre de Belém que aparece em todas as gravuras e pinturas, que retratam a partida da família Real para o Brasil, já existe desde o ano de 1520, desde a altura dos Descobrimentos.
Uma pintura, que retrata a chegada da enorme comitiva, com a Família Real, as Cortes, e toda a governação do Reino de Portugal, ao Brasil, no dia 7 de Março de 1808.
......Mas apesar de toda a logística, e da enorme quantidade de veleiros que foram necessários para fazer o transporte de toda a família Real, das Cortes e de toda a governação, com armas e bagagens para o Brasil, tudo acabou por correr bem.
......E todos se
instalaram na cidade do Rio de Janeiro, que nessa altura passou a ser a capital do
Reino, e começou a chamar-se, Reino Unido de Portugal, do Brasil, e dos Algarves.
......Logo
após a retirada das tropas da primeira invasão, Napoleão manda novamente
invadir Portugal, desta vez as tropas foram comandadas pelo General
Soult, nesta
Segunda Invasão quem sofreu mais foi o Norte de Portugal.
......Na página 148 do livro A Villa de Vallongo, o Prº Joaquim diz o seguinte sobre esta segunda invasão francesa:
......Mas novas desgraças nos estavam reservadas, porque em 1809 o General Soult às ordens de Napoleão vence com 30 mil soldados na Galiza o exército anglo-espano, toma a Corunha a 20 de Janeiro.
......Ocupa Tuy d'ahí a um mez, e atravessando o Minho apodera-se de Valença, e de Braga a 20 de Março, caindo logo sobre o Porto, que então era defendida por 24 mil soldados, e 200 bocas de fogo, comandados pelo próprio Bispo, estas tropas fizeram frente ao inimigo e venceram-no nos dias 27 e 28.
......Mas no dia 29 os Franceses redobrando as suas forças, forçaram os Portugueses já gastos e cansados a abandonar a Cidade do Porto, retirando-se para Villa Nova de Gaya tendo levantando os alçapões da Ponte de Barcas que havia no rio, com o fim de opôrem uma barreira ao inimigo.
......No dia 29 de Março de 1809 aconteceu o trágico acidente da Ponte das Barcas, que enlutou toda a Cidade do Porto, terão morrido mais de 4 mil pessoas, porque ao fugirem à frente das tropas Francesas, terão tentado atravessar a ponte para o lado de Villa Nova de Gaya, sem verem que os alçapões da ponte estavam levantados.
Tela onde vemos como era a Ponte das Barcas.
Esta ponte feita de Barcas, tinha um engenhoso sistema de abertura, a que o Prº Joaquim no livro A Villa de Vallongo chama alçapões, que eram abertos para dar passagem aos barcos que subiam o rio.
Na Ribeira do Porto, em frente ao local onde ficava a Ponte das Barcas, foi feito um altar em homenagem às vitimas do desastre, onde se pode fazer uma oração, ou colocar uma vela, neste local existe uma placa informativa do Município que diz o seguinte:
......Alminhas da Ponte.
......Baixo relevo em bronze realizado em 1897 pelo escultor Teixeira Lopes (pai), representa a Tragédia da Ponte das Barcas ocorrida aqui a 23 de Março de 1809, aquando do cerco da Cidade pelas tropas Francesas do Marechal Soult, centenas de populares em fuga tentaram atravessar o Rio Douro lançando-se à ponte que cedeu sob o seu peso, este é hoje um local de crença e devoção das gentes do Porto.
O baixo-relevo em bronze, que representa a tragédia da Ponte das Barcas.
......Na página 149 do livro A Villa de Vallongo, o Prº Joaquim diz o seguinte sobre a tragédia da Ponte das Barcas:
......Foi então que se deu esse acontecimento que encheu de luto toda a cidade, porque atrás do exército correu o povo que fugia dos franceses, a quem olhava como inimigos, e de quem fazia o conceito de feras, e que não podendo com a precipitação notar a ruptura da ponte, se foi um ao outro empurrando para o abismo.
......Calcula-se que morreram umas 5:000 pessoas, muitos senão todos os historiadores, lançam a culpa d'este desastre ao Bispo, e a outros dirigentes do exército, a quem alcunham de ineptos e ignorantes na arte da guerra.
......Mas a nós parece-nos serem modos de ver as coisas, pois que assim como a fuga do exército, e a ruptura da ponte produziram consequências tão funestas, se o povo não corresse tão doidamente atrás d'elle, o que não podia ser previsto, tal acção podia até julgar-se como grande medida estratégica, pois assim livravam-se as tropas de uma derrota certa, poupava-se ao Porto uma ruína notável e formava-se no rio uma trincheira que o inimigo com dificuldade superaria.
......Ficando senhores da cidade do Porto, os franceses conservaram-se n'ella por espaço de 45 dias, durante os quais roubaram tudo quanto encontraram de valor tanto nas Igrejas e Conventos, como nos edifícios públicos.
......Na página 150 do livro A Villa de Vallongo, o Prº Joaquim continua a dizer o seguinte sobre a Segunda Invasão Francesa, e sobre uma Divisão Francesa que foi enviada para Valongo:
......Depois de 45 dias no Porto, o exército Francês avança sobre Lisboa, mas foi vencido em Grijó pelo exército Alliado, Soult recolheu novamente ao Porto, e mandou logo para Vallongo uma divisão comandada por Mermet, afim de conservar as comunicações entre o Porto e Amarante, para onde tinha transportado a sua artilharia e bagagens.
