Uma viagem pela história de Vallongo.
Muitos textos e algumas fotografias que vou utilizar nesta publicação, são do livro A Villa de Vallongo, livro publicado em 1904 pelo padre Joaquim Alves Lopes Reis, um cidadão nascido em Vallongo no ano de 1871.
Desde à muitos anos que colecciono fotografias, e colecções de postais que periodicamente vão sendo emitidos pelo Arquivo Histórico de Valongo.
E quando me ponho a olhar para essas antigas fotografias vejo que Valongo está muito diferente, por isso resolvi fazer esta publicação onde vou fazer uma comparação de como eram alguns dos locais, e como estão actualmente.
E já agora como sou natural de Valongo, cidade onde nasci e sempre vivi, também vou contar um pouco do que sei sobre a história de alguns dos locais, e de alguns edifícios por onde vou passar.
O percurso histórico que vou fazer é de cerca de 1 km, vou começar na Rua de São Mamede, vou seguir pelo centro de Valongo, pela estrada nacional 15, antiga estrada real 33, e vou terminar na estação dos Caminhos-de-ferro de Valongo, e pelo caminho vou fazendo alguns desvios, mas sem me desviar muito do trajecto principal.
Conheço relativamente bem, e gosto de cada um dos lugares por onde vou passar, todos eles me trazem recordações da minha infância, e de muitos familiares e amigos já desaparecidos.
Começo esta grande viagem pela história de Vallongo com esta fotografia, que está na página 34 do livro A Villa de Vallongo.
Nesta fotografia vemos como era a Rua de São Mamede nos finais do Século XIX.
......Esmiuçando esta fotografia começando no lado esquerdo vemos uma Casa Apalaçada, que infelizmente foi demolida em 1960 para dar lugar a uma área comercial, falarei dela mais à frente.
......A seguir vemos o antigo Edifício dos Paços do Concelho, nas janelas do piso térreo ainda vemos as grades de ferro da antiga Cadeia de Valongo.
......Depois a seguir vemos a Capela de São Bruno, que é encimada por uma Cruz.
......E se olharmos bem, por cima do antigo edifício dos Paços do Concelho conseguimos ver as torres da Igreja de Valongo.
......Continuando a esmiuçar esta fotografia mas agora começando lá no fundo, no lado direito da rua vemos o cruzeiro que encimava a antiga Ponte Carvalha, que foi destruída devido a uma grande inundação conforme contarei mais à frente.
......A meio da rua no lado direito vemos um grupo de pessoas a conversar entre o café Ribeiro e a casa da Sra. Odete, aí começa uma rua que começou por ter o nome de Rua Oliveira Zina, nome que mais tarde foi alterado para Avenida Dom Carlos I.
......Mas no ano de 1936, quando da passagem do primeiro Centenário da criação do Concelho de Valongo, foi decidido que o largo que se abre no início desta rua, passasse a ser chamado Largo do Centenário, nome que se mantém até aos dias de hoje, também falarei dele mais à frente.
......E como podemos ver passados que estão mais de 120 anos a varanda ainda é a mesma.
......Vemos que todos os edifícios deste troço da Rua de São Mamede foram preservados, à excepção da Casa Apalaçada que ficava onde agora existe este edifício envidraçado, que está destinado ao comércio.
......Vemos também que lá ao fundo no lado direito já não existe a antiga Ponte Carvalha, que era encimada por um Cruzeiro porque ela foi destruída, conforme contarei à frente.
Ano de 2019, foi da varanda deste edifício que foi tirada a fotografia que está na pág. 34 do livro A Villa de Vallongo.
Um jovem a pescar no Rio Simão junto à Ponte Carvalha, esta esta fotografia está na página 103 do livro A Villa de Vallongo.
......Chama-se
Carvalha, porque n'este lugar existiu antigamente um carvalho de desmedida
grandeza e grossura, porém antes d'esta existiu uma outra ponte mais
grosseira e pequena, de que já há memória em 1590, pois que já n'esse tempo se falava
na Ponte Carvalha.
......Um acontecimento trágico veio paralisar por algum tempo o aumento progressivo d'esta Villa e causar a seus habitantes terríveis prejuízos, foi a inundação de 7 de Novembro de 1876.
......Era ao cair da tarde de um dia de pesado inverno e o trovão ribombava continuo e atroador, semeando nos espíritos o horror e o medo.
......O caudal do ribeiro da Ponte Carvalha aumentando imensamente, tornava-se caudaloso, e
estendia as suas águas já pela Rua de São Mamede.
