quarta-feira, 18 de julho de 2018

 Uma viagem pela história de Vallongo.


 Muitos textos e fotografias que vou utilizar nesta publicação são do livro A Villa de Valongo.

 Livro que foi publicado em 1904 pelo padre Joaquim Alves Lopes Reis, um cidadão de Valongo, nascido no ano de 1871.



 Desde à muitos anos que colecciono fotografias, e colecções de postais que periodicamente vão sendo emitidos pelo Arquivo Histórico de Vallongo.

 E quando me ponho a olhar para estas antigas fotografias vejo que Valongo está muito diferente, por isso resolvi fazer esta publicação onde vou fazer uma comparação de como eram esses locais, e como estão actualmente.

 E já agora como sou natural de Valongo, cidade onde nasci e sempre vivi, também vou contar um pouco do que sei sobre a história de alguns dos locais, e de alguns edifícios por onde vou passar. 





 O percurso histórico que vou fazer é de cerca de 1 km, vou começar na Rua de São Mamede, sigo pelo centro de Valongo, pela estrada nacional nº15, antiga estrada real nº33, e vou terminar na Estação de Caminhos de ferro de Valongo, e pelo caminho vou fazendo alguns desvios, mas sem me desviar muito do trajecto principal.

 Conheço relativamente bem, e gosto de cada um dos lugares por onde vou passar, todos eles me trazem recordações da minha infância, e de muitos familiares e amigos já desaparecidos.



 Começo esta grande viagem pela história de Vallongo com esta fotografia, que está na página 34 do livro A Villa de  Vallongo.

 Nesta fotografia vemos como era a Rua de São Mamede nos finais do Século XIX. 

 ......Esmiuçando esta fotografia, começando no lado esquerdo vemos uma Casa Apalaçada, que infelizmente foi demolida em 1960 para dar lugar a uma área comercial, falarei dela mais à frente.

 ......A seguir vemos o antigo Edifício dos Paços do Concelho de Valongo, nas janelas do piso térreo ainda vemos as grades de ferro da antiga Cadeia de Valongo.

 ......Depois a seguir vemos a Capela de São Bruno, que é encimada por uma Cruz.

 ......E se olharmos bem, por cima do antigo edifício dos Paços do Concelho conseguimos ver as torres da Igreja de Valongo.



 ......Continuando a esmiuçar esta fotografia mas agora começando lá no fundo, no lado direito da rua vemos o cruzeiro que encimava a antiga Ponte Carvalha, que foi destruída devido a uma grande inundação conforme contarei mais à frente.
 ......A meio da rua no lado direito podemos ver um grupo de pessoas a conversar entre o café Ribeiro e a casa da Sra. Odete, aí começa uma rua que começou por ter o nome de Rua Oliveira Zina, nome que mais tarde foi alterado para Avenida Dom Carlos I.

 ......Mas no ano de 1936, quando da passagem do primeiro Centenário da criação do Concelho de Valongo, foi decidido que o largo que se abre no início desta rua, passasse a ser chamado Largo do Centenário, nome que se mantém até aos dias de hoje, também falarei dele mais à frente. 



 Fotografia tirada no ano de 2018, na mesma varanda e com a mesma vista com que foi tirada a fotografia anterior a 1904, que está na página 34 do livro A Villa de Valongo.

 ......E como podemos ver passados que estão mais de 120 anos a varanda ainda é a mesma.

 ......Vemos que todos os edifícios desta Rua de São Mamede foram preservados, à excepção da Casa Apalaçada que ficava onde agora existe este edifício envidraçado, que está destinado ao comércio.

 ......Vemos também que lá ao fundo no lado direito já não existe a antiga Ponte Carvalha, que era encimada por um Cruzeiro porque ela foi destruída, conforme contarei à frente.

 ......E também vemos que a estrada nacional 15, que era a antiga Estrada Real 33, agora já não vira para a esquerda na direcção da Igreja Paroquial, donde depois seguia pela estrada velha na direcção do Porto.



  Ano de 2019, foi da varanda deste edifício que foi tirada a fotografia que está na pág. 34 do livro A Villa de Vallongo.



 Um jovem a pescar no Rio Simão junto à Ponte Carvalha, esta fotografia está na página 103 do livro A Villa de Vallongo,

 Nesta antiga fotografia podemos ver o Cruzeiro que encimava a Ponte Carvalha.



 Acho que o objectivo de quem tirou esta fotografia deve ter sido mostrar o jovem a pescar no rio, conforme poderemos ler num texto que porei mais à frente, nesta altura no Rio Simão existiam muito boas enguias, e a pesca era um dos passatempos das tardes de Verão em Valongo. 

 ......Na página 367 do livro A Villa de Vallongo diz o seguinte sobre a Ponte Carvalha:

 ......Ponte Carvalha, ponte onde atravessa a Estrada Real na Rua de São Mamede, data de 1758 e foi mandada fazer pelo regedor, e provedor perpétuo do Porto, Dom Francisco de Almada e Mendonça, que também reformou e calcetou a estrada que aqui passa do Porto a Amarante.

 ......E' feita de cantaria em arco com um diâmetro de 4 metros, é encimada por uma Cruz de pedra elegante e bem trabalhada, com sinais de em tempos ter tido na base uma caixa onde os viandantes deitavam esmolas.

 ......Chama-se Carvalha, porque n'este lugar existiu antigamente um carvalho de desmedida grandeza e grossura, porém antes d'esta existiu uma outra ponte mais grosseira e pequena, de que já há memória em 1590, pois que já n'esse tempo se falava na Ponte Carvalha.

 ......O facto de estar uma Cruz em cima da Ponte quer talvez significar o pensamento d'uma inscrição que em Villa Nova de Ourem está gravada n'uma Cruz alevantada nas mesmas condições, e que diz assim:

 ......Que quer dizer uma Cruz em uma  ponte?
 ......Podeis crer que são duas pontes, por aquela se vai ao céu, e por esta se passa o rio. 

 ......Na página 224 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre o trágico acontecimento que destruiu esta Ponte Carvalha:

 ......Um acontecimento trágico veio paralisar por algum tempo o aumento progressivo d'esta Villa e causar a seus habitantes terríveis prejuízos, foi a inundação de 7 de Novembro de 1876.

 ......Era ao cair da tarde de um dia de pesado inverno e o trovão ribombava continuo e atroador, semeando nos espíritos o horror e o medo.

 ......A chuva desde a manhã impertinente e grossa começou a cair a potes, fazendo lembrar a frase da escritura, quando diz que se abriram as cataratas do céu.

 ......Ao fim de uma hora talvez, quando todos os caminhos já pareciam verdadeiros ribeiros, temerosos e horrorizados os habitantes de Vallongo lamentavam tristes e aflitos a desgraça própria e alheia, principalmente a dos padeiros, que por ser dia de sábado ainda estavam para o Porto, e outras terras circum-vizinhas.

 ......O caudal do ribeiro da Ponte Carvalha aumentando imensamente, tornava-se caudaloso, e estendia as suas águas já pela Rua de São Mamede.

 ......A este tempo o forte embate da corrente faz ruir a casa contigua, que hoje pertence ao Sr. Manuel Ferreira das Neves, os destroços do edifício arrastados foram obstruir quase por completo o olhal da ponte, por onde como por um sorvedouro horrendo, se sumiam com medonho estrondo.

 ......O ruído que causou esta derrocada em noite tão tempestuosa e má, juntamente com o repentino crescer das águas, que chegaram a atingir próximo da ponte a altura de três metros, causou um momento de temor, que ainda hoje se não pode recordar, sem algum estremecimento, ouviram-se por muitas partes gritos lancinantes e aflitivos.

 ......A corrente alastrava-se horrenda, produzindo efeitos desastrosos, e toda a parte baixa da Villa ficou completamente inundada. 

 ......As grandes pedras de granito, que formavam as guardas da ponte foram arremessadas até junto dos prédios que ficam de fronte, ao outro lado da rua.

 ......Os prejuízos foram enormes, talvez dezenas de contos de réis, e tão lamentáveis, que foi formada no Porto uma comissão, por iniciativa de Sua Majestade a Rainha Dona Maria para angariar esmolas a fim de socorrer as vitimas das inundações, d'aquele inverno horroroso em todo o País.

 ......O presidente dessa comissão o Cardeal D. Américo, de ilustre memória, veio em auxilio dos prejudicados com a quantia de 1.200$000 (um milhão e duzentos mil Reis), que foi distribuída pelos mais necessitados.

 ......E reparados os males causados continuaram os melhoramentos da Villa.



 O cruzeiro da antiga Ponte Carvalha foi colocado aqui no caminho perto da capela da Santa Justa.


 Ano de 2018, o Cruzeiro da antiga Ponte Carvalha. 



 Nesta fotografia da primeira metade do Século XX, vemos 3 senhores em cima da ponte que substituiu a antiga Ponte Carvalha.

 Esta fotografia foi tirada mesmo no topo da Rua de São Mamede, com vista para o antigo edifício dos Paços do Concelho.



 Ano de 2018, fotografia tirada em cima da Ponte Carvalha, com a mesma vista da foto anterior e como podemos ver os edifícios ainda são os mesmos.



 Ano de 2018, entretanto a estrada nacional 15 foi alargada, e agora é esta a ponte que existe no lugar da antiga Ponte Carvalha.

 ......Na página 372 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre o Rio Simão, que passa aqui na Ponte Carvalha:

 ......Rio Simão é o rio que aí passa, recebe as águas do Ribeiro do Cambado, e antes da linha férrea era o mesmo ribeiro que de Centiaes vinha a Fontelos no Susão, donde corria por Contenças a caminho de Vallongo.

 ......Isto fazia com que este Rio tivesse sempre águas, e moesse em vários moinhos quase todo o ano, e criasse muito boas enguias cuja pesca era um dos passatempos das tardes de Verão, hoje só não seca desde o Borbulhão em diante, é porém, no Inverno muito caudaloso e por vezes tem causado imensos prejuízos.



 Ano de 2018, no local onde existiu a Ponte Carvalha existe agora este túnel por onde entra o Rio Simão, que só volta a ver a luz do dia 500 metros mais à frente, nas traseiras do Museu Municipal.



 Ano de 2018, é esta a ponte que existe agora no local onde existiu a Ponte Carvalha.



 Ano de 2018, lá ao fundo no lado esquerdo vemos as grades verdes no local onde existia a antiga Ponte Carvalha.



 Ano de 2018, como veremos na foto a seguir até meados do Século XX, o local onde hoje existe este jardim, com este bonito lago em forma de coração ainda estava ocupado por casas.



 Como podemos ver nesta antiga fotografia da Rua de Sousa Paupério, lá ao fundo no lado esquerdo ainda existem casas, onde hoje existe o tal jardim que tem um lago em forma de coração.

 Neste tempo como vemos a estrada nacional não seguia pela escola do Conde Ferreira, ainda vinha para cima na direcção da Igreja, donde depois seguia a caminho do Porto pela estrada velha.



 Ano de 2018, como tinha dito lá atrás, o Rio Simão depois de entrar no túnel da Ponte Carvalha só volta a ver a luz do dia aqui nas traseiras do Museu Municipal.

 Aqui neste local o Rio Simão começa a ter o dobro do caudal, porque como podemos ver recebe as águas do Ribeiro da Igreja. 

 Agora vou voltar para o meu trajecto principal, e vou começar a descer a Rua de São Mamede, estrada nacional 15, antiga estrada real 33.

 Ano de 2018, e começando a descer a Rua de São Mamede vemos que as casas ainda são as mesmas de antigamente.

 Na segunda casa que tem azulejos amarelos antigamente era o Registo Civil, e na terceira que tem azulejos azuis era o Cartório Notarial. 

 Continuando a descer a Rua de São Mamede, logo à frente chegamos ao cruzamento que dá acesso ao Largo do Centenário.



 Ano de 2018, este primeiro cruzamento da rua de São Mamede dá acesso ao Largo do Centenário, no lado esquerdo fica o Café Ribeiro, e no lado direito a casa da Sra. Odete Casimira.

 Esta rua que aqui começa foi aberta em meados século XIX, para fazer uma ligação directa de Valongo a Alfena. 



 Ano de 2018, agora vou entrar neste Largo do Centenário para contar um pouco da sua história.



 A placa existente na entrada do Largo do Centenário.




 Ano de 2018, no topo do Largo do Centenário.




 No topo do Largo do Centenário existe esta placa informativa que conta a sua história. 



 Nesta antiga fotografia vemos um grupo de jovens a descer a Avenida D. Carlos I, que actualmente se chama Largo do Centenário. 




 Ano de 2018, fotografia tirada exactamente no mesmo lugar e com o mesmo enquadramento da foto anterior, na entrada do Largo do Centenário.

 ......Na página 350 do livro A Villa de Vallongo diz o seguinte sobre a Avenida D. Carlos I, que aqui começa:

 ......Avenida D. Carlos I, é a avenida que saindo da Rua de São Mamede segue a estrada de Alfena.

 ......A estrada de Alfena ao entrar na Villa dava tantas voltas como uma linha no bolso, e já se ia a consumar uma obra tão desastrada, quando o Exm. Snr. António Alves de Oliveira Zina, eleito Presidente da Câmara, mandou abrir a nova Avenida que hoje tem este nome.   



 Mesmo no topo do Largo do Centenário fica a antiga escola primária do sexo feminino.

