Como é que consegui a grande proeza de ter sido preso 2 vezes antes dos 10 anos.
A primeira
ocorrência aconteceu devia ter os meus 6 anos, estávamos portanto em
1960, e nesse tempo como todos os miúdos dessa época ou estávamos na
escola, ou a brincar na rua a jogar à bola.
Na altura
em que aconteceu a primeira ocorrência tínhamos um grupo, e actuávamos como se
fossemos uma Corporação de Bombeiros.
Eramos todos miudos, mas tínhamos todo o equipamento como os bombeiros a sério, tínhamos um cinto em
cabedal, um rolo de corda, e um machado em chapa.
Tinha-mos também um cabo de vassoura, que tinha pregado na ponta muitas tiras de câmara-de-ar de bicicleta, que era a ferramenta de sapador com que apagávamos os fogos, parecíamos mesmo bombeiros a sério.
Havia um miúdo mais velho que era o comandante da corporação, era ele que ateava pequenos fogos nas silvas que existiam nos caminhos, e depois lá íamos nós os sapadores e apagávamos o fogo, até que um belo dia resolveu pegar fogo num silvado num caminho muito próximo do monte de Santa Justa.
O silvado lá começou a arder, e entramos em cena nós os sapadores com os nossos cabos de vassoura com as tiras de câmaras-de-ar, mas quanto mais batíamos mais o fogo alastrava, até que chegou aos pinheiros.
O fogo ficou incontrolável, foi quem mais fugiu, cada um para o seu lado, eu larguei todo o material que me fazia parecer um bombeiro, mas tive medo de ir para casa não fosse a minha mãe perguntar porque é que vinha a fugir, fui para uma casa de quinta que ficava mesmo por trás da minha casa, que era da Dona Maria e fiquei por lá.
Mas
passado algum tempo a Dona Maria como viu que havia muito movimento de carros
de Bombeiros, e como o fogo era quase colado há quinta, resolveu ir ver e
disse-me para ir com ela.
Embora
contrariado, mas para ela não desconfiar lá fui com ela, quando chegamos estavam
lá dois soldados da GNR, a falar com uma senhora que lhes estava a dizer que
quem tinha pegado o fogo tinham sido os meus primos, os gémeos.
Eu sabia
que era mentira, eles também tinham estado lá, e tal como eu também faziam
parte da nossa corporação de bombeiros de brincadeira, mas quem acendeu o fósforo,
e incendiou as silvas foi o tal miúdo mais velho, que era o
nosso chefe.
Aquilo revoltou-me, e acabei por contar à Dona Maria que não tinham sido os meus primos quem tinha pegado o fogo, não sei se foi a dona Maria quem me acusou, ou se foi alguém que me ouviu a dizer, mas o que sei é que passado algum tempo um dos soldados da GNR estava a agarrar-me, e nunca mais me largou.
Cheguei ao quartel da GNR escoltado pelos 2 guardas, fui interrogado pelo chefe, e lá tive que contar a história toda da nossa corporação de bombeiros, e tive que dar o nome de todos os colegas que estiveram envolvidos no incêndio.
Depois perguntou-me quem era o meu pai, e telefonou-lhe, e passadas umas longas horas o meu pai lá me foi buscar.
Não sei o resultado desta investigação ao incêndio, nem sei se
alguém foi castigado, o que sei é que no sitio onde o incêndio aconteceu ainda
hoje, passados que estão mais de 50 anos ainda não existem árvores, dá para ver o que
uma inocente brincadeira de crianças com pretensões de virem a ser
bombeiros pode fazer, nunca mais na vida brincamos aos bombeiros.
A segunda ocorrência em que fui preso ainda foi mais estranha, na altura devia ter os meus 7 anos, estávamos a jogar à bola na rua onde moravam os meus primos gémeos, eles também estavam a jogar, quando de repente surge uma carroça puxada por um cavalo em alta velocidade.
A carroça vinha completamente desgovernada, de repente virou e veio para cima de nós, todos os miúdos que viram a carroça conseguiram fugir.
Mas eu não vi a carroça, e quando me virei só me lembro de ver o cavalo à minha frente a bater-me no peito.
Caí de costas, lembro-me da carroça me ter passado por cima, vi o eixo das rodas a passar-me por cima, quando a carroça acabou de me passar por cima, levantei-me e desatei a fugir.
Fiquei com o peito pisado devido à pancada que o cavalo me deu, e fiquei com a sola de um dos sapato arrancada, o cavalo deve-o ter pisado com os cascos quando me passou por cima, de resto estava direitinho nem um arranhão tinha.
Mas entretanto o que é que aconteceu, que fez com que eu fosse preso pela segunda vez.
É que o condutor da carroça, quando me passou por cima não deve ter visto que eu fugi a correr, deve ter pensado que me tinha matado, e como sabia que é proibido jogar à bola na via pública, foi direitinho ao posto da GNR fazer uma queixa.
Consequência, passado algum tempo estava eu na Quelha do Bexiga, quando apareceram dois soldados da GNR e me prenderam, nunca soube quem disse à GNR que fui eu quem tinha ficado debaixo da carroça.
E foi assim que pela segunda vez fui levado para o posto da GNR, e voltei a ser interrogado pelo chefe, que voltou a telefonar ao meu Pai.
E passadas mais umas longas horas, o santo do meu Pai lá me foi novamente buscar ao posto da GNR.
Também não sei o seguimento desta minha segunda ida para o posto da GNR de Valongo para ser interrugado, mas se calhar o meu Pai ainda deve ter pago alguma multa por eu estar a jogar há bola no meio da rua.
PS: Embora nestas sejam duas histórias verdadeiras, omiti os nomes dos intervenientes, mas se algum deles vier a ler esta publicação vai saber de quem estou a falar.
Fernando
Almeida
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