......O ruído que causou esta derrocada em noite tão tempestuosa e má, juntamente com o repentino crescer das águas, que chegaram a atingir próximo da ponte a altura de três metros, causou um momento de temor, que ainda hoje se não pode recordar, sem algum estremecimento, ouviram-se por muitas partes gritos lancinantes e aflitivos.
......A corrente alastrava-se horrenda, produzindo efeitos desastrosos, e toda a parte baixa da Villa ficou completamente inundada.......As grandes pedras de granito, que formavam as guardas da ponte foram arremessadas até junto dos prédios que ficam de fronte, ao outro lado da rua.
......Os prejuízos foram enormes, talvez dezenas de contos de réis, e tão lamentáveis, que foi formada no Porto uma comissão, por iniciativa de Sua Majestade a Rainha Dona Maria para angariar esmolas a fim de socorrer as vitimas das inundações, d'aquele inverno horroroso em todo o País.
O cruzeiro da antiga Ponte Carvalha foi colocado aqui no caminho perto da
capela da Santa Justa.
Nesta fotografia da primeira metade do Século XX, vemos 3 senhores em cima da ponte que substituiu a antiga Ponte Carvalha.
Esta fotografia foi tirada mesmo no topo da Rua de São Mamede, com vista para o antigo edifício dos Paços do Concelho.
Ano de 2018, fotografia tirada em cima da Ponte Carvalha, com a mesma vista da foto anterior e como podemos ver os edifícios ainda são os mesmos.
......Rio Simão é o rio que aí passa, recebe as águas do Ribeiro
do Cambado, e antes da linha férrea era o mesmo ribeiro que de Centiaes vinha
a Fontelos no Susão, donde corria por Contenças a caminho de Vallongo.
......Isto fazia com que este Rio tivesse sempre águas, e moesse em vários moinhos quase todo o ano, e criasse muito boas enguias cuja pesca era um dos passatempos das tardes de Verão, hoje só não seca desde o Borbulhão em diante, é porém, no Inverno muito caudaloso e por vezes tem causado imensos prejuízos.
Ano de 2018, como veremos na foto a seguir até meados do Século XX, o local onde hoje existe este jardim, com este bonito lago em forma de coração ainda estava ocupado por casas.
Como podemos ver nesta antiga fotografia da Rua de Sousa Paupério, lá ao fundo no lado esquerdo ainda existem casas, onde hoje existe o tal jardim que tem um lago em forma de coração.
Neste tempo como vemos a estrada nacional não seguia pela escola do Conde Ferreira, ainda vinha para cima na direcção da Igreja, donde depois seguia a caminho do Porto pela estrada velha.
Ano de 2018, como tinha dito lá atrás, o Rio Simão depois de entrar no túnel da Ponte Carvalha só volta a ver a luz do dia aqui nas traseiras do Museu Municipal.
Agora vou voltar para o meu trajecto principal, e vou começar a descer a Rua de São Mamede, estrada nacional 15, antiga estrada real 33.
Ano de 2018, e começando a descer a Rua de São Mamede vemos que as casas ainda são as mesmas de antigamente.
Na
segunda casa que tem azulejos amarelos antigamente era o Registo Civil, e na terceira que tem
azulejos azuis era o Cartório Notarial.
Continuando a descer a Rua de São Mamede, logo à frente chegamos ao cruzamento que dá acesso ao Largo do Centenário.
......Avenida D. Carlos I, é a avenida que saindo da Rua de São Mamede segue a estrada de Alfena.
Mesmo no topo do Largo do Centenário fica a antiga escola primária do sexo feminino.
......Na pág. 213 do livro A Villa de Vallongo diz o seguinte sobre esta, e outras escolas que foram criadas em Valongo:
Ano de 2018, a antiga escola do sexo feminino já não funciona como escola primária.
Um esboço do quartel dos Bombeiros Voluntários de Valongo, e do Theatro Oliveira Zina, que foi edificado no Largo do Centenário.
Antiga fotografia do Largo do Centenário, onde vemos o quartel dos bombeiros, o Theatro Oliveira Zina, a escola do sexo feminino, e vemos a Cabina que foi o primeiro posto de transformação de Valongo.
Nesta
imagem mais ou menos com a mesma vista da fotografia anterior, vemos a Cabina, que foi o primeiro posto de transformação de Valongo, e o antigo quartel dos bombeiros, no Largo do Centenário.
Ano de 2018, a antiga Cabina no Largo do Centenário ainda cá está.
Ano de 2018, no Largo do Centenário.
Antiga fotografia onde vemos 3 senhores a passarem na frente do quartel
dos bombeiros, no Largo do Centenário.
Antiga fotografia onde vemos uma família na frente do quartel dos bombeiros, no Largo do Centenário.