 ......Na pág. 213 do livro A Villa de Vallongo diz o seguinte sobre esta, e outras escolas que foram criadas em Valongo:

 ......Em 1851 foi criada uma aula do sexo feminino, sendo também criadas outras escolas pelas freguesias. 



 Ano de 2018, a antiga escola do sexo feminino já não funciona como escola primária.

 No início do século XX, foi decidido fazer no Largo do Centenário um novo quartel para os Bombeiros Voluntários de Valongo, e um teatro a que foi dado o nome de Theatro Oliveira Zina.



 Um esboço do quartel dos Bombeiros Voluntários de Valongo, e do Theatro Oliveira Zina, que foi edificado no Largo do Centenário.


 Antiga fotografia do Largo do Centenário, onde vemos o quartel dos bombeiros, o Theatro Oliveira Zina, escola do sexo feminino, e vemos a Cabina que foi o primeiro posto de transformação de Valongo.

 Vemos também a casa e os campos do Messona, a casa da Sr. Odete, e o antigo edifício dos Paços do Concelho, mais à esquerda vemos o casario da Rua Sousa Paupério, por onde seguia a Estrada Real 33. 



 Nesta imagem mais ou menos com a mesma vista da fotografia anterior, vemos a Cabina, que foi o primeiro posto de transformação de Valongo, e o antigo quartel dos bombeiros, no Largo do Centenário.



 Ano de 2018, a antiga Cabina no Largo do Centenário ainda cá está.



 Ano de 2018, no Largo do Centenário.




 Em 1907 foi inaugurado o Theatro Oliveira Zina, no Largo do Centenário.



 Antiga fotografia onde vemos 3 senhores a passarem na frente do quartel dos bombeiros, no Largo do Centenário. 



 Antiga fotografia onde vemos uma família na frente do quartel dos bombeiros, no Largo do Centenário.

 Outra antiga fotografia do Arquivo Histórico Municipal de Valongo, onde vemos um grupo de bombeiros na frente do quartel dos bombeiros, no Largo do Centenário. 



 Viaturas dos Bombeiros na frente do quartel, no Largo do Centenário. 



 Viaturas dos Bombeiros na frente do quartel, no Largo do Centenário. 



 Fotografia do ano de 1960, onde vemos a viatura MN-44-81 dos Bombeiros Voluntários de Valongo a participar num cortejo que percorreu o centro de Valongo.



 A viatura MN-44-81 dos Bombeiros Voluntários de Valongo ainda está no activo.

 ......No Jornal de Notícias do dia 23 de Maio de 1916, na altura da pandemia saiu uma pequena notícia sobre o quartel dos bombeiros Voluntário de Valongo, que diz o seguinte:

 ......A delegação da Cruz Vermelha instalada nesta Vila, pediu à direcção dos Bombeiros Voluntários a cedência do seu edifício para no caso de necessidade ser transformado em hospital, pedido a que os Bombeiros acederam.  

 Posteriormente, ainda na primeira metade do século XX, foi decidido ampliar o quartel dos bombeiros, e transformar o Theatro Oliveira Zina numa Sala de Cinema.



 O esboço para a ampliação do quartel dos bombeiros, e transformação do Theatro Oliveira Zina numa Sala de Cinema.

 Esta alteração implicou que a bonita abobada do teatro fosse demolida, para que o lado direito ficasse igual ao lado esquerdo, com mais um piso onde ficou o balcão e a máquina de projecção do cinema.



 Esta segunda alteração efectuada no edifício dos bombeiros e no Theatro Oliveira Zina feita durante a primeira metade do século XX, constou do seguinte:

 Na ala esquerda foi acrescentado um piso, onde ficaram os dormitórios e todas as outras instalações de apoio para os bombeiros. 

 Na ala central, ficou a porta de entrada para a Sala de Cinema, no piso térreo existia um bar de apoio ao geral e à plateia, e daí partia uma escadaria para o piso superior, onde existia um amplo bar, e a entrada para o balcão e para a sala da máquina de projecção.

 A ala direita que era a mais bonita foi a que mais sofreu, a bonita abobada envidraçada do Theatro Oliveira Zina, foi substituída por um piso para poder funcionar como Sala de Cinema, no piso térreo as três primeiras filas de cadeiras eram o geral, e depois era a plateia, no piso superior ficava o balcão e  a máquina de projectar.

 ......Mas entretanto o que foi acontecendo com este edifício dos bombeiros:

 Com o passar dos anos, os Bombeiros Voluntários mudaram-se para um novo quartel na Avenida do Calvário.

 A sala de cinema, e o café ainda ficaram a funcionar durante algum tempo, mas depois com o aparecimento de dezenas de salas de cinema nos centros comerciais, o cinema de Valongo também acabou por fechar portas.




 Nessa altura o edifício ficou fechado e abandonado durante alguns anos, e claro entrou em decadência.



 O edifício ficou completamente abandonado e começou a ser vandalizado.



 Ano de 2018, mas como se costuma dizer, não à mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe, e o novo executivo camarário no cumprimento de uma promessa eleitoral, já começou com a restauração deste edifício, que vai ser transformado num pólo de desenvolvimento para o Concelho de Valongo. 

 O antigo edifício dos Bombeiros, e do Theatro Oliveira Zina, vai passar a ser a Oficina da Regueifa & do Biscoito de Valongo.



 Ano de 2018, como podemos ver as obras no antigo edifício dos bombeiros, lá vão continuando a bom ritmo, já só existe a fachada que está escorada para não cair.



 Ano de 2018, as obras lá vão continuando, agora já não existe o perigo da fachada desabar, o edifício já começa a tomar forma.



 Ano de 2020, e finalmente o antigo edifício dos bombeiros já está concluído, só falta ser inaugurado parabéns.



 Ano de 2020, e cá está a Oficina da Regueifa & do Biscoito de Valongo.

 Actualmente o Largo do Centenário está destinado a todo o tipo de festas, e eventos que se realizam em Valongo.




 O Natal no Largo do Centenário.



 O Natal no Largo do Centenário.



 O Natal no Largo do Centenário.



  Nesta antiga fotografia vemos um grupo de pessoas a subir o Largo do Centenário, ainda conheci este largo assim com o fontanário que se vê no lado esquerdo.

 Lá ao fundo já na Rua de São Mamede, vemos a Capela de São Bruno, e o antigo Edifício dos Paços do Concelho, e no topo do edifício mais à esquerda vemos uma bonita clarabóia, que conforme veremos na fotografia seguinte infelizmente já não existe.



 Ano de 2018, fotografia tirada no mesmo local e com o mesmo enquadramento da foto anterior.

 Lá ao fundo na Rua de São Mamede vemos a Capela de São Bruno e o antigo Edifício dos Paços do Concelho, que agora é o Museu e Arquivo Municipal de Valongo, mas a bonita clarabóia do edifício mais à esquerda já não existe. 

 Agora vou deixar definitivamente o Largo do Centenário, e vou voltar para a Rua de São Mamede, estrada nacional 15, que era a antiga estrada real 33.



 Nesta antiga fotografia da Rua de São Mamede, vemos a Capela de São Bruno, e o antigo edifício dos Paços do Concelho de Valongo.



 Agora nesta antiga fotografia, vemos como era o movimento de pessoas na Rua de São Mamede nos finais do século XIX.

 Esmiuçando esta fotografia, começando no lado direito vemos o antigo edifício dos Paços do Concelho, que hoje é o Museu e Arquivo Histórico Municipal, depois a seguir vemos uma Casa Apalaçada, de que falarei mais à frente.

 No lado esquerdo, vemos a casa da Sra. Odete Casimira, e lá ao fundo já na Praça Machado dos Santos, vemos a casa do Sr. João Amaro.



 O antigo edifício dos Paços do Concelho e a Capela de São Bruno, são actualmente o Museu e Arquivo Histórico de Valongo.

 ......No livro A Villa de Vallongo, este edifício é citado muitas vezes, por isso vou pôr aqui um pequeno excerto que tem o titulo:

  ......O Cerco do Porto e o Rei D. Miguel em Vallongo.



 ......O Rei D. Miguel a quem não tinham talvez agradado os sucessos da guerra quis com a sua presença animar suas tropas, e, planeado o cerco do Porto, vir dirigi-lo em pessoa ou conhecer mais de perto a traição de seus generais, e com este fim, deixando Lisboa para nunca mais lá entrar, veio com um grande exército sobre o Porto.



 ......Chegando às vistas da cidade, atravessou o Rio Douro em Campanhã.



 ......E, seguindo por São Cosme e Fanzeres, entrou pelo Monte Alto em Vallongo, onde acampou com a sua gente a 5 de Novembro de 1832, e se conservou por espaço de 2 meses hospedado com suas irmãs em casa de Bernardo Martins das Neves, casa onde hoje estão estabelecidos os Paços do Concelho.

 ......O Rei Dom Miguel em Vallongo era o encanto de toda a gente, principalmente da gente Miguelista que era em maior numero e quase o adorava como um Deus, recebendo-o no meio das maiores aclamações de entusiasmo e saudações de simpatia.

 ......Nas ruas por onde ele passava, dizem os nossos velhos, reunia-se o povo em grandes multidões que soltavam delirantes vivas ao Snr. Dom Miguel Rei absoluto.

 ......E realmente, além da beleza de Príncipe, este Rei, embora muito inconstante, tornava-se simpático pelo seu caráter bondoso, afável e acessível a todos com quem tratava, as manchas da sua vida politica, estamos certos d'isso, são mais resultado das sugestões de apaixonados conselheiros do que fruto das suas intenções que eram boas...... 



  Ano de 2018, fotografia tirada no mesmo local e com a mesma vista da foto anterior, no cruzamento da Rua de São Mamede com o Largo do Centenário.

 Esmiuçando esta fotografia, no lado direito ainda vemos a Capela de São Bruno, depois a seguir temos o antigo Edifício dos Paços do Concelho, a seguir no lugar da Casa Apalaçada infelizmente agora vemos um edifício envidraçado, que está destinado ao comércio.

 Ainda esmiuçando a fotografia acima, começando no lado esquerdo, vemos a casa da Sra. Odete Casimira que agora é um restaurante, lá ao fundo já na Praça Machado dos Santos vemos o edifício do Sr. João Amaro, que agora pertence ao filho, o Dr. João Loureiro.



 Na entrada do antigo edifício dos Paços do Concelho, existe esta placa informativa que conta a sua história.



 Na Rua de São Mamede, logo a seguir ao edifício dos Paços do Concelho existia este Edifício Apalaçado que eu ainda conheci, mas infelizmente ele foi demolido em 1960 para dar lugar a uma área comercial, conforme mostrarei.



 Nesta antiga fotografia onde vemos um exercício dos bombeiros na Rua de São Mamede, ainda conseguimos ver o antigo Edifício Apalaçado. 

 Tenho que confessar que quando comecei a escrever esta publicação, não fazia a mais pequena ideia sobre qual seria a origem deste Edifício Apalaçado.

 Para mim a origem deste edifício era uma grande incógnita, não sabia se ele teria sido a casa de habitação de alguém importante, ou se teria sido sempre um edifício destinado ao comércio, por isso resolvi investigar, para ver se alguém saberia qual a sua origem.

 ......Claro que só perguntei a pessoas mais velhas do que eu, e de cada uma das pessoas a quem perguntei fui sabendo mais coisas sobre esse antigo edifício.



 ......Por exemplo o Francisco Pires disse-me que o seu tio Manuel tanoeiro, antes de se mudar por volta de 1960, para a reta do Araújo, tinha a tanoaria nesse edifício.



 ......O Zé Alves disse-me que havia lá um sapateiro, que era o Sr. Pardal.



 ......O Zé Alves também me disse que a loja de fruta do pai do Sr. Rocha era nesse edifício, só depois, por volta de 1960 é que se mudou para o outro lado da rua.

 ......Mas não estava a ser uma tarefa fácil saber qual a origem deste edifício apalaçado,  estava mesmo quase a desistir, já estava a ficar cansado de fazer perguntas.

 ......Mas como costumo dizer não à mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe, e aconteceu aquilo com que eu já não esperava, no mesmo dia duas pessoas disseram-me sem qualquer hesitação, esse edifício era a Casa das Carruagens.



 A partir do momento que me disseram que aquele edifício era a casa das carruagens, a minha tarefa tornou-se fácil porque no livro A Villa de Vallongo, diz que em Valongo tinham existido duas Alquilarias com boas Carruagens.

 ......Na página 396 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre os serviços que existiam em Valongo no século XIX:

 ......Vallongo possui de tudo, tem estabelecimentos de primeira ordem, mercearia, lojas de fazendas, de panos e de ferragens.

 ......Possui restaurantes, hotéis, cafés elegantemente montados, possui depósitos, armazéns de trigo e farinhas, possui duas pharmácias, ourivesarias, louçarias, bijouterias, e possui duas Alquilarias com boas Carruagens.



 ......Uma das pessoas que me deu a informação sobre a Casa das Carruagens foi o meu tio António, ele nasceu em Valongo no ano de 1924, ele sabe esta, e muitas outras coisas sobre como era Valongo noutros tempos, porque o pai lhe contava, o pai era das poucas pessoas que tinha uma edição  ainda escrita em fascículos separados, antes do Padre Joaquim publicar o livro A Villa de Vallongo.

 ......O meu tio António contou-me a mim e ao Xico Pires, que o ultimo dono desse edifício da Casa das Carruagens era conhecido em Valongo como o Zé dos cães, e ainda nos contou muito mais coisas sobre este senhor que seria muito mau.