......Foi quando essa divisão Francesa comandada por Mermet chegou a Vallongo, que esta terra começou a sentir os horrores d'esta guerra invasora e iniqua, feita por soldados desmoralizados, e de fé perdida pelas ideias revolucionárias em que viviam há muitos anos.
......Os Franceses senhores de um País que julgavam conquistado, levaram por toda a parte a tirania, a miséria e a morte, e era tal o medo que d'aquela gente estava o povo possuído que à sua chegada aqui, grande parte dos habitantes, escondendo os seus tesouros e haveres, fugiram para lugares escondidos e distantes.
......A Majestosa Igreja de Vallongo, foi convertido pelas tropas francesas em cavalariça e arsenal, os soldados, aboletados por jeito ou à força nas casas particulares, praticavam aí com uma petulância e atrevimento inaudito toda a sorte de patifarias e desordens.
Como era Valongo, na altura em que o Marechal Soult mandou para aqui uma divisão comandada por um tal Mermet, para proteger as linhas de abastecimento entre o Porto e Amarante.
Como se vê, Valongo nesse tempo não passava de uma pobre povoação rural, por isso é que o Pr. Joaquim no livro A Villa de Vallongo diz:
......A majestosa Igreja de Valongo, porque na realidade ela é mesmo imponente, comparada com tudo à sua volta, esta antiga fotografia acima abarca a cidade de Valongo, e o Susão.
E como podemos ver nesta fotografia actual, com o mesmo enquadramento da anterior, passados que estão 211 anos, a Majestosa Igreja de Valongo mal se consegue distinguir.
......Na página 150 do livro A Villa de Vallongo, o padre Joaquim continua a dizer sobre a Segunda Invasão Francesa, e sobre a Divisão Francesa que foi enviada para Valongo:
......Durante a permanência das tropas francesas em Vallongo, aconteceram factos que não podemos deixar de relatar, e nas páginas 150, 151 e 152, o Prº Joaquim faz alguns relatos sobre as patifarias que as tropas francesas faziam à população de Valongo, que não são nada abonatórios.
......Segundo o Prº Joaquim, terão morrido em Vallongo muitos soldados franceses, como podemos deduzir por este pequeno excerto que está na página 152, onde o Prº Joaquim diz o seguinte, sobre o proprietário de uma das habitação que tinha sido ocupada por soldados franceses:
......A
sua paciência esgotou-se n'um repente, e com um murro fez voar pelos ares a luz
que os iluminava, e acto continuo, enquanto a tropa francesa estupefacta estava
a ver o que seria aquele estrondo, deita a mão a um machado que tinha perto e
começou a descarregar pancadaria.
Antiga fotografia onde vemos a estrada velha, que seguia para o Porto através da Senhora dos Chãos e do Monte Alto, que o Prº Joaquim refere nos textos sobre a Batalha.
Como também podemos ver nesta fotografia acima, Valongo não passava de uma pobre povoação rural.
E como podemos ver nesta fotografia actual, com o mesmo enquadramento da anterior, se fosse hoje 211 anos após, as tropas Francesas bem tinham que ir acampar para outro lado.
......Na página 152 do livro A Villa de Vallongo, o padre Joaquim continua a dizer sobre a Segunda Invasão Francesa, e sobre a Divisão Francesa que foi enviada para Valongo:
......Dias de paz não tiveram os invasores franceses durante o tempo que estiveram n'esta terra, mas também foram imensas as desgraças por eles causadas em mortes violências e rapinas, não somente levaram tudo quanto encontraram de riqueza nas casas particulares.
......Na igreja Paroquial roubaram uma grande quantidade de objectos de prata e de ouro, quatro lanternas de Prata, e seis varas do Pállio, do mesmo metal.
......Dos quais é
feita mensão num documento de 1739, onde consta o inventário dos haveres da Confraria
do Santíssimo Sacramento, todos desapareceram por essa ocasião, e muitas casas
sofreram demandas, ruína, e prejuízos incalculáveis.
......Depois da partida dos Franceses, os padeiros de Vallongo tiveram que fazer nova contribuição, para serem compradas novas Lanternas, e novos varões para o Pálio.
......Na
página 153 do livro A Villa de Vallongo, o Prº Joaquim
continua a falar sobre a Segunda Invasão Francesa, e termina assim esta parte da
ocupação de Valongo pelas tropas Francesas:
......Não se dando por vencido Napoleão Bonaparte, manda novamente as suas tropas invadir o Reino de Portugal.
......E assim no ano de 1810, começa a terceira invasão francesa.
O Marechal Massena, foi quem comandou esta terceira invasão francesa, que começou em 1810, e só terminou em meados de 1811, este Marechal Massena era o militar mais conceituado de Napoleão, ele até lhe chamava o filho querido da vitória.
......Mas esta terceira invasão, tal como as duas primeiras, também estava condenada ao fracasso, mesmo sendo comandada pelo filho querido da vitória.
......Também desta vez o exército de Napoleão acabou por sair de Portugal derrotado, para essa derrota muito contribuiu o General Wellington que comandou as tropas Anglo-Lusas, devido às estratégias que terá utilizadas no campo de batalha.
......E assim finalmente depois das tropas Francesas saírem de Portugal derrotadas, e terem regressado a França, finalmente depois de três tentativas de invasão fracassadas, Napoleão Bonaparte desiste, e abandona em definitivo a ideia de conquistar Portugal.
E como costumo dizer "prontus" terminei, se alguém vier a ler esta publicação espero que tenha gostado.
Fernando Almeida
Uma excelente narração, Das invasões Francesas à Portugal. Bem ,como a Valongo.
ResponderEliminarExcelente. Abraco.
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