Outra antiga fotografia do Arquivo Histórico Municipal de Valongo, onde vemos um grupo de bombeiros na frente do quartel dos bombeiros, no Largo do Centenário.
Viaturas dos Bombeiros na frente do quartel, no Largo do Centenário.
Viaturas dos Bombeiros na frente do quartel, no Largo do Centenário.
Fotografia do ano de 1960, onde vemos a viatura MN-44-81 dos Bombeiros Voluntários de Valongo a participar num cortejo que percorreu o centro de Valongo.
A viatura MN-44-81 dos Bombeiros Voluntários de Valongo ainda está no activo.
O
esboço para a ampliação do quartel dos bombeiros, e transformação
do Theatro Oliveira Zina numa Sala de Cinema.
Esta alteração implicou que a bonita abobada do teatro fosse demolida, para que o lado direito ficasse igual ao lado esquerdo, com mais um piso onde ficou o balcão e a máquina de projecção do cinema.
O edifício ficou completamente abandonado e começou a ser vandalizado.
Ano de 2018, mas como se costuma dizer, não à mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe, e o novo executivo camarário no cumprimento de uma promessa eleitoral, já começou com a restauração deste edifício, que vai ser transformado num pólo de desenvolvimento para o Concelho de Valongo.
Ano de 2020, e finalmente o antigo edifício dos bombeiros já está concluído, só falta ser inaugurado parabéns.
Ano de
2020, e cá está a Oficina da Regueifa & do Biscoito de Valongo.
Nesta antiga fotografia vemos um grupo de pessoas a subir o Largo do Centenário, ainda conheci este largo assim com o fontanário que se vê no lado esquerdo.
Ano de 2018, fotografia tirada no mesmo local e com o mesmo enquadramento da foto anterior.
Lá ao fundo na Rua de São Mamede vemos a Capela
de São Bruno e o antigo Edifício dos Paços do Concelho, que agora é o Museu e
Arquivo Municipal de Valongo, mas a bonita clarabóia do
edifício mais à esquerda já não existe.
Agora
nesta antiga fotografia, vemos como era o movimento de pessoas na Rua de São Mamede nos finais do século
XIX.
O antigo edifício dos Paços do Concelho e a Capela de São Bruno, são actualmente o Museu e Arquivo Histórico de Valongo.
......No livro A Villa de Vallongo, este edifício é citado muitas vezes, por isso vou pôr aqui um pequeno excerto que tem o titulo:
......E realmente, além da beleza de Príncipe, este Rei, embora muito inconstante, tornava-se simpático pelo seu caráter bondoso, afável e acessível a todos com quem tratava, as manchas da sua vida politica, estamos certos d'isso, são mais resultado das sugestões de apaixonados conselheiros do que fruto das suas intenções que eram boas......
Ano de 2018, fotografia tirada no mesmo local e com a mesma vista da
foto anterior, no cruzamento da Rua de São Mamede com o Largo do
Centenário.
Esmiuçando
esta fotografia, no lado direito ainda vemos a Capela de São Bruno, depois a seguir temos o antigo Edifício dos Paços do Concelho, a seguir no lugar da Casa Apalaçada infelizmente agora vemos um edifício envidraçado,
que está destinado ao comércio.
Na entrada do antigo edifício dos Paços do Concelho, existe esta placa informativa que conta a sua história.
Na Rua de São Mamede, logo a seguir ao edifício dos Paços do Concelho existia este Edifício Apalaçado que eu ainda conheci, mas infelizmente ele foi demolido em 1960 para dar lugar a uma área comercial, conforme mostrarei.
Nesta
antiga fotografia onde vemos um exercício dos bombeiros na Rua de São Mamede, ainda
conseguimos ver o antigo Edifício
Apalaçado.
Tenho
que confessar que quando comecei a escrever esta publicação, não fazia a mais
pequena ideia sobre qual seria a origem deste Edifício Apalaçado.
Para mim a origem deste edifício era uma grande
incógnita, não sabia se ele teria sido a casa de habitação de alguém
importante, ou se teria sido sempre um edifício destinado ao comércio, por isso
resolvi investigar, para ver se alguém saberia qual a sua origem.
......Claro que só perguntei a pessoas mais velhas do que eu, e de
cada uma das pessoas a quem perguntei fui sabendo mais coisas sobre esse antigo
edifício.
......Por
exemplo o Francisco Pires disse-me que o seu tio Manuel tanoeiro, antes de se mudar por volta
de 1960, para a reta do Araújo, tinha a tanoaria nesse edifício.
......O Zé Alves disse-me que havia lá um sapateiro, que era o Sr. Pardal.
......O
Zé Alves também me disse que a
loja de fruta do pai do Sr. Rocha era nesse edifício, só depois, por volta de 1960 é que se mudou para
o outro lado da rua.
