sexta-feira, 9 de outubro de 2015

 Como é que consegui a grande proeza de ter sido preso 2 vezes antes dos 10 anos.

 A primeira ocorrência aconteceu devia ter os meus 6 anos, estávamos portanto em 1960, e nesse tempo como todos os miúdos dessa época ou estávamos na escola, ou a brincar na rua a jogar à bola.

 Mas na altura em que aconteceu a primeira ocorrência tínhamos um grupo, e actuávamos como se fossemos uma Corporação de Bombeiros.

Tínhamos todo o equipamento como os bombeiros a sério, tínhamos um cinto em cabedal, um rolo de corda, e um machado. 

 Tinha-mos também um cabo de vassoura que tinha pregado na ponta muitas tiras de câmara-de-ar de bicicleta, que era a ferramenta de sapador com que apagávamos os fogos, parecíamos mesmo bombeiros a sério.

 Havia um miúdo mais velho que era o comandante da nossa corporação, era ele que ateava pequenos fogos nas silvas que existiam nos caminhos, e lá íamos nós os sapadores e apagávamos o fogo, até que um belo dia resolveu pegar fogo num silvado num caminho muito próximo do monte de Santa Justa.

 O silvado lá começou a arder, e entramos em cena nós os sapadores com os nossos cabos de vassoura com as tiras de câmaras-de-ar, mas quanto mais batíamos mais o fogo alastrava, até que chegou aos pinheiros.

 O fogo ficou incontrolável, foi quem mais fugiu cada um para o seu lado, eu larguei todo o material que me fazia parecer um bombeiro, mas tive medo de ir para casa não fosse a minha mãe perguntar porque é que vinha a fugir, fui para uma casa de quinta que ficava mesmo por trás da minha casa, que era da Dona Maria e fiquei por lá.

 Mas passado algum tempo a Dona Maria como viu que havia muito movimento de carros de Bombeiros, e como o fogo era quase colado há quinta, resolveu ir ver e disse-me para ir com ela.

 Embora contrariado mas para ela não desconfiar lá fui com ela, quando chegamos estavam lá dois soldados da GNR a falar com uma senhora que lhes estava a dizer que quem tinha pegado o fogo tinham sido os meus primos, os gémeos.

 Eu sabia que era mentira, eles também tinham estado lá, e tal como eu também faziam parte da corporação de bombeiros a brincar, mas quem acendeu o fósforo, e incendiou as silvas foi o tal miúdo mais velho, que era o nosso chefe.

 Aquilo revoltou-me, e disse à Dona Maria que não tinham sido os meus primos quem tinha pegado o fogo, não sei se foi a dona Maria quem me acusou, ou se foi alguém que me ouviu a dizer, mas o que sei é que passado algum tempo um dos soldados da GNR estava a agarrar-me e nunca mais me largou.

 Levaram-me para o antigo posto da GNR, que ficava junto ao Padrão de Valongo, na rua Alves Saldanha.



 O antigo posto da GNR de Valongo funcionava na casa que se vê no lado esquerdo desta imagem da Google, junto ao padrão na Rua Alves Saldanha.

 Chegado ao Posto, escoltado pelos 2 soldados da GNR, fui interrogado pelo chefe, tive que contar a história toda da nossa corporação de bombeiros, e tive que dar o nome de todos os colegas envolvidos no incêndio.

 Perguntaram quem era o meu pai e telefonaram-lhe, passadas umas longas horas o meu pai lá me foi buscar, não sei o resultado desta investigação ao incêndio, nem sei se alguém foi castigado, o que sei é que no sitio onde o incêndio aconteceu ainda hoje passados mais de 50 anos ainda não existem árvores, dá para ver o que uma inocente brincadeira de crianças com pretensões de virem a  ser bombeiros pode fazer, nunca mais na vida brincamos aos bombeiros.




 A segunda ocorrência ainda foi mais estranha, já devia ter os meus 7 anos, estávamos a jogar à bola na rua onde moravam os meus primos gémeos, eles também estavam a jogar, quando de repente surge uma carroça puxada por um cavalo em alta velocidade.

 A carroça vinha completamente desgovernada, de repente virou e veio para cima de nós, todos os miúdos que viram a carroça conseguiram fugir.

 Mas eu não vi a carroça, e quando me virei só me lembro de ver o cavalo à minha frente a bater-me no peito.

 Caí de costas, lembro-me da carroça me ter passado por cima, vi o eixo das rodas a passar-me por cima, quando a carroça acabou de me passar por cima levantei-me e desatei a fugir. 

 Fiquei com o peito todo pisado devido à pancada que o cavalo me deu, e fiquei com a sola de um sapato arrancada, o cavalo deve-o ter pisado com os cascos quando me passou por cima, de resto estava direitinho nem um arranhão tinha. 

 Mas entretanto o que é que aconteceu que fez com que eu fosse preso pela segunda vez.

 É que o condutor da carroça, quando me passou por cima não deve ter visto que eu fugi, deve ter pensado que me tinha matado, e como sabia que é proibido jogar à bola na via pública foi direitinho ao posto da GNR fazer uma queixa. 

 Consequência, passado algum tempo estava eu na Quelha do Bexiga, quando apareceram dois soldados da GNR e me prenderam, nunca soube quem disse à GNR que fui eu quem ficou debaixo da carroça.

 Pela segunda vez fui levado para o posto da GNR e voltei a ser interrogado pelo chefe da GNR, que voltou a telefonar ao meu Pai.

 E passadas  mais umas longas horas o santo do meu Pai lá me foi novamente buscar ao posto da GNR. 

 Também não sei o seguimento desta minha segunda ida para o posto da GNR de Valongo, mas se calhar o meu Pai ainda deve ter pago alguma multa por eu estar a jogar há bola no meio da rua.

 PS: Embora seja uma história verdadeira omiti os nomes dos intervenientes, mas se algum deles vier a ler esta publicação vai saber de quem estou a falar. 

 Fernando Almeida

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