 No piso superior dessa alquilaria de carruagens na Rua de São Mamede era uma hospedaria, onde os viajantes vindos de Trás-os-Montes e Alto-Douro pernoitavam antes de partirem para o destino final da viagem, que seria a cidade do Porto, ou Vila Nova de Gaia.



 No tempo em que as carruagens passavam por Valongo, o centro devia ser muito movimentado, com a azafama de carregar e descarregar bagagens, e com a chegada e partida das carruagens.



 Na altura uma viagem de carruagem de Valongo até ao Porto seguindo pela estrada velha devia levar um dia, por isso os viajantes faziam uma ultima paragem aqui em Valongo, para descansarem, comerem alguma coisa e vestirem uma roupinha melhor, para a chegada ao destino final, que seria o Porto e Vila Nova de Gaia. 



 Outra alquilaria de carruagens.




 Mas a passagem por Valongo dos Comboios da Linha do Douro, veio acabar com todo esse movimento e azafama que existia devido à passagem das Carruagens mesmo pelo centro da vila.



 ......Na página 223 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre a passagem da linha férrea do Douro por Valongo:

 ......A 29 de Julho de 1875 inaugura-se a linha férrea do Douro entre Ermesinde e Penafiel, a qual passados alguns anos até tem contribuído para um grande desenvolvimento de Valongo, embora por algum tempo tenha sido um golpe de morte para o nosso comércio e industria.

 ......Porque até ao aparecimento do Comboio, era por Vallongo que passavam todas as mercadorias e passageiros que do Alto Douro e terras de Trás-os-Montes desciam para o Porto, seguiam a estrada real nº 33, que d’essa cidade ia a Penafiel, Amarante, Régua, Chaves e Bragança até à Hespanha.

 ......E todos os dias n’esta terra atravessava uma multidão imensa de povo de todas as condições e estados, almocreves, estafetas, carroças, liteiras com malas postais, que aqui descansavam, comiam, compravam e vendiam, constituindo aqui um centro de comercio que muitas vezes fez a felicidade de bastantes famílias. 

 ......Era o que fazia dizer aos nossos pais, que à beira da estrada vendendo iscas de dez réis e meios quartilhos de vinho, pode-se arranjar bem a vida.

 ......E podia, porque a primeira estância para refresco dos viandantes, depois da saída do Porto, era Vallongo, onde também os transeuntes se muniam do afamado pão, quando iam para aquela cidade.

 ......A passagem do caminho de ferro por Vallongo com tudo isto acabou, e, se não fossem os elementos de vida que esta terra possuía em si, graças ao seu comércio e exploração das riquezas do seu solo, talvez estivéssemos a registar na história o decréscimo ou desaparecimento de uma povoação importante, vitima das maravilhas do progresso.

 ......Mais tarde as coisas começaram melhorar, e hoje, em 1904, já o caminho de ferro é fonte de bastantes bens para esta terra, sendo o seu movimento dos de maior escala que se realizam em toda a linha do Douro.   

 ......A estação de Vallongo tem quatro vias, duas para passagem dos comboios ordinários, e outras duas para resguardo dos wagons, que continuamente ali demoram a carregar e descarregar mercadorias.

 ......Para depósito e arrecadação dessas mercadorias à dois cais, um coberto e fechado e outro descoberto, bem como um crescido numero de empregados para bom desempenho do serviço. 

 Mas agora voltando novamente para o meu trajecto histórico, para a Rua de São Mamede, EN 15, antiga estrada real 33.   


 Ano de 2018, onde agora vemos este edifício envidraçado, antigamente ficava o Edifício Apalaçado que era uma das duas Alquilarias de Carruagens que existiam em Vallongo.


 Ano de 2018, uma família de Valongo guardou algumas pedras, desse edifício da antiga Alquilaria de Carruagens, que depois utilizou para fazer uns bancos de jardim.

 Pelo bonito trabalhado das pedras com volutas que existiam nos corrimãos, podemos imaginar a beleza que o edifício devia ter.



 Corrimãos de escadarias feitos em granito com volutas.




 Mas continuando a descer a Rua de São Mamede, logo a seguir à Alquilaria de Carruagens, ficava o Hotel Central.


 O antigo Hotel Central, esta fotografia deve ser do tempo em que as carruagens, e toda a gente ainda passava pelo centro de Valongo a caminho do Porto.

 Este edifício do antigo Hotel Central foi preservado até aos dias de hoje, ainda o conheci como pensão e restaurante, cheguei a almoçar lá algumas vezes.



 Ano de 2018, como está o antigo Hotel Central na Rua de São Mamede, actualmente está destinado ao comércio. 



 Ano de 2018, nesta fotografia vemos a procissão de São Mamede, que é o Santo padroeiro de Valongo, a passar no edifício do antigo Hotel Central, na Rua de São Mamede.



 Mesmo em frente ao Hotel Central, no outro lado da rua existia a loja da Fábrica de Bolachas e Biscoitos Paupério.


 Ano de 2019, no lugar da loja de biscoitos Paupério, actualmente está a loja Porta da Sorte.

 No piso superior deste edifício ainda está o Clube Recreativo de Valongo, que já fez 117 anos, depois à direita ainda continua a ser uma loja de fruta, mas já não pertence ao Sr. Rocha, no piso superior já não existe o Sindicato dos Mineiros, e no último edifício ainda continua a ser o Café Vale.

 Ano de 2018, actualmente a loja de biscoitos Paupério fica no mesmo edifício da fábrica, na Rua Sousa Paupério.



 Antiga fotografia da Rua Sousa Paupério, onde vemos a Fábrica de Bolachas e Biscoitos Paupério.


 A fábrica Paupério publicou um livro onde é contada toda a história da formação da sociedade Paupério & Companhia, no ano de 1874.


 Nesse livro da fábrica Paupério é contada a história da vida dos dois sócios fundadores da Paupério & Companhia.



 Fábrica Paupério a fazer bolachas e biscoitos desde o ano de 1874. 



 No mesmo edifício onde existia a loja de biscoitos Paupério, abriu a loja de bolachas e biscoitos Aguiar.



 Ano de 2018, a loja de bolachas e biscoitos Aguiar manteve-se no mesmo lugar até hoje, só desapareceu a balança que estava no lado esquerdo.



 Antiga fotografia da Rua de São Mamede, vemos o grande movimento de pessoas neste troço de rua, era aqui neste local que paravam as carruagens antes de ter sido inaugurada a linha férrea do Douro.



 Ano de 2018, como está actualmente a Rua de São Mamede, o movimento de pessoas é quase inexistente, existem é muitos carros, os edifícios foram sendo restaurados, mas como se vê ainda são quase todos os mesmos de antigamente.



 Considero esta fotografia muito importante, porque é anterior à abertura da Avenida do Calvário.



 Ano de 2018, fotografia tirada no mesmo local e com a mesma vista da foto anterior.

 Podemos ver o inicio da Avenida do Calvário, que como contarei mais à frente estava projectada desde 1894, mas só ficou concluída em 1960.



 Ano de 2018, a rotunda onde começa a Avenida do Calvário.



 O Café Vale e o restaurante Vale, foram os primeiros edifícios construídos quando foi aberta a Avenida do Calvário, que como podemos ver nesta fotografia ainda estava em terra batida.

 Quando comecei a frequentar a escola primária do Calvário, no ano de 1960, a avenida tinha acabado de ser aberta, ainda estava assim em terra batida.



 Durante muitos anos os terrenos no início da Avenida do Calvário estiveram a monte, era aí que era montado o Circo, e os carrosséis em dias de festa.



 Ainda me lembro bem da actuação do trapezista Carlos Avelino, aqui no início da Avenida do Calvário.

 Montaram duas torres muito altas, uma lá em cima mais ou menos onde hoje é a rotunda da câmara e a outra cá em baixo em frente ao café Vale, depois ele em conjunto com o irmão faziam o percurso entre elas em cima de um cabo d’aço, fazendo o equilíbrio com uma vara, primeiro faziam o percurso com os pés, e depois com uma mota.



 Mas depois como este local era muito valioso em termos construtivos, acabaram por fazer aqui um centro comercial, onde está instalada a Caixa Geral de Depósitos, e perdemos este magnifico espaço de diversão.



 Nesta fotografia vemos como era o local onde agora temos a Caixa Geral de Depósitos, antes da Avenida do Calvário ser aberta, vemos no lado direito a Drogaria do Cáleiro.



 Nesta antiga fotografia vemos como era sombria esta rotunda do Café Vale, onde começa a Avenida do Calvário.



 Ano de 2018, vou agora subir a Avenida do Calvário, até lá acima à Capela do Calvário.

 ......Na página 266 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre a Capela do Calvário e sobre o início da construção desta Avenida do Calvário:

 ......Em 1894 a expensas do Exm. Sr. José Gonçalves de Oliveira Reis, foi esta Capella do Senhor do Calvário transformada n'um magnifico santuário dourado, pintado a fresco, e cercada por um jardim vedado por um gradeamento de ferro, sendo também aberta uma avenida arborizada que, quando completa, virá sair à Praça Dom Luiz I, e dará ao lugar enorme importância.....

 Como podemos ler nesta passagem do livro A Villa de Vallongo, a Avenida do Calvário terá começado a ser construída em 1894, mas só foi concluída em 1960.



 Ano de 2018, a meio da Avenida do Calvário temos uma segunda rotunda, que dá acesso ao edifício da Câmara Municipal de Valongo.

 Esta avenida tem menos de 1 km, mas na altura em que foi aberta foi uma obra muito importante para Valongo, a obra terá começado em 1894, depois como conto a seguir a obra foi reactivada em 1936, mas na realidade a Avenida do Calvário só ficou foi concluída em 1960.

 ......No Jornal Comemorativo do 1º Centenário da Fundação do Concelho de Valongo tem uma entrevista sobre a realização desta obra da Avenida do Calvário, que fazia parte de um grandioso programa de obras que a Câmara de Valongo pretendia levar a cabo no ano de 1936.

 ......A seguir ponho um excerto dessa extensa entrevista concedida pelo Administrador do Concelho de Valongo, Exº Sr. João Lino de Castro Neves, que na Câmara ocupava o lugar de vereador de obras na sede do concelho, e era um dos mais acérrimos defensores do novo plano de melhoramentos, que a Câmara de Valongo pretendia levar a cabo:

 ......Pergunta o jornalista: para quando está prevista a abertura da a Avenida do Calvário?

 ......Resposta: a Avenida do Calvário muito em breve deve ser um facto consumado, já se procedeu ao levantamento da sua planta, afim de pedir a comparticipação do Estado para essa grande obra, que é o sonho de todos os Valonguenses.

 ......Pergunta: saberá Vossa Exª dizer-nos há quantos anos se pensa nela?

 ......Resposta: com rigorosa precisão não poderei dizer, mas já foi planeada pelo Sr. Oliveira Zina, muitos anos antes da Grande Guerra, (primeira guerra Mundial, de 1914 a 1918).

 ......Pergunta: e a planta que Vossa Exª mandou levantar segue o mesmo traçado que planeou Oliveira Zina, ou foi modificado?

 ......Resposta: nunca conheci planta alguma desse projecto de Oliveira Zina, nem mesmo depois de a haver procurado pelos arquivos da Câmara a encontrei, pelo que me leva a pensar que tal planta nunca existiu.

 ......Pergunta: como será a futura Avenida do Calvário?

 ......Resposta: pela planta agora levantada, trata-se de uma Avenida de 22 metros de largura, devidamente arborizada, terá uma placa central com jardins, duas ruas paralelas de 7 metros de largura, com pavimento alcatroado, uma para o sentido ascendente, e outra para o sentido descendente, com os respectivos passeios em granito e cimento quadriculado. 

 ......Pergunta: deve ficar uma obra muito linda, mas, de realização muito dispendiosa!

 ......Resposta: assim é de facto, deve ser de futuro a sala de visitas desta Vila e será o passeio favorito de todos os Valonguenses, quanto à realização, tenho esperanças de a conseguir com a comparticipação do Estado. Principiarei por pedir a comparticipação para o seu rompimento naquela largura, desde a Praça Machado dos Santos até à Capela do Nosso Senhor do Calvário. Depois mais tarde, procederemos à respectiva pavimentação, passeios, arborização, etc, etc.

 ......Pergunta: quando poderemos ver concluída essa obra? 

 ......Resposta: tenho fé que há-de ser muito brevemente. O nosso concelho contribui com uma verba importante para o Fundo de Desemprego e poucos benefícios tem recebido.

 ......Apenas a freguesia de Ermezinde tem realizado algumas obras com a comparticipação do Estado, por isso, Valongo tem direito e confiança no auxílio do Estado Novo para a realização destas obras.

 ......Além da planta desta Avenida seguem conjuntamente a das ruas transversais, uma paralela ao Teatro e a outra a partir das novas casas da Avenida 10 de Outubro, que terão 10 metros de largura e que pelo seu pequeno dispêndio devem ter execução imediata.

 Ao ler esta entrevista do Administrador de Valongo, no ano de 1936, ficamos com uma ideia da importância que a execução desta obra da Avenida do Calvário tinha para a Vila de Valongo.

 Mas apesar do Administrador de Valongo ter dito em 1936, que tinha fé que a Avenida do Calvário estaria para breve, a obra só foi concluída no ano de 1960.



 Ano de 2018, quase no cimo da Avenida do Calvário temos a terceira rotunda, que dá acesso à que era a única escola primária masculina de Valongo.



 Andei nesta escola primária do Calvário da 1ª à 4ª classe, de 1960 até 1965.



 Ano de 2018, mesmo no topo da Avenida do Calvário fica a Capela do Senhor do Calvário.

 ......Na página 265 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre esta Capela do Senhor do Calvário:

 ......A Capella do Senhor do Calvário existe desde tempos antigos no Lugar de Valga, um monte com o nome de Calvário, como se encontra em muitas freguesias, sobre o qual repousavam três cruzes.

 ......Essas cruzes descobertas e nuas viram passar os séculos, abençoando os povos, que de longe as saudavam com fé, e carcomidas pela acção do tempo, ficavam silenciosas e tristes cheias de poesia e encanto a estender os braços para as povoações de Vallongo e do Susão, no meio das quais se encontravam adoradas e amadas pelos crentes de todas as idades...... 



  Ano de 2018, a Capela do Senhor do Calvário.

 ......Na página 266 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre esta Capela do Senhor do Calvário:

 ......Quando em 1809 aqui estiveram os Francezes, foi tão grande o horror com que os habitantes de Vallongo lhes ficaram que, ouvindo-se falar da terceira invasão, um individuo chamado João Monteiro Maia prometeu fazer n'esse lugar uma Capela, se esta terra não fosse assolada pelos estrangeiros e o reino de Portugal restaurado dos invasores.

 ……Deus terá aceitado este pedido, pois que perseguidos e vencidos os soldados de Massena tiveram de fugir vergonhosamente derrotados sem que chegassem a Vallongo

 ......Pelo que em 1813 foram lançados os fundamentos d'esta capelinha, que foi depois ampliada e restaurada em 1871, por uma subscrição aberta entre os nossos patrícios do Brasil, e esforços incansáveis do Exm. Sr. Cypriano de Castro Neves, que desde essa época até hoje exerceu com muito zelo as funções de tesoureiro......



 Ano de 2018, a Capela do Senhor do Calvário.

 ......Na página 267 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre esta Capela do Senhor do Calvário:

 ......A Capella possui uma imagem de Jesus Crucificado de rara perfeição, as imagens de São Roque e São Francisco em ponto mais pequeno e n'ella está instalada a confraria de Nosso Senhor da Restauração que já em tempo teve grande brilho e explendor.

 ......Os irmãos apresentavam-se nas procissões com seus hábitos, que eram vermelhos e de capa azul, levando na frente um estandarte na forma de triângulo, que ainda existe e abre a procissão da festa que se faz no quarto Domingo de Agosto de cada anno. 

 ......Há muitos anos, dizem que desde o tempo dos Francezes aparece nas vizinhanças d'esta Capella uma luz que tem sido vista por muita gente e até contam já dera bofetadas e praticara outras cousas de meter medo.

 ......Ora amortecida, ora brilhante, corre, levanta-se em fogueira iluminando a grande distancia, acerca d'ella vogam entre o povo disparatadas crendices, chamando-se-lhe alma do outro Mundo......

 Continuando a fazer a minha viagem histórica pelo centro de Valongo, saindo da Avenida do Calvário, chego à Praça Machado dos Santos, que no século XIX se chamava Praça Dom Luiz I.



 Ano de 2018, a rotunda da Praça Machado dos Santos.

 A primeira casa no lado esquerdo é do Sr. João Amaro, casa que actualmente pertence ao filho o Dr. João Loureiro.



 Nesta antiga fotografia da Praça Dom Luiz I em dia de festa, vemos o grande movimento de pessoas que existia nesse tempo no centro de Valongo, a casa que se vê no lado esquerdo é do Sr. João Amaro.

 Esta é das fotografias mais antigas de Valongo, porque conforme podemos ler em várias passagens, no ano de 1890 esta praça foi objecto de obras, onde foram removidas as casas, as cercas, e a Capela da Senhora das Neves, que ainda se vêem no meio da praça.

 A casa do Sr. João Amaro deve ser muito antiga, porque aparece em todas estas antigas as fotografias, no piso térreo desta casa existia uma taberna, café, onde os viajantes paravam para comer.

 O João Loureiro, filho do Sr. João Amaro lembra-se de quando ainda criança ver as cadeireiras pararem aqui ainda de madrugada, para tomarem o pequeno almoço, e depois seguirem a caminho do Porto, carregadas com as cadeiras à cabeça. 



 Fotografia da primeira metade do século XX, da casa do Sr. João Amaro, na Praça machado dos Santos. 



 Nesta antiga fotografia vemos uma procissão a passar na Praça Machado dos Santos. 



 Ano de 2018, como está a casa do Sr. João Amaro na Praça Machado dos Santos.



 Durante o Século XIX a Praça Machado dos Santos chamava-se Praça Dom Luiz I, este nome terá sido atribuído à praça em homenagem ao Rei Dom Luiz I, por dois motivos:

 ......O primeiro motivo, terá sido porque foi por autorização do Rei Dom Luiz I, que foi adquirido pela quantia de três contos e quatrocentos mil réis, o edifício onde ficaram instalados os Paços do Concelho, até ao ano de 1989.

 ......O segundo motivo, foi porque pouco tempo depois o próprio Rei Dom Luiz I, em companhia da Rainha Dona Maria Pia, vieram fazer uma visita a Vallongo no ano de 1871.

 ......Na página 222 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre essa visita Real a Valongo, no ano de 1871:

 ......Pouco depois veio aqui Sua Majestade D. Luiz I com a Rainha Dona Maria Pia, facto que deu a Vallongo uma grande importância e ficou gravada na memória de toda a gente, pelos grandiosos festejos que por essa ocasião se realizaram.

 ......A câmara municipal e demais autoridades incorporadas, foram esperar o Rei à Serra, e nos Paços do Concelho houve sessão solene em honra dos soberanos.

 ......Fala-se ainda com grande espanto dos gigantescos e embelezados arcos que em muitos lugares da passagem do cortejo foram feitos e deram aos festejos um admirável esplendor......

 Esta visita do rei D. Luiz I, e da Rainha Dona Maria Pia, aconteceu 4 anos antes da inauguração da linha férrea do Douro, por isso eles terão vindo de carruagem pelo Alto da Serra de Valongo, para onde o povo de Valongo os foi esperar.  

 ......Na página 368 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre a praça D. Luiz I: 

 .....Praça D. Luiz I, é a antiga Praça de Nossa Senhora das Neves que já existia em 1594 com o nome de Campo de Nossa Senhora da Luz, documentos existentes no Archivo Parochial de Penafiel já falam neste Campo de Nossa Senhora das Neves a 10 de Março de 1594.

 ......Esta praça seria pouco habitada então, estendia-se desde as casas da Rua da Ferraria até à Capela da mesma denominação, que ocupava pouco mais ou menos o ângulo sudoeste do recinto, que está actualmente fechado pelas grades.

 ......Em 1864 a Câmara Municipal resolveu retirar a Capela do centro do largo para uma das extremidades, e, construir aí uma praça fechada e um chafariz, para o que pediu a quantia de 2000 mil réis com a condição de amortizar pelo menos 200 réis por ano, ver sessão da Câmara de 3 de Novembro de 1864.

 ......Mas essa obra acabou por só ser realizada no ano 1878, continuando porém o largo a chamar-se Largo de Nossa Senhora das Neves.

 ......Foi só no ano de 1890, que sendo Presidente da Câmara o Exm. Sr. António de Oliveira Zina, se mudou o nome desta praça, para Praça D. Luiz I......



 Nesta antiga fotografia que está na página 178 do livro A Villa de Vallongo, vemos como era grande o movimento na Praça Dom Luiz I em dia de feira.

 Como vemos nesta altura ainda existiam casas no meio da praça, existia uma fonte com chafariz, e cercas metálicas, no tempo desta fotografia o traçado da Estrada Real nº 33 ainda não se fazia por aqui.

 Neste tempo esta ainda era uma praça fechada, o traçado da Estrada Real nº 33 era pela Rua de São Mamede, depois seguia pela Rua da Ferraria, e continuava depois pela Rua do Padrão.



 Quando das obras na praça no ano de 1890 a fonte de água com chafariz foi desmontada, e depois montada nas traseiras da Capela de Santo Sabino (Capela velha), na Santa Justa, mas entretanto como estava mesmo no meio do caminho acabou por ser retirada, e não sei qual o seu destino.

 Na fotografia da Praça D. Luiz I acima, que é do livro A Villa De Vallongo, podemos ver na segunda casa a começar da esquerda um reclame.

 Esse reclame é da drogaria Noé, portanto posso dizer com alguma certeza que esta drogaria já vai a caminho de um século e meio.



 Fotografia anterior a 1903, onde vemos uma procissão a passar pela drogaria do Noé na Praça Machado dos Santos, nesta foto já podemos ver perfeitamente o reclame da drogaria Noé.

 Onde diz, Loja de Tabacos, de Ferragens e Manufacturados, podemos ver também que o edifício da drogaria Noé ainda tem o pé direito mais baixo do que o edifício à sua direita. 



 Digo que a fotografia acima é anterior a 1903, porque foi nesse ano que foram feitas umas grandes obras no edifício, e só a partir daí ele passou a ter o pé direito igual ao dos edifícios à sua direita, como se pode ver na fotografia abaixo.



 Ano de 2018, como podemos ver nesta fotografia a drogaria do Noé agora já tem o pé direito igual aos edifícios à sua direita.



 Ano de 2018, como vemos actualmente a drogaria do Noé tem o pé direito igual aos edifícios à sua direita.



 Ano de 2018, todo o mobiliário, expositores, balcões e soalho da drogaria do Noé, ainda são de 1903.



 Ano de 2018, a drogaria do Noé mantém-se inalterada desde 1903.



 Ano de 2018, ainda a drogaria do Noé.

 O centro da Praça Machado dos Santos, antiga Praça D. Luiz I, foi sofrendo diversas alterações ao longo dos anos, mas os edifícios à volta da praça embora tenham sido restaurados, mas ainda são praticamente os mesmo. 



 Nesta antiga fotografia da Praça Machado dos Santos, que é posterior às alterações feitas na praça no ano de 1890, vemos que todas as casas já foram removidas do meio da praça, e que a Capela da Senhora das Neves também já foi removida do meio da praça.

 Nesta altura foram plantadas árvores no centro da praça, essas árvores foram crescendo e já estavam gigantes, mas como veremos, com as várias alterações que foram acontecendo ao longo dos anos, as árvores foram sendo abatidas, e actualmente já não resta nenhuma das árvores originais.

 Lá ao fundo por trás das árvores vemos a casa que para mim é a mais bonita da praça.



 Ano de 2018, fotografia tirada na entrada da Praça Machado dos Santos, com a mesma vista da foto anterior.

 Actualmente a praça está bastante mais ocupada, tem paragens de autocarro, tem um quiosque, voltou a ter uma fonte de água, e bancos de jardim.

 Mas os edifícios que rodeiam a praça ainda são os mesmos de sempre, e muitos ainda pertencem às mesmas famílias de antigamente, lá ao fundo vemos a casa que considero mais bonita da praça. 



 Outra antiga fotografia da Praça Machado dos Santos, que estimo seja de 1950.

 Digo que a fotografia acima deve ser de 1950, porque no meio das árvores vemos o rinque de patinagem, e foi nesse ano de 1950 que nasceu a equipa de hóquei em patins do Valongo, a Associação Desportiva de Valongo, ainda conheci esta praça assim toda em terra batida com o rinque no meio.

 Anos mais tarde, na década de 1970 a Câmara de Valongo fez um pavilhão lá em cima no Calvário, nessa altura foi retirado o rinque de patinagem do meio da praça, e no seu lugar fizeram este bonito lago com peixes e patos.



 Como era a Praça Machado dos Santos na década de 1970, com o lago no meio.



 Década de 1970, como era bonito o lago dos patos na Praça Machado dos Santos, mais tarde foi adjudicado pela Câmara Municipal de Valongo ao Sr. Belchior, o projecto e a montagem de uma fonte luminosa no meio do lago.

 Ainda o ajudei a fazer a montagem desta fonte, mas a fonte como todos os projectos veio a dar alguns problemas, ainda me lembro de todos os problemas da fonte, e como foram resolvidos.

 O Sr. Belchior era um indivíduo muito inteligente, ele morava com o irmão na casa ao lado do Café Bela Cruz, na Praça Machado dos santos.

 Era amigo do Sr. Belchior, parávamos ambos no café Bela Cruz, e trocávamos opiniões sobre muitos projectos que ele tinha em mente, ele andava sempre a mil, andava sempre a trabalhar em algum projecto, ele desenvolveu inúmeras máquinas para a industria da Ardósia. 



 Por exemplo na minha opinião esta máquina de afiar penas para a indústria da ardósia, totalmente desenvolvida e fabricada pelo Sr. Belchior era digna de estar no Museu da Lousa.



 Gostava muito do Sr. Belchior, ele foi um grande projectista, projectou inumeras máquinas para a Industria da Ardósia.



 Esta fotografia que estimo tenha sido tirada por volta de 1960, na Praça Machado dos Santos,  para mim é muito importante, pela quantidade de informações que consigo retirar, e pelas muitas recordações que me trás.

 Nesta fotografia vemos à porta da sua casa, a dona Rosa Maria (a Mi) que vivia por cima da taberna do Verdinho, depois estão 4 meninas que são a Isabel Maria (a Bé), depois está a Dilma do Noé, depois a Maria das Dores (a Dores) e seguir a Maria Antónia (a Tona).

 Por trás das meninas estão as bancas da loja de fruta da Sra. Eulália, depois vemos um cão parado junto à Loja da Singer, onde trabalhava a Teresa da Singer.

 Por cima da Singer ficava a Foto Veneza, vemos o reclame da máquina fotográfica ADOX, depois vemos várias pessoas na entrada do Café Bela Cruz, café que eu frequentava, a seguir ficava a casa onde morava o Sr. Belchior, e depois era a casa e a taberna do Pires.



 Ano de 2022, actualmente a Praça Machado dos Santos está totalmente diferente, já não existe o rinque, nem o lago dos patos, e também já não existe uma única das antigas árvores, está uma tristeza, até tenho pena do estado a que chegou.

 Só mesmo os edifícios que rodeiam a praça é que ainda são os mesmos, no lado esquerdo vemos o edifício do Sr. João Amaro, e no lado direito vemos a cruz da Capela de Nossa Senhora das Neves. 



 Ano de 2018, para mim este é o edifício mais bonito da Praça Machado dos Santos.



 Ainda me lembro que na década de 1960, era aqui na Praça Machado dos Santos que parava a carrinha da biblioteca itinerante da Calouste Gulbenkian.



 Foi nesta carrinha da Gulbenkiam que comecei a requisitar os primeiros livros, à noite a carrinha ficava guardada na garagem do Varela.



 Mais tarde a biblioteca da Calouste Gulbenkian passou a ter instalações fichas em Valongo, a biblioteca ficou instalada na Capela de São Bruno, também aí requisitei muitas dezenas de livros. 



 Foi aqui na Capela de São Bruno, na Rua de São Mamede que foi instalada a biblioteca fixa da Calouste Gulbenkian, o responsável era o Francisco Pires, actualmente esta capela faz parte do Museu e Arquivo Histórico de Valongo.

 ......Na página 264 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre esta Capela de São Bruno:

 ......A Capela de São Bruno, de cuja fundação não se pode bem precisar a data, não parece ser muito antiga, porque o Padre Carvalho que escreveu em 1706, no tomo primeyro que ofereceu a El-Rey D. Pedro II, não faz mensão d'ella.

 ......Sabe-se que existiu em ponto mais pequeno um pouco para a retaguarda do lugar que agora ocupa, quase junto ao ribeiro, e que, quando em 1825 foi construída a casa, onde hoje estão os Paços do Concelho, Bernardo Martins da Nova a reedificou ficando transformada n'um magnifico e elegante oratório consagrado mais tarde por sua filha, dona Helena Martins das Neves, ao Sagrado Coração de Maria.

 ......Uma inscripção que está na parede do lado do evangelho diz assim, "Esta ermida consagrada a São Bruno, foi reedificada em 1825 por Bernardo Martins da Nova e concluída em 1842 pelo Padre Bernardo Martins das Neves".

 ......E nesta Capela de São Bruno por muitos anos se celebrou festa estrondosa precedida de novena na qual todos os dias havia prática, cânticos e musica.

 ......Hoje, como recordação de todo esse explendor, ainda se celebra a festa, embora de um modo modesto, com musica, sermão e novena em que se canta um hino de prodigioso efeito cuja letra é obra inspirada do Padre João de Castro Neves e a musica do maestro José Alves......

 ......Mas agora voltando novamente para a Praça Machado dos Santos.



 Neste antigo postal dos correios vemos um grande numero de pessoas a sair da Capela da Senhora das Neves, esta capela também é conhecida como Capela da Senhora da Luz, fica na Praça Machado dos Santos.



 Outra antiga fotografia da Capela da Senhora das Neves, na Praça Machado dos Santos.



 Ano de 2022, como está actualmente a Capela da Senhora das Neves, na Praça Machado dos Santos.



 Ano de 2022, na entrada da Capela da Senhora das Neves existe esta placa informativa que conta a sua história.

  Na revista publicada no ano de 1936, quando da Comemoração do 1º Centenário da Fundação do Concelho de Valongo, o vereador responsável pelas obras públicas deu uma extensa entrevista, sobre as obras que estavam programadas para fazer na Praça Machado dos Santos.

 ......Diz o Sr. Vereador:

 ......A actual Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Valongo, que tem sabido agradar inteiramente a todos os seus munícipes, elaborou um vasto programa de melhoramentos em todo o concelho, alguns dos quais, muito em breve veremos realizados.

 ......O Sr. Admistrador do Concelho de Valongo, Exº Sr. João Lino de Castro Neves, que na Câmara ocupa o lugar de vereador de obras na sede do concelho, é um dos mais acérrimos defensores do novo plano de melhoramentos, por isso quisemos ouvir S. Exª acerca das realizações das obras que dizem respeito ao seu pelouro.

 ......E obtivemos de S. Exª todas as elucidações sobre esse grandioso programa que a Câmara de Valongo pretende levar a cabo.

 ......Concretamente sobre as obras a realizar na Praça Machado dos Santos, pergunta o jornalista:

 ......Diz S. Exª que está indicado o novo Mercado Municipal, que será construído perto do lugar onde primitivamente funcionou, ou seja, na Praça Machado dos Santos, é na parte ajardinada, perguntamos?

 ......Resposta: o jardim será ainda ampliado, o mercado será construído sobre os terrenos que vão ser expropriados com a comparticipação do Estado. 

 ......Pergunta: trata-se dum mercado coberto?

 ......Resposta: por enquanto ainda não será, contudo, fica desde já estudado a forma de poder vir a ser mais tarde, se nisso houver conveniência. Por agora ficará um mercado de linhas modernas, dotado de todas as condições e exigências sanitárias, vedado com um elegante muro gradeado com quatro edifícios, um em cada canto, que servirão para estabelecimentos de qualquer espécie, três grandes portões que facilitem livremente a entrada e saída do público, o interior dividido em amplos tabuleiros, para exposição e venda de géneros, cercados por ruas de quatro metros de largura, devidamente cimentadas, etc. etc. 

 ......Pergunta: quando poderemos ver concluída essa obra?

 ......Resposta: espero que muito brevemente teremos esse prazer, uma vez entregue a planta em Lisboa, e logo que seja concedida a comparticipação, iniciaremos os trabalhos.

 ......Pergunta: em Lisboa costumam demorar muito essa comparticipação?

 ......Resposta: ainda não sei bem, apenas mandei a planta e brevemente mandarei também o projecto da restauração dos Paços do Concelho, que já está concluído, mas, segundo estou informado deve demorar uns dois ou três meses.

 Este Mercado Municipal na Praça Machado dos Santos que constava no plano de obras de 1936 nunca chegou a ser feito, não passou da fase de projecto, a obra não deve ter sido aprovado em Lisboa.

 Mas agora continuando a percorrer a antiga Estrada Real nº 33, saindo da Rua de São Mamede a Estrada Real seguia pela Rua da Ferraria, que foi rebaptizada e se chama actualmente Rua Fernandes Pegas.

 ......Na página 375 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre esta Rua da Ferraria:

 ......Rua da Ferraria, o seu nome deriva de ferreiros e ferradores, que no Século XVIII ali havia, com oficinas e fábricas em que se lavrava e trabalhava o ferro, às quais chamavam ferrarias, segundo o elucidário de Viterbo...... 



 Mesmo na esquina da Rua da Ferraria existia este Mirante e o portão de entrada para a Vila Tina, a janela e o portão que se vêem à direita são da Serralharia Moreira, que foi a única serralharia que resistiu até à década de 1970.

 Conheci muito bem esta rua, assim com a serralharia do Sr. Moreira.



 A Villa Tina foi construída para servir como casa de habitação, mais tarde foi transformada no posto de saúde de Valongo, e terminou os seus dias novamente como casa de habitação, também conheci esta casa.



 No lugar do antigo edifício Villa Tina fizeram este centro comercial, a que em sua homenagem ao antigo edifício deram o nome de Edifício Vila Tina, morei neste edifício durante mais de 10 anos.



 O construtor deste edifício da antiga VILLA TINA, o Sr. Pereira Gomes, mandou retirar com muito cuidado os painéis de azulejos e depois mandou restaurá-los.

 O painel com os dizeres VILLA TINA, foi depois aplicado no interior do Centro Comercial que tomou o nome de Vila Tina. 



 Quanto ao painel maior com a imagem de Santo António, que era um Santo muito venerado em Valongo, o Sr. Pereira Gomes ofereceu-o ao Dr. Miguel Galaghar, que o tem aplicado em sua casa. 



 Este painel com a imagem de Santo António, que estava aplicado na fachada da Villa Tina, voltada para a Rua do Norte foi feito pela famosa fábrica de Cerâmica do Porto, que era a Fábrica do Carvalhinho, fundada no ano de 1841.

 Antigamente o Santo António era um Santo muito venerado em Valongo, tenho algumas dezenas de notícias publicadas em jornais do Norte, que descrevem os deslumbrantes festejos que se realizavam em sua honra.



 No jornal “O Comércio do Porto”, de quarta-feira, dia 13 de Julho de 1892, os festejos realizados em Valongo em honra de Santo António, foram notícia de primeira página.

 Mas agora vou voltar para o meu percurso principal, que é a antiga Estrada Real 33, e vou seguir pela Rua Fernandes Pegas, que antigamente se chamava Rua da Ferraria.



 Ano de 2018, a rua Fernandes Pegas que antigamente se chamava Rua da Ferraria. 

 Como podemos ver esta Rua da Ferraria está perfeitamente alinhada com a Rua do Padrão, lá ao fundo já vemos o Cruzeiro do Padrão, que deu o nome à rua. 

 Durante o século XIX era por esta Rua da Ferraria que se fazia a circulação na direcção do Porto, e vice versa, esta rua fazia parte da Estrada Real nº 33.



 Ano de 2018, saindo da Rua da Ferraria, chegamos à Rua do Padrão, que antigamente se chamava Rua da Portela e da Portelinha

 ......Na página 376 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre estas ruas:

 ......Rua da Portela, era a rua que ia desde a Rua da Ferraria até ao Padrão, tinha 60 casas, em 1834, a estrada nova quando foi aberta rasgou esta rua até à Capela da Senhora da Luz. 

 ......Rua da Portellinha, era a rua que ia do Padrão até à ponte da Presa, tinha 26 casas, em 1834. 

 ......Rua da Padrão, é a Portella e a Portellinha antiga, antes da Estrada Nova, já por ali passava por cima de ásperas fragas a antiga Estrada Real, que era composta nos pontos mais irregulares com grandes pedras de calcário e chisto.  

 ......O primeiro rebaixamento d'esta rua data de 1838, feito para tornar mais suave esse caminho, que foi depois calcetado em 1840.

 ......A Estrada Nova, quando feita, abaixou o solo, mas nas extremidades ainda ficaram alguns monos de fraga que só desapareceram em 1880, com a reforma que a Câmara deu a esta rua...... 



 Ano de 2018, saindo da Rua da Ferraria, chegamos à Rua do Padrão, que faz parte da Estrada Nacional 15, antiga Estrada Real nº 33.



 Antiga fotografia onde vemos como era a Rua do Padrão noutros tempos, lá ao fundo vemos o Cruzeiro do Padrão que deu o nome à rua.

 Nunca conheci esta Rua do Padrão com árvores, nem cheguei a conhecer a loja de panos e fazendas que se vê no lado direito, mas sei que foi lá que os meus pais mandaram fazer as roupas para o casamento. 



 Ano de 2018, como podemos ver os edifícios da Rua do Padrão ainda são os mesmos de antigamente, lá ao fundo ainda continuamos a ver o Cruzeiro do Padrão, só não existem as árvores.



 Ano de 2018, a rua Rua do Padrão, vemos a loja Criações Paulino que já fez 62 anos de existência, e espero que a sua existência se prolongue por muitos anos, para preservar o apelido da família dos Paulinos.



 Ano de 2018, continuando na Rua do Padrão, logo a seguir à casa do Paulino fica uma das casas mais antigas de Valongo, é a Casa do Anjo, tem uma bonita frontaria toda em granito talhado.



 Ano de 2018, a história da Casa do Anjo, está contado nesta placa informativa do Município. 



 A Casa do Anjo deve o seu nome à imagem do Anjo São Miguel, que está no nicho do andar nobre da casa.



 A Casa do Anjo, na antiga Estrada Real nº 33, numa altura em que ainda era uma casa de habitação.



 casa das Criações Paulino e a Casa do Anjo, na Rua do Padrão, antiga Estrada Real nº 33, numa altura em que ainda eram casas de habitação.

 ......Continuando a descer a Rua do Padrão, chegamos ao Cruzeiro do Padrão, que foi quem deu o nome à rua.



 Ano de 2018, e chegamos ao Cruzeiro do Padrão.



 Esta é provavelmente a fotografia mais antiga do Cruzeiro do Padrão, está no livro A Villa de Vallongo.

 Na altura desta fotografia o padrão tinha uma enorme base com degraus que ocupavam quase toda a rua, o padrão estava protegido por um gradeamento metálico, e à volta ainda existiam árvores, lá ao fundo por trás do cruzeiro vemos a Fonte da Portela, ou Fonte do Padrão. 

 Esta zona do Padrão foi das zonas mais fotografadas pelos nossos antepassados. 



 Esta antiga fotografia da zona do Cruzeiro do Padrão, está no livro A Villa de Vallongo, nesta altura, anterior a 1904, a base do padrão ainda tinha degraus, e gradeamento de protecção, mas já não existiam as árvores.

 Por trás do cruzeiro, lá ao fundo vemos a Fonte da Portela.



 Outra antiga fotografia da zona do Cruzeiro do Padrão. 



 Antiga fotografia do Cruzeiro do Padrão que deve ter sido tirada num dia de festa, porque vemos um grande número de crianças e adultos a posar para a fotografia, a base do padrão ainda continua a ter os degraus e o gradeamento de protecção.

 Por trás do cruzeiro lá ao fundo vemos a Fonte da Portela, que é a única fonte que ainda existe neste troço da antiga Estrada Nacional nº 33.



 Fotografia actual, onde vemos as pessoas junto ao Cruzeiro do Padrão à espera da procissão do Senhor dos Passos.



 Ano de 2018, como está a Rua do Padrão.

 A base do padrão foi completamente alterada, já não existem os degraus nem o gradeamento, mas passados que estão mais de 120 anos, os edifícios embora tenham sido restaurados ainda são os mesmos de antigamente, lá ao fundo ainda continuamos a ter a Fonte da Portela.  



 Antiga fotografia também da zona do Cruzeiro do Padrão, onde vemos algumas pessoas à varanda da Associação de Socorros Mútuos, e um grupo de pessoas à porta do antigo quartel da GNR de Valongo.



 Ano de 2018, também aqui na zona do Cruzeiro do Padrão os edifícios ainda são os mesmos, embora alguns já estejam muito degradados. 

 Esta zona do Padrão traz-me muitas recordações da minha infância, faz-me lembrar das duas maiores festas que acontecem em Valongo, a festa do nosso Santo Padroeiro, o São Mamede, que se realiza em meados de Agosto, e a festa do Senhor dos Passos, que se realiza por altura da Páscoa. 

 Estas duas festas traziam a Valongo romarias de pessoas, o ponto alto de ambas as festas são as grandiosas procissões que passam aqui pelo Padrão.



 São Mamede, que é o Santo Padroeiro de Valongo, está representado num painel de azulejos mesmo no topo da Igreja Matriz de Valongo.

 ......No ano de 1706, o padre Carvalho refere-se a Valongo como São Mamede de Val-longo. 





 Fui procurar este livro da topografia portuguesa escrito pelo padre António Carvalho da Costa, publicado no ano de 1706, porque ele é referido várias vezes no livro A Villa de Valongo.


 A festa de São Mamede, prolonga-se por vários dias, o ponto alto é uma grandiosa procissão, nessa altura a cidade é toda engalanada e colocam-se nas varandas das casas as melhores cobertas, para a passagem da procissão.

 Antigamente era criada uma comissão de festas que programava tudo o que iriam fazer de um ano para o outro, nesse tempo a Praça Machado dos Santos era vedada, e no seu interior era montado um palco onde actuavam artistas todos os dias, também era montado um bar com mesas e cadeiras para a assistência. 

 Claro que actualmente existe tudo isso, e se calhar muito mais, eu é que fiquei mais agarrado às festas do passado, quando somos crianças vemos as coisas de forma diferente.

 Mas tenho que confessar que quando era criança, a procissão que mais admirava era a procissão do Senhor dos Passos, que se realiza por altura da Quaresma.

 No Sábado à noite sai da Igreja Matriz a procissão com o andor da Nossa Senhora que vai até à Praça Machado dos Santos, onde fica recolhida na Capela de Nossa Senhora das Neves, em todo o percurso da procissão a iluminação pública é desligada, e a iluminação é feita por velas, ou lamparinas, que os moradores colocam nas janelas e nas fachadas dos edifícios ao longo de todo o percurso.

 Depois no Domingo de tarde, sai também da Igreja Matriz a procissão do Senhor dos Passos, e na Praça Machado dos Santos o andor da Nossa Senhora que ficou recolhido desde a noite anterior na Capela da Senhora das Neves, junta-se com a procissão do Senhor dos Passos, e seguem ambos para o Padrão, onde se dá o encontro de Jesus com a Nossa Senhora, Sua Mãe.

 No Padrão é montado um púlpito, onde é feito O Sermão do Encontro por um Sacerdote convidado, todas as varandas do percurso da procissão do Senhor dos Passos, são adornadas com cobertas de cor Roxa, cor que simboliza a quadra da Quaresma.



 É aqui no Padrão que se dá o encontro de Jesus com a Nossa Senhora Sua Mãe, neste local é montada um púlpito onde é feito O Sermão do Encontro, por um Sacerdote convidado, as cores predominantes desta Procissão, e de toda a festividade são o roxo, que simboliza a quadra da Quaresma.



 Em todo o percurso por onde passa a procissão do Senhor dos Passos, as varandas são adornadas com cobertas da cor roxa, que simbolizam a quadra da Quaresma. 

 A procissão do Senhor dos Passos, foi e ainda é famosa, mas antigamente era tão reconhecida que  no ano de 1876, a recém criada Companhia dos Caminhos de Ferro do Douro fez comboios com horários extraordinários entre o Porto e Valongo, e entre Valongo e Cahíde, em Penafiel, a preços reduzidos.



 O horário dos comboios extraordinários entre o Porto e Valongo, entre Valongo e Cahíde e Penafiel, feito pela Companhia dos Caminhos de Ferro do Douro, para o dia da Procissão do Senhor dos Passos no ano de 1876, um ano depois da inauguração da linha do Douro.

 ......Na página 251 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre a Confraria dos Santos Passos, que organiza esta festividade desde 1710:

 ......De todas as confrarias de Vallongo a mais rica hoje, em 1904, é talvez a dos Santos Passos.

 ......Pelos estatutos da Confraria o dia próprio para a Procissão do Senhor dos Passos é o 4ª Domingo da Quaresma, mas como n'esse dia por muitas vezes houvesse chuva, em 1894 resolveu a Confraria mudar a festa para o 3º Domingo da Quaresma, quando por causa da chuva não se pôde realizar, fica para o Domingo seguinte. 

 ......Mas agora continuando a percorrer a antiga Estrada Real 33.

 Logo abaixo do Cruzeiro do Padrão temos A Fonte da Portela que teve sorte, porque como não interferiu com o desenvolvimento de Valongo foi poupada, e ainda existe actualmente. 



 Ano de 2018, a Fonte da Portela é a única fonte da Estrada Real 33 que chegou até aos dias de hoje, embora já não deite água.



 ......Na página 360 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre esta Fonte da Portela:

 ......É a fonte que fica abaixo do Padrão, na rua do mesmo nome, foi mandada fazer em 1883 e a água que a fornece vem de uma mina que existe debaixo da Rua Velha, cuja água também sustenta o Chafariz da Praça Dom Luiz I......



  Na imagem da esquerda que está no livro A Villa de Vallongo, vemos no meio da Praça Dom Luiz I, o chafariz a que o padre Joaquim se refere na página 360.

 Na imagem da direita vemos a Praça Machado dos Santos na década de 1950, nesta altura já não existem casas nem a Capela da Senhora da Luz no meio da praça, nessa altura foi montado no topo da praça um elegante chafariz, onde se pousava o cântaro ou caneco para encher de água.



 Um antigo chafariz onde se pousava o cântaro para encher de água.



 Outro antigo chafariz onde se pousava o cântaro para encher de água.



 Valongo só começou a ter água canalizada por volta de 1950, até aí era necessário ir com o cântaro ou caneco buscar água à fonte, na casa dos meus pais na Rua da Passagem a água canalizada só chegou em 1958.

 ......Continuando a fazer a minha viagem histórica pela antiga Estrada Real 33, passando o Cruzeiro do Padrão, chegamos à Rua Alves Saldanha.



 O Srº João Alves Saldanha que deu o nome à Rua Alves Saldanha, foi um capitalista e um grande benemérito de Valongo. 



 Ano de 2018, as casas da Rua Alves Saldanha foram sendo restauradas, mas ainda mantêm a traça original.

 Nasci na última casa ao fundo desta rua, no ano de 1955, vivemos nesta casa, os meus pais, eu e a minha irmã até ao falecimento da minha avó materna no ano de 1957.



 Ano de 2018, a Rua Alves Saldanha antigamente chamava-se Rua da Portelinha.



 Durante a Guerra Civil em Portugal, entre 1832 e 1834, nas terras de Valongo aconteceram inúmeras escaramuças.

 E a Batalha da Ponte Ferreira, que foi a primeira das muitas batalhas travada entre o exército Liberal do Imperador Dom Pedro, e o exército Absolutista do seu irmão Dom Miguel, travou-se aqui nas terras de Valongo.

 A seguir vou pôr um pequeno excerto que tem a ver com a passagem do Imperador Dom Pedro por esta Rua da Portellinha, quando ia a caminho da Batalha de Ponte Ferreira.

 ......Na página 360 e seguintes do livro A Villa de Vallongo, são descritas com grande pormenor todas as escaramuças, e a Batalha da Ponte Ferreira que aqui se travaram, este texto que ponho a seguir faz parte de um capítulo muito extenso que começa com o título: 

 ......Dom Pedro em Vallongo - A Batalha da Ponte Ferreira.

 ......Quando pelas 8 horas da manhã o Imperador Dom Pedro passava à frente do seu exército pelas ruas de Vallongo, o enthusiasmo entre os apaixonados do seu partido chegou até ao delírio.

 ......As casa estavam engalanadas com bandeiras, e atroavam os ares calorosos vivas e salvas de palmas que das janelas lhe eram dadas com gritos de alegria, enquanto que tudo era Miguelista, triste e cabisbaixo, roía de portas cerradas a paixão que ia na alma. E' ainda a mesma "mis eu sceue" que sempre se repete à queda de todos os partidos.

 ......Hoje exultam com vivas, morras e foguetório ao som do fungagá, para amanhã ouvirem o mesmo d'aquelles a quem o fizeram.

 ......Foi da casa d'um seu admirador onde almoçou, já ao fim da Rua da Portellinha, que Dom Pedro viu desfilar as suas tropas, tropas que depois seguiu até ao campo de batalha um kilometro mais distante......



 Conforme me disseram foi nesta casa brasonada, já ao fundo da Rua Alves Saldanha, que terá pertencido a uma família aristocrática, que ficou alojado o rei Dom Pedro, durante o tempo que durou a Batalha de Ponte Ferreira.

 E foi da varanda desta casa que depois Dom Pedro viu passar o grosso das suas tropas a caminho da Batalha de Ponte Ferreira, tropas que depois seguiu até ao campo da batalha que aconteceu um Kilometro mais à frente.



 Ano de 2018, continuo a descer a Rua Alves Saldanha, e como vemos à excepção de um prédio de 5 pisos, todas as outras casas ainda mantêm a traça original.

 Onde agora vemos esse edifício de 5 pisos existia uma casa muito bonita, era a casa da família Enes.



 Como se vê nesta fotografia, a casa da família Enes  tinha 3 pisos.

 Consigo descrever com grande pormenor esta casa porque a conheci muito bem, andei lá nas explicações ainda antes de entrar para a escola primária, na década de 1950, na altura dizíamos que andávamos na mestra.

 No piso térreo ficava a cozinha, a sala de estar e a sala de jantar, no primeiro andar ficavam os quartos, nas águas furtadas também tinha mais alguns quartos, mas o sótão era utilizado para outros serviços, por exemplo era lá que estendiam a roupa para secar.

 O interior da casa era todo em madeira, até as traves do sótão estavam revestidas com madeira, as portas do piso térreo tinham vitrais coloridos, foi uma pena esta casa ter sido destruída.

 Anos mais tarde nos finais da década de 1960, quando a casa ficou desabitada, eu com mais alguns colegas utilizávamos esta casa como palco de muitas das nossas brincadeiras de juventude. 

 Já devia ter os meus 13 ou 14 anos, e ainda gostava de ir para a casa dos Enes, íamos tentar descobrir moedas ou tesouros que pudessem estar escondidos por debaixo dos soalhos, nos armários da cozinha, ou nas águas furtadas, também servia para fazer algumas partidas a outros colegas,  lembro-me mesmo muito bem desta casa.

 Não faço a mais pequena ideia de quem seria a família Enes, que originalmente foram os proprietária desta casa.

 Procurei no livro A Villa de Vallongo, e encontrei referência a duas famílias com nomes parecidos, mas não sei se esta casa pertenceria a alguma destas duas famílias:

 Uma das famílias referida no livro é a do Sr. Eduardo Ennor, sobre o qual diz o seguinte:

 ......Sr. Eduardo Ennor era da respeitável família Ennor, que foi quem em 1865 começou com as famosas Minas do Galinheiro, conforme consta da escritura feita a 15 de Março desse mesmo ano, esta família Ennor está ligada a Valongo por muitos actos de benemerência.

 A outra família também referida no livro é a do Sr. Belchior Pereira Ennes, sobre o qual diz o seguinte:

 ......Sr. Belchior Pereira Ennes era natural de Vallongo, foi um homem notável no seu tempo por ser mestre de esgrima do Imperador Dom Pedro no Rio de Janeiro, que depois o agraciou com várias distinções e títulos.



 Ano de 2018, continuo a descer a Rua Alves Saldanha, e mesmo lá no fundo temos esta bonita mansão que no seu tempo deve ter tido um grande esplendor, mas agora está em decadência prestes a ruir.

 Nunca conheci esta casa habitada, nem encontrei qualquer referência a quem a terá construído, já teve um bar instalado na cave, e actualmente tem uma única sala ocupada pela barbearia do Avelino.

 Continuo a fazer a minha viagem histórica pela antiga Estrada Real nº 33, a caminho da Estação dos Caminhos de Ferro Valongo, e agora chego à Ponte da Presa.



 Ano de 2018, actualmente quando passamos de carro pela Ponte da Presa, nem nos apercebemos da sua existência, mas como veremos nem sempre foi assim. 



 Ano de 2018, como vemos actualmente a estrada nacional 15 está bastante elevada relativamente ao Ribeiro da Presa, mas nem sempre foi assim. 

 ......Na página 367 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre esta Ponte da Presa:

 ......A Ponte da Presa, é onde atravessa a Estrada Real no lugar da Presa, esta ponte foi primitivamente muito mais baixa, elevando-se do leito da Ribeira da Presa apenas um metro, e d'ella até à altura da Rua do Padrão havia uma subida horrorosa......



 Ano de 2018, nesta fotografia vemos o Ribeiro da Presa a sair da ponte do mesmo nome, vai a caminho do fundo do Lugar da Ilha onde vai desaguar no Rio Simão.

 ......Na página 372 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre o Ribeiro da Presa:

 ......Ribeiro da Presa, é o ribeiro que aí passa, vai até ao moinho Telhado, bem lá no fundo do Lugar da Ilha, vai juntar-se com o Rio Simão que vem da Ponte da Passagem......

 E agora vou fazer mais um desvio do meu traçado principal e vou até lá ao fundo do Lugar da Ilha, para ver esse moinho Telhado, e mais alguns moinhos que moíam com água do Rio Simão, que também são citados no livro A Villa de Vallongo.



 O Moinho Telhado, citado no livro A Villa de Vallongo, fica mesmo lá no fundo do Lugar da Ilha.

 Este moinho deixou de funcionar na primeira metade do século XX, depois durante algum tempo foi uma casa de habitação, até que acabou por ficar abandonado, e prestes a ruir como vemos.

 Mas como costumo dizer não à mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe, e como veremos este moinho teve sorte porque foi adquirido por um descendente dos antigos donos, que o transformou num bonito estúdio para habitação. 



 Ano de 2018, como ficou o velhinho moinho telhado depois de restaurado.



 Ano de 2018, como ficou o velhinho moinho telhado depois de restaurado.



 Ano de 2018, o interior do antigo moinho depois de restaurado.



 Ano de 2018, o interior do antigo moinho depois de restaurado.



 Ano de 2018, este antigo moinho no fundo do Lugar da Ilha tinha duas portas de saída da água.



 Ano de 2018, as duas portas do antigo moinho servem agora como armazém.



 Ano de 2018, era neste local que eram fechadas as comportas do Ribeiro da Presa, para obrigar a água circular por dentro do moinho.

 Este moinho tinha uma particularidade, porque ficava mesmo no meio de dois rios, tanto trabalhava com a água do Rio Simão, como com a água do Ribeiro da Presa.



 Ano de 2018, é aqui neste local mesmo no fundo do Lugar da Ilha, que o Ribeiro da Presa desagua no Rio Simão.

  ......No lado direito vemos o Ribeiro da Presa.

 Este Ribeiro da Presa nasce no Susão, passa próximo da Igreja nova do Susão, atravessa Valongo pelo lado mais a Nordeste, pelo caminho vai recebendo as águas de vários outros ribeiros, que vão aumentando o seu caudal, passa pela Fonte Mourisca, depois pela Ponte da Presa, até que finalmente vai desaguar no Rio Simão, aqui no fundo do Lugar Ilha.  

  ......No lado esquerdo da foto acima, vemos o Rio Simão a sair de um túnel.

 O Rio Simão também nasce no Susão, ali para os lados da Outrela, passa próximo do apeadeiro do Susão, atravessa Valongo, e pelo caminho também vai recebendo as águas de vários outros ribeiros, como o Ribeiro dos Lagueirões, o Ribeiro da Igreja, o Ribeiro da Presa, o Ribeiro das Águas Férreas que vem do lado da Santa Justa, e segue sempre até lá ao fundo do Lugar da Azenha, onde finalmente desagua no Rio Ferreira.



 Ano de 2018, o Rio Simão depois de receber as águas do Ribeiro da Presa fica com o dobro do caudal.



 Ano de 2018, ao longo de todo o seu curso o Rio Simão tem um caminho pedonal, desde o Susão até ao fundo do Lugar da Azenha, onde desagua no Rio Ferreira.



 Ano de 2018, um troço do caminho pedonal que acompanha o Rio Simão durante mais de 5 km.



 Ano de 2018, aqui no fundo do Lugar da Ilha o caminho pedonal segue pelos antigos caminhos, pelo sopé do Monte da Santa Justa, até ao fundo do Lugar da Azenha.

  ......Na página 372 do livro A Villa de Vallongo diz o seguinte sobre o Rio Simão:

 O Rio Simão recebe as águas do Ribeiro do Cambado ainda antes da linha férrea, e de Fontelas vem a Centiais no Susão, donde depois corre por Contenças a caminho de Vallongo, e como recebe as águas de todos esses ribeiros isso faz com que os seus moinhos trabalhem quase todo o ano.



 Antigo mapa do Susão, onde podemos acompanhar o percurso do  Rio Simão.

  ......O Rio Simão nasce mais ou menos onde eram as pedreiras do Chemina, depois corre por Fontelas, Centiais, atravessa a linha férrea perto do Apeadeiro do Susão,  depois corre por Contenças a caminho de Valongo.

  ......Actualmente ainda existe em Valongo a Casa de Contenças.

 Vou agora fazer um pequeno desvio para mostrar os 4 primeiros moinhos que trabalhavam com a água do Rio Simão, vou começar perto da nascente no Susão e vou terminar no junto à Ponte da Passagem.



 Ano de 2018, era este o primeiro moinho do Rio Simão, ficava no Susão próximo do Souto.

 Conheci muito bem este moinho e estive dentro dele muitas vezes, ele esteve alugado ao meu pai de 1957 até 1973, mas o meu pai não o utilizava como moinho, o meu pai só o utilizava porque ficava ao lado do rio. 



 Ano de 2018, o primeiro moinho do Rio Simão. 



 Ano de 2018.



 Este primeiro moinho do Rio Simão tinha uma roda de pás lateral, igual ao desta foto.



 É este o princípio de funcionamento de um Moinho com eixo a 90 graus, com roda de pás lateral.



 Ano de 2018, este primeiro moinho do Rio Simão está prestes a ruir, mas se reparamos ainda conseguimos ver no lado direito um quadrado na parede que não está revestido, era aí que ficava a chumaceira do eixo da roda das pás.



 Ano de 2018, o segundo moinho que moía com a água do Rio Simão fica já em Valongo, no Lugar da Senra, é o Moinho da Senra.



 Ano de 2018, o Moinho da Senra está a ser recuperado pela C. M. de Valongo.



 Ano de 2018, o Rio Simão a passar no Moinho da Senra, como vemos aqui neste local o rio ainda tem bastante caudal. 



 Ano de 2018, a porta de saída da água no Moinho da Senra.



 Ano de 2018, o terceiro moinho do Rio Simão fica na Rua de Trás, 200 metros antes da Ponte da Passagem.



 Ano de 2018, quem passa pela frente deste moinho mal o vê, mas no seu interior ainda existe o túnel por onde antigamente passava a água, que fazia rodar a Mó.



 Ano de 2018, mas se formos pelo  passadiço do Rio Simão, que passa nas traseiras do moinho, ainda conseguimos ver duas grandes portas em ardósia, que era por onde a água saía do moinho depois de passar na mó.



 Ano de 2018, as portas em ardósia nas traseiras do moinho, como vemos neste local o Rio Simão também tem bastante caudal.



 Ano de 2018, e agora chegamos à Ponte da Passagem, onde fica o quarto moinho do Rio Simão, moinho que também é mencionado no livro A Villa de Vallongo.

 Foi esta Ponte da Passagem que anos mais tarde, acabou por dar o nome à Rua da Passagem, rua para onde foram os meus pais no ano de 1958.



 Como era a Rua da Passagem na década de 1970, esta fotografia foi tirada no quintal da casa dos meus pais.

 Neste pequeno trecho da Rua da Passagem, vemos no lado direito da ponte a casa estilo colonial da Quinta da Nadita.

 No lado esquerdo da ponte vemos o telhado do Moinho da Passagem, que é mencionado no livro A Villa de Vallongo.  

 ......A abertura desta Rua da Passagem começou a ser pensada em 1936, mas a obra só foi executada por volta de 1950.

 ......No Jornal Comemorativo do 1º Centenário da Fundação do Concelho de Valongo, no ano de 1936 tem uma entrevista sobre a abertura desta Rua da Passagem, que fazia parte do grandioso programa de obras que a Câmara pretendia levar a cabo nesse ano de 1936.

 ......A seguir ponho um excerto dessa entrevista sobre a Rua da passagem, concedida pelo Administrador do Concelho de Valongo, Exº Sr. João Lino de Castro Neves, que na Câmara ocupava o lugar de vereador de obras na sede do concelho, e era um dos mais acérrimos defensores do novo plano de melhoramentos, que a Câmara de Valongo pretendia levar a cabo em 1936:

 ......Pergunta o jornalista: fala-se também da abertura da Rua da passagem?

 ......Resposta: sim, a Rua da Passagem também já foi pensada e está-se a proceder ao levantamento da planta que a vai transformar numa suave estrada de 8 metros de largura, que partindo do Hospital desta Vila vem até à Ponte da Presa, substituindo o velho caminho que actualmente está intransitável.  

 ......Pergunta o jornalista: isso seria uma obra de grande interesse para o público, vai ficar muito dispendiosa para o Município?

 ......Resposta: o seu preço não é de grande vulto, porque os proprietários oferecem todos os terrenos e a terraplanagem é relativamente fácil de fazer, motivo porque espero dentro em breve ver esta obra realizada. 

 Mas apesar desta promessa feita em 1936, a abertura da Rua da Passagem só veio a acontecer por volta de 1950.



 A abertura da Rua da Passagem foi muito importante na altura, porque até aí só existia uma via que atravessava Valongo, era a EN 15, antiga Estrada Real 33.

 A partir da abertura desta Rua da Passagem passou a existir uma segunda via, para não ter que passar pelo centro de Valongo.



 Ano de 2022, actualmente a Rua da Passagem só tem um sentido de circulação, do Porto para Penafiel.



 Ano de 2018, é este o Moinho da Passagem que é citado em 1904, no livro A Villa de Valongo.



 Ano de 2018, nesta fotografia vemos as comportas no Rio Simão que eram fechadas para fazer a água a circular pelo interior do Moinho e fazer rodar a Mó, vemos também a porta por onde depois a água saía do Moinho. 



 Ano de 2018. as comportas no rio, e a porta por onde depois a água saía do Moinho. 



 Ano de 2018, a água depois de passar pelo moinho entra na Ponte da Passagem, vemos também o caminho pedonal que acompanha o rio durante todo seu curso. 



 Ano de 2018, agora vemos o Rio Simão a sair da Ponte da Passagem.

 E para encerrar este capítulo, vou mostrar algumas Mós dos antigos moinhos do Rio Simão.



 Interior de antigo moinho.



 Interior de antigo moinho.



 Interior de antigo moinho.



 O Moinho do Cuco, é o último moinho do Rio Simão, fica mesmo lá no fundo do Lugar da Azenha tinha 4 Mós. 



 Uma colecção particular de pedras de Mós de antigos moinhos do Rio Simão, e do Rio Ferreira.

 Mas este assunto dos Moinhos, das Mós, dos caminhos pedonais, dos muitos Rios e Ribeiros que atravessam Valongo, como é muito extenso, vai ter que ficar para outra publicação, porque já me afastei muito do meu percurso inicial.

 ...... E agora vou regressar à Ponte da Presa, que fica na Estrada Nacional 15, antiga Estrada Real 33, e vou continuar o meu percurso até à Estação dos caminhos de ferro.



 Já estou novamente na Ponte da Presa, lá ao fundo vemos a Rotunda da Trilobite, onde vamos virar à esquerda para a Rua da Estação, que é o nosso destino final.



  A rotunda da Trilobite.



 A rotunda da Trilobite, é uma homenagem às trilobites que eram uns seres marinhos que por cá viveram acerca de 360 milhões de anos, num tempo em que Valongo ainda estava submerso pelas águas do mar.



 A futura Câmara Municipal de Valongo vai ter a forma de uma Trilobite, em homenagem a esses serem marinhos que por cá habitaram à muitos milhões de anos.



 A futura Câmara Municipal de Valongo em forma de uma Trilobite.

 Nas minas de ardózia de Valongo, e de Arouca continuam a aparecer muitos fosseis desses antigos seres marinhos, em Arouca existe mesmo um museu dedicado às Trilobites. 



 Ano de 2022, mas no local onde agora existe esta Rotunda da Trilobite, antes existia um edifício todo revestido com Soletos de Ardózia.



 Era este o edifício que existia no lugar onde agora está a Rotunda da Trilobite.

 Falo deste antigo edifício que era todo revestido com soletos de ardózia, porque tenho a firme convicção de que ele devia ser a segunda Alquilharia de Carruagens de Vallongo. 



 Digo que este edifício devia ser a segunda Alquilharia de Carruagens pelas características do edifício, e porque na página 386 do livro A Villa de Vallongo diz que antes da inauguração da linha férrea do Douro entre Ermesinde e Penafiel, em 1875, em Vallongo existiam duas Alquilharias com boas Carruagens. 

 E agora continuando com esta minha viagem, entro na Rua da Estação, e vou até à Estação dos Caminhos de Ferro, onde finalmente vai terminar esta minha grande viagem, de cerca de 1000 metros pelo centro de Valongo. 



 Ano de 2022, agora já estou na  Rua da Estação, e lá ao fundo já se vê o edifício da Estação de Caminhos de Ferro de Valongo.



 O edifício da Estação dos Caminhos de Ferro de Valongo.



 A Estação de Caminhos de Ferro de Valongo, no tempo em que ainda tinha chefe de estação.



 Toda a linha dos Caminhos de Ferro do Douro foi modernizada, e Valongo não foi excepção, actualmente temos uma estação digna do Século XXI.

 Mas a antiga estação com os seus armazéns, uns construídos em madeira, outros em Ardózia, deixaram-me muitas saudades, ainda me lembro de como era a antiga estação, até das casas de banho me lembro.

 ......Vou postar a seguir 11 imagens dos arquivos da RTP do ano de 1965, onde aparece a estação antiga tal como eu a conhecia.

 Porque foi precisamente nesse já longínquo ano de 1965 que comecei a viajar diariamente de comboio entre Valongo e o Porto, tinha 10 anos, nessa altura os comboios que circulavam na linha do Douro ainda eram com máquinas a Vapor.



 Junho de 1965,estação de Valongo. 



 Junho de 1965, um comboio a vapor a chegar à estação. 



 Junho de 1965, comboios a vapor na estação de Valongo. 



 Junho de 1965, um grupo de pessoas na gare de embarque à espera do comboio no sentido de Valongo para Penafiel.



 Junho de 1965, o comboio a vapor prestes a parar na gare de embarque da estação de Valongo, no sentido do Porto para Penafiel. 



 Junho de 1965, ainda o comboio a vapor prestes a parar na gare de embarque da estação de Valongo, no sentido do Porto para Penafiel.



 Junho de 1965, os armazéns traseiros da estação tinham paredes de ardósia, e telhados em soletos.



 Junho de 1965, na estação de Valongo eram carregados vários wagons todos os dia.

 Daqui era despachado todo o tipo de materiais, mobiliário, e todo o tipo de artigos fabricados em ardósia.

 Desde lousas e penas escolares, a bancas de cozinha, algerozes para os beirais das casas, eram vasos e ladrilhos para o chão, soletos, etc, esses wagons eram depois atrelados nos comboios de mercadorias que por aqui passavam.



 Junho de 1965, como vemos o telhado e as paredes destes armazéns da estação de Valongo, eram em soletos de ardósia.



 Antigamente existiam em Valongo muitas casas como esta, totalmente revestida com soletos de ardósia, mas hoje já poucas existem.



 Outra casa em Valongo revestida com soletos de ardósia, que ainda resistiu.



 Outra casa em Valongo revestida com soletos de ardósia.



 Outra casa em Valongo revestida com soletos de ardósia.

 Mas a moda de revestir edifícios com soletos de ardósia voltou a começar, e no Porto já existem dezenas de edifícios com partes revestidas a Soletos. 



 Ano de 2022, um edifício no Porto, perto do Mercado Ferreira Borges, com revestimento feito com soletos de ardósia.



 Ano de 2022, outro edifício nas traseiras do Palácio das Cardosas no Porto, com revestimento feito com soletos de ardósia.



 Ano de 2022, outro edifício perto do palácio de Cristal no Porto, com revestimento feito com soletos de ardósia. 



 Ano de 2022, um edifício no Porto, perto do Mercado Ferreira Borges, com revestimento feito com soletos de ardósia.

 Mas agora vou votar novamente para a estação de Valongo no ano de 1965, porque senão nunca mais acabo a publicação.



  Junho de 1965, os armazéns da parte da frente da estação eram construídos em madeira, iguais a tantos outros noutras estações, vemos um Wagon para ser carregado com mercadorias. 

 Estes armazéns em madeira na frente da estação, eram os que eu conhecia melhor, porque muitas vezes acompanhei o meu pai quando ele ia fazer despachos de Lousas Escolares, também me lembro bem da balança que aparece nesta fotografia, era nela que era pesava a mercadoria antes de ser despachada, também me pesei nela muitas de vezes. 

  Na década de 1970 existiam 26 fábricas de Lousas e penas escolares, e mais de uma dezena de pedreiras de Ardósia em Valongo, e todas as mercadorias dessas fábricas e pedreiras eram despachadas de Comboio.

 Dessas 26 fábricas de Lousas Escolares, das quais uma era do meu pai, actualmente só existe uma. 



 Os antigos armazéns em madeira da Estação de Valongo eram iguais a estes do Peso da Régua. 



Actualmente já não existem armazéns, nem se fazem despachos de mercadorias na Estação de caminhos de Ferro de Valongo.

  ......Na página 220 do livro A Villa de Vallongo diz que com a passagem da linha de caminhos-de-ferro do Douro, Valongo sofreu um rude golpe no seu comércio e industria:

 ......A 29 de Julho de 1875 inaugura-se a linha férrea do Douro entre Ermesinde e Penafiel, a qual passados alguns anos até tem concorrido para o desenvolvimento material de Vallongo, embora por algum tempo fosse um golpe de morte dado no seu comércio e industria.

 ......Porque até então era por Vallongo que passavam todas as mercadorias e passageiros que do Alto-Douro e Terras de Traz-os-Montes desciam para o Porto, seguindo a Estrada Real nº33 que d'essa cidade ia até Penafiel, Amarante, Régua, Chaves, Bragança até à Hespanha.

 ......E todos os dias n'esta terra passava uma multidão imensa de povo de todas as condições e estados, almocreves com suas alimárias (animais de carga), estafetas, carroças, liteiras, e malas postais que descansavam, comiam, compravam e vendiam, constituindo aqui um centro de comercio que muitas vezes fez a felicidade de muitas famílias.

 ......Era o que fazia dizer aos nossos pais que à beira da estrada, vendendo iscas de dez réis e meios quartilhos de vinho, pôde-se arranjar bem a vida, e podia, a primeira paragem para refresco dos viandantes, depois da saída do Porto, era Vallongo, onde também os transeuntes se muniam do afamado pão, quando iam para aquela cidade.

 ......Mas a passagem do caminho de ferro por Vallongo com tudo isto acabou, e, se não fossem os elementos de vida que esta terra possuía em si, graças ao seu comércio e exploração das riquezas do seu solo, talvez tivéssemos a registar na história o desaparecimento de uma povoação importante vítima das maravilhas do progresso. 

 ......Mais tarde as coisas começaram a mudar, e hoje, 1904, o caminho de ferro já é fonte de bastantes benefícios para esta terra, sendo o seu movimento dos de maior escala que se realizam em toda a linha do Douro.

 ......A estação tem quatro vias, duas para passagem dos comboios ordinários, e duas para resguardo dos wagons, que continuamente ali demoram à carga e descarga de diversas mercadorias.

 ……Para depósito e arrecadação das mercadorias à também dois cais, um coberto e fechado e outro descoberto, bem como um grande numero de empregados para bom desempenho de serviço.

 ......Até este tempo, porém, tiveram os Vallonguenses de arcar com grandes dificuldades na luta pela vida, recorrendo muitas vezes à emigração, que foi causa de que muitos de seus filhos procurassem nas terras de Santa Cruz, Brasil, o forçado pão do exílio......

 O início das obras de construção da linha do Douro começou em Julho de 1873, e o primeiro troço entre Ermesinde e Penafiel entrou ao serviço no dia 30 de Julho de 1875.



  A linha dos caminhos de ferro do Douro inaugurada no ano de 1875, começava na Estação de Ermesinde.



 Como era a estação de Ermesinde quando eu comecei a viajar de comboio de Valongo para o Porto.



 Ano de 2018, a estação de Ermesinde tal como toda a linha do Douro também foi modernizada, e como vemos hoje Ermesinde tem uma estação toda futurista.



 Ano de 2018, a estação de Ermesinde com iluminação nocturna.

 Os comboios da linha do Douro partem da Estação de São Bento, no Porto, passam por Ermesinde, e 2km à frente passam por um viaduto sobre o Ribeiro de Cabeda.

 Este viaduto apesar de não ser muito alto impõe muito respeito, quando com 10 anos comecei a passar por ele parecia-me sempre que ele abanava muito. 



 Nesta antiga fotografia vemos um comboio a vapor a passar no Viaduto de Cabeda, ou Viaduto dos Sete Arcos, como é conhecido por alguns.



 Outra antiga fotografia onde vemos um comboio a vapor a passar no Viaduto de Cabeda.



 O Viaduto de Cabeda, com os seus 7 arcos.

 Já passei muitas vezes a pé por cima deste Viaduto de Cabeda, quando andava no ciclo preparatório no ano 1965/66/67, só havia comboios para Valongo no final da tarde.

 E quando não tínhamos aulas de tarde, com mais alguns colegas fazíamos a viagem a pé desde a Estação de Ermesinde até ao apeadeiro do Susão. 



 O Viaduto de Cabeda.

 4 km à frente do viaduto de Cabeda chegámos ao Apeadeiro do Susão, na década de 1960 eram poucos os comboios que paravam no Susão.



 Uma antiga fotografia do Apeadeiro do Susão, no tempo em que ainda tinha as cancelas metálicas, no Susão existiam 2 passagens de nível com guarda.



 Outra antiga fotografia do Apeadeiro do Susão.



 Outra antiga fotografia do Apeadeiro do Susão.



 O Apeadeiro do Susão num tempo já mais recente, nesta altura as cancelas metálicas já tinham sido substituídas por barreiras, e os comboios que circulam já não são a vapor.

 Antes da modernização da linha do Douro, no Susão existiam 2 passagem de nível com guarda, e ambas com casa onde morava o guarda com a família.

 Eram esses guardas das passagens de nível que tinham a obrigação de fechar, e abrir as cancelas metálicas, quando se aproximava um comboio, uma das passagem de nível ficava na estrada que liga Valongo a Alfena, e a outra ficava na estrada que vai até ao Souto, no centro do Susão. 



 Ano de 2018, com a modernização da linha do Douro o antigo Apeadeiro do Susão foi transformado numa moderna estação, tão importante como a Estação de Valongo, a antiga casa do guarda da passagem de nível ainda se mantém, embora já não more lá ninguém.

 Os comboios depois de passarem no apeadeiro do Susão, antes de chegar à estação de Valongo, ainda passavam por mais duas passagens de nível com cancelas metálicas, uma ficava no Calvário, dava acesso às Pedreiras do Galinheiro, e a outra ficava já perto da Estação de Valongo, e também servia para dar acesso às pedreiras.

 E finalmente os comboios depois de passarem nessas passagens de nível, chegavam à Estação de Valongo.



 A Estação dos caminhos-de-ferro de Valongo, inaugurada em 1875, só tinha 2 linhas por onde circulavam os comboios ordinários.



 Mas como podemos ler numa passagem do Livro A Villa de Vallongo, em 1904 a estação já tinha quatro vias, duas para passagem dos comboios ordinários, e duas para resguardo dos wagons, que continuamente ali demoram à carga e descarga de diversas mercadorias.

 ......No livro A Villa de Vallongo diz o seguinte sobre esta Estação de Caminhos de Ferro de Valongo:

 ......A Estação do Caminho de Ferro serve de aposento ao chefe do respectivo serviço, e é lugar de embarque e desembarque de diferentes mercadorias e indivíduos, nada tem de notável por apresentar a forma das outras casas que na linha do Douro tem o mesmo fim e mister.

 ......Data de 1875, o primeiro comboio passou aqui já depois do meio dia, levando o ministro da marinha, alguns vereadores, o governador civil, o general da divisão e outros funcionários, jornalistas, e vários cavalheiros representantes do corpo diplomático.

 ......O comboio foi até Penafiel, onde houve um lanche de 180 talheres, estando todas as estações engalanadas e havendo em Vallongo várias manifestações de regozijo.



 A primitiva Estação dos caminhos de ferro de Valongo, inaugurada em 1875.



 Ano de 2018, como está actualmente a estação de caminhos de ferro de Valongo.

 Não me sentiria bem terminar esta publicação sem fazer um elogio ao padre Joaquim Alves Lopes Reis, porque muitos dos textos que utilizei são do livro A Villa de Vallongo.



 O padre Joaquim no livro A Villa de Vallongo,  escreve sobre as tradições, sobre a história, sobre os costumes de Vallongo, desde os tempos mais remotos, até ao ano da publicação do livro, em 1904.

 Utilizo este livro como um manual de consulta sobre o passado de Valongo, tenho uma grande admiração por este livro, mas melhor do que lhe fazer algum elogio, será escrever um texto que o próprio escreveu na conclusão do livro, que diz o seguinte:

 ......Nos Séculos que ainda estão por vir, se algum d'esses cataclysmos que subvertem as Nações e fazem desaparecer os povos, risque do mapa de Portugal esta encantadora terra, este livro ficará sempre como um monumento vivo a atestar aos vindouros o que ela foi no passado.

 ......E assim como os toscos hieroglyphos do Egypto perpetuam a civilização de gerações que se finaram, o livro A Villa de Vallongo, apesar de mal escrito, não deixará esquecer as bellezas nem as graças que o Céo azul d'esta villa abundantemente encerra......  

 E depois desta extenuante viagem histórica de 1 km pela antiga Estrada Real 33, que me levou 6 anos a completar de 2018 a 2024 despeço-me, e se alguém se deu ao trabalho de ler esta extensa publicação, espero que tenha gostado.

Obrigado.

Fernando Almeida