......Mas
não estava a ser uma tarefa fácil saber qual a origem deste edifício apalaçado, estava mesmo
quase a desistir, já estava a ficar
cansado de fazer perguntas.
......Mas
como costumo dizer não à mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe, e
aconteceu aquilo com que eu já não esperava, no mesmo dia duas pessoas disseram-me
sem qualquer hesitação, esse edifício era a Casa das Carruagens.
A
partir do momento que me disseram que aquele edifício era a casa das carruagens, a minha tarefa tornou-se fácil porque no livro A Villa de Vallongo, diz que em Valongo tinham existido duas Alquilarias
com boas Carruagens.
......Na página 396 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre os serviços que existiam em Valongo no século XIX:
......Vallongo possui de tudo, tem estabelecimentos de
primeira ordem, mercearia, lojas de fazendas, de panos e de ferragens.
......Possui restaurantes, hotéis, cafés elegantemente montados, possui depósitos, armazéns de trigo e farinhas, possui duas pharmácias, ourivesarias, louçarias, bijouterias, e possui duas Alquilarias com boas Carruagens.
......Uma
das pessoas que me deu a informação sobre a Casa das Carruagens foi o meu tio António, ele nasceu em Valongo no
ano de 1924, ele sabe esta, e muitas outras coisas sobre como era Valongo
noutros tempos, porque o pai lhe contava, o pai era das poucas pessoas que
tinha uma edição ainda escrita em fascículos separados, antes do Padre
Joaquim publicar o livro A Villa
de Vallongo.
......O
meu tio António contou-me a mim e ao Xico Pires, que o ultimo dono desse
edifício da Casa das Carruagens era conhecido em Valongo como o Zé dos cães, e
ainda nos contou muito mais coisas sobre este senhor que seria muito mau.
No piso superior dessa alquilaria de carruagens na Rua de São Mamede era uma hospedaria, onde os viajantes vindos de Trás-os-Montes e Alto-Douro pernoitavam antes de partirem para o destino final da viagem, que seria a cidade do Porto, ou Vila Nova de Gaia.
No tempo em que as carruagens passavam por Valongo, o centro devia ser muito movimentado, com a azafama de carregar e descarregar bagagens, e com a chegada e partida das carruagens.
Na altura uma viagem de carruagem de Valongo até ao Porto seguindo pela estrada velha devia levar um dia, por isso os viajantes faziam uma ultima paragem aqui em Valongo, para descansarem, comerem alguma coisa e vestirem uma roupinha melhor, para a chegada ao destino final, que seria o Porto e Vila Nova de Gaia.
Outra alquilaria de carruagens.
Outra alquilaria de carruagens.
Outra alquilaria de carruagens.
Mas a passagem por Valongo dos Comboios da Linha do Douro, veio acabar com todo esse movimento e azafama que existia devido à passagem das Carruagens mesmo pelo centro da vila.
......Na página 223 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre a passagem da linha férrea do Douro por Valongo:
......A 29 de Julho de 1875 inaugura-se a linha férrea do Douro entre Ermesinde e Penafiel, a qual passados alguns anos até tem contribuído para um grande desenvolvimento de Valongo, embora por algum tempo tenha sido um golpe de morte para o nosso comércio e industria.
......Porque até ao aparecimento do Comboio, era por Vallongo que passavam todas as mercadorias e passageiros que do Alto Douro e terras de Trás-os-Montes desciam para o Porto, seguiam a estrada real nº 33, que d’essa cidade ia a Penafiel, Amarante, Régua, Chaves e Bragança até à Hespanha.
......E
todos os dias n’esta terra atravessava uma multidão imensa de povo de todas as
condições e estados, almocreves, estafetas, carroças, liteiras com malas
postais, que aqui descansavam, comiam, compravam e vendiam, constituindo aqui
um centro de comercio que muitas vezes fez a felicidade de bastantes
famílias.
......Era o que fazia dizer aos nossos pais, que à beira da estrada vendendo iscas de dez réis e meios quartilhos de vinho, pode-se arranjar bem a vida.
......E podia, porque a primeira estância para refresco dos viandantes, depois da saída do Porto, era Vallongo, onde também os transeuntes se muniam do afamado pão, quando iam para aquela cidade.
......A passagem do caminho de ferro por Vallongo com tudo isto acabou, e, se não fossem os elementos de vida que esta terra possuía em si, graças ao seu comércio e exploração das riquezas do seu solo, talvez estivéssemos a registar na história o decréscimo ou desaparecimento de uma povoação importante, vitima das maravilhas do progresso.
......Mais tarde as coisas começaram melhorar, e hoje, em 1904, já o caminho de ