terça-feira, 5 de abril de 2022

 Histórias antigas de Vallongo.

 A lenda da Susanna. 



 Segundo uma antiga lenda que remonta ao ano 400 dc, no tempo em que o Porto ainda era dominado pelos romanos, uma mulher chamada Susanna, terá vindo habitar para Vallongo, para um lugar que em sua memória começou a ser conhecida pelo nome de "Pagus Susannus", a aldeia da Susanna.

 Nome que com o decorrer do tempo, e com as variações da língua, foi mudado primeiro para Susanno, e depois para Susão, nome que se mantém até aos dias de hoje.



 ......No livro A Villa de Valongo, publicado no ano de 1904, o padre Joaquim Alves Lopes Reis conta com grande pormenor esta antiga lenda da Susanna.

 ......Na página 43 do livro A Villa de Vallongo, diz que terá sido por volta do ano 400 dc, que foram lançados os fundamentos da nobre Villa de Vallongo.

 ......E diz que terá também sido por volta desse ano 400 dc, que Vallongo terá começado a ser habitado de forma permanente, sem ser por povos invasores como os Romanos, ou os Mouros, que aqui habitaram com o único propósito de explorarem os nossos tesouros, como o ouro, a prata, e o antimónio, que na altura por aqui abundavam.

 ......Na página 46 e seguintes do livro A Villa de Vallongo, o padre Joaquim conta assim a lenda da Susanna, que para aqui terá vindo desterrada:

 ......Fazendo fé nessa antiga lenda terá sido por volta desse longínquo ano de 400 dc, no tempo em que os romanos ainda dominavam o Porto, que uma mulher chamada Susanna, terá sido condenada ao desterro, e terá para cá vindo habitar de forma permanente, tendo aqui constituído família e deixado descendentes.

 ......Como é certo pela história, em seguida à morte de Christo, o povo judeu sobre o qual começava a cair a mão de Deus foi vitima das maiores revoluções e desordens, e tudo fazia prever a sua ruína certa e horrorosa.

 ......Sinais horríveis aterravam os povos, ameaças vingadoras eram feitas à nação, e por toda a parte debaixo do céu da bella Sião se respirava a custo uma athmosphera pesada e triste.



 ......Entretanto os sacerdotes e os phariseus, cegos pelo erro que os tinha levado a condenar o inocente Jesus, e invejosos dos grandes progressos que fazia a religião cristã, moviam contra ela a maior de todas as guerras e procuravam combate-la por todos os meios e medos. 

 ......Depois de haverem prendido e açoitado por várias vezes os Apóstolos, proibindo que pregassem a sua doutrina, e perseguidos por mil maneiras os discípulos de Jesus, fizeram cair as suas iras sobre o diácono Santo Estevão, que foi cruelmente assassinado à pedrada.




 ......Foram também dados amplos poderes a um seu apaixonado chamado Saulo, que em Jerusalém, como ele mesmo diz, se dirigia a todas as casas que eram suspeitas de Cristianismo e arrastava para a prisão os homens e mulheres que confessassem a Jesus Cristo, mandando-os quase sempre atormentar e matar impiedosamente. 



 ......Todas estas violências e perseguições de que nos falam os Atos dos Apóstolos, no capitulo oitavo, fizeram intimidar os Cristãos, por tal maneira que, conhecendo eles quão perigosa e angustiada era a sua vida n'aquela cidade, muitos fugiram espalhando-se pelas diferentes povoações da Palestina.



 ......Um d'esses fugitivos foi Samuel um comerciante de tapeçarias e damascos, filho de Gamaliel, da tribo dos Sacerdotes e descendente do rei David, o qual, depois de haver vagueado juntamente com sua filha Susanna pelos desertos da Syria, chegou a Antiochia, cidade que ficava nas margens do Mediterrâneo.

 ......Aí, recolhido pelos cristãos, conservou-se por algum tempo, mas como mais tarde se acendesse novamente na Ásia o fogo da perseguição, os discípulos de São Tiago, que já haviam retirado de Jerusalém as relíquias do mestre, embarcaram com elas e com outros Christãos para o Occidente, entre eles vinham Samuel e a sua filha Susanna, vindo desembarcar em Cale, hoje Villa Nova de Gaya.

 ......Durante algum tempo viveram estes Cristãos ocultamente, com certeza, porque estavam no meio de um povo que só adorava ídolos e obedecia a leis que condenavam aqueles que servissem o verdadeiro Deus.





 ......Mas um dia, fascinado pela beleza e modéstia rara de Susanna, um certo cavalheiro romano de nobre e grada estirpe, chamado Domus, fez-se Cristão para que pudesse unir-se a ela, pelos laços do matrimónio, neste tempo já elevado à dignidade de Sacramento.

 ......Este matrimónio causou muito falatório na cidade, e, chegando ao conhecimento do governador que na sua terra ainda havia Cristãos, mandou que Susanna e o seu marido Domus fossem presos.



 ......Os discípulos de São Tiago fugiram com as relíquias do Apostolo, alguns Cristãos foram mortos, outros fugiram, e Susanna, em atenção talvez à sua virtude e dotes physicos, foi-lhe comutada a pena de morte em exílio perpétuo, sendo obrigada a sair da cidade em companhia de seu marido.

 ......Susanna e o marido terão então caminhado em direção ao Oriente, como a procurar com as lágrimas nos olhos a terra que lhe fora berço.

 ......Andou, e ao fim de um dia de viagem, sempre na companhia d'aquele que a providência lhe dera para a animar na desgraça, e consolar na tristeza por caminhos tortuosos por onde pé humano nunca tinha passado.

 ......Susanna andou, andou, até que chegou ao alto de um monte de onde se abre esse valle immenso, que mais tarde se veio a chamar Valle-Longo, e depois Vallongo.

 ......D'aí descendo à esquerda pela encosta do monte aí se estabeleceu, dando-lhe o nome da terra que havia deixado, e que começou a chamar-se Cale, nome depois mudado para Caledoel, ou Caledoellas, corrupção de Cale duelli, Cale do duello por causa de um combate ou duello que mais tarde houve alli.

 ......Passados tempos, como fosse conhecida a fertilidade da planície que diante d'elles se estendia, Susanna foi com sua família habitar a parte nordeste do valle na encosta do Monsô, a cujo lugar pôs também o nome de Cale, nome do seu primeiro habitante Cale Donni hoje Caledone ou Caledome.

 ......Mais tarde, Susanna já viúva com seus filhos, aos quais se vieram juntar outras famílias, constituiu um pequeno povoado que começou a ser conhecido pelo nome de "Pagus Susannus", a aldeia da Susanna, que com o decorrer do tempo, e com as variações da língua se mudou primeiro para Susanno, e depois em Susão.

 ......Na formação da língua portuguesa muitas palavras latinas terminadas em "annus", como Sussannus, mudaram a sua terminação para "ão".

 ......Como por exemplo, "germanus" foi mudado para irmão, "sanus" para são, Sebastianus para Sebastião, e Susannus para Susão.

 ......E assim termina a lenda da bela Susanna, que veio dar o seu nome a este lugar do Susão.

 A partir daqui este texto sobre "o túmulo" é totalmente da minha responsabilidade, até porque como veremos no fim, o Município de Valongo diz que o monumento de que falo a seguir não tem nada a ver com a Susanna. 

 No Século XVIII, em homenagem à bela Susanna, que para aqui terá vindo habitar por volta do ano de 400 dc, no local para onde se pensa que a Susanna terá habitado, foi erigido um monumento, a que nós  em Valongo chamamos "o túmulo". 




 Antiga fotografia do monumento "d'o túmulo", do Acervo do Arquivo Histórico de Valongo.



 O túmulo existente no monumento tem gravada em numeração Romana a data de 1783. 

 Ano MDCCLXXXIII, 1783.



 Toda a área envolvente a este monumento "d'o túmulo" foram alvo de reabilitação.

 Conheço bem este local, conheço-o desde criança, ainda não andava na escola primária e já conhecia "o túmulo", porque a minha juventude entre os anos de 1957 e 1971 foi passada metade em Valongo, e metade no Susão, onde o meu pai tinha uma fábrica de lousas escolares.

 Nesse tempo para mim o túmulo ficava no meio dos montes, quando em criança fazíamos um passeio até ao túmulo era uma aventura, se dissesse ao meu pai onde ia ele já não me deixava sair da fábrica, dizia logo que o túmulo ficava no meio das pedreiras e era muito perigoso, e era verdade.

 Mas actualmente este é um dos locais mais bonitos para visitar em Valongo. 

 Agora vou pôr algumas fotografias actuais deste monumento d'o túmulo, que eu achava que tinha sido erigido em homenagem à bela Susanna.



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 Na base de algumas das cruzes tem uns hieróglifos de que não sei o significado. 



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 ......Sempre associei este monumento d'o túmulo à Susanna, que para aqui terá vindo habitar no ano de 400 dc, e confesso que fiquei muito desiludido quando li a placa informativa que ponho a seguir. 



 ......E como podemos ler nesta placa informativa do Município de Valongo, diz uma coisa completamente diferente sobre este monumento, que eu sempre acreditei que tinha sido erigido em homenagem à Susanna.   

 Fernando Almeida

 Um passeio de barco pelo Rio Douro, até à Ilha dos Amores.

 A Ilha dos Amores, é uma pequena ilha que fica na zona de Entre-os-Rios, fica no Rio Douro um bocado acima do local onde o Rio Paiva desagua no Rio Douro. 




 Saímos da Marina de Gondomar, parámos na Marina das Medas para tomar café, depois saímos rio acima e fomos até à Ilha dos Amores.



 A Marina de Gondomar, a marina de Medas e muitas outras marinas só existem a partir da altura em que foi feita a Barragem de Crestuma-Lever, que tem uma bacia de muitos quilómetros de comprimento.

 A Ilha dos Amores, é esta pequena ilha que fica na zona de Entre-os-Rios, actualmente, como vemos a ilha já tem um ancoradouro, mas como veremos quando lá fomos na década de 1990 ainda não tinha, e tivemos que desembarcar em cima de umas rochas.



 A Ilha dos Amores.



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 Apesar de já ter passado mais de 30 anos ainda me lembro bem desse passeio de barco, íamos a subir o rio e eu resolvi sentar-me na proa do barco, o meu primo acelerou o barco, e olha foi a última vez que vi o meu boné de marinheiro.





 Tirei algumas fotografias desse nosso passeio que fizemos na década de 1990, em que subimos de barco o Rio Douro desde a Marina de Gondomar até à Ilha dos Amores.



 Década de 1990, o desembarque na Ilha dos Amores.

 Na altura ainda não existia o ancoradouro, tivemos que amarrar o barco a uma árvore, nesta fotografia estão os meus filhos e os filhos do meu primo sentados na proa do barco, à espera que amarrasse-mos o barco para desembarcarem.



 Década de 1990, finalmente já estamos todos em terra firme o desembarque correu bem.



 Década de 1990, na Ilha dos Amores.





 Década de 1990, na Ilha dos Amores.



 Década de 1990, na Ilha dos Amores, uma fotografia com o meu filho mais novo a fazer uma pose para a posteridade.

 Na Ilha dos Amores tem vestígios de umas construções com paredes granito, com aspecto de serem muito antigas.

 Recentemente no ano de 2018, num passeio que fizemos para ir até às Minas do Pejão, fomos pela estrada de Castelo de Paiva, e paramos num miradouro com uma vista muito linda para a Ilha dos Amores, e para o local onde o Rio Paiva desagua no Douro, e aproveitei para tirar umas fotografias.



 Ano de 2018 - no miradouro da estrada para Castelo de Paiva, de onde se vê a Ilha dos Amores e o Rio Paiva a desaguar no Douro.





 Ano de 2018.



 Ano de 2018 - A Ilha dos Amores vista do Miradouro no caminho para Castelo de Paiva, o Rio Douro é o que vem pela esquerda, no lado direito vemos o Rio Paiva a desagua no Rio Douro.



 Arranjei não imagino aonde esta antiga fotografia que deve ter sido tirada no mesmo miradouro da anterior, na estrada que vai de Entre-os-Rios para Castelo de Paiva, no lado esquerdo vemos o Rio Douro, e no lado direito vemos o Rio Paiva a desaguar no Rio Douro.

 Como podemos ver nesta antiga fotografia antes da construção das barragens, quando o Douro tinha pouco caudal, dava para ir a pé até à Ilha dos Amores.

 Saímos da ilha, e no caminho de regresso paramos num parque de merendas do lado de Gaia, onde comemos o farnel que tínhamos levado, e "prontus" terminou assim este nosso passeio de um sábado até à Ilha dos Amores. 

Fernando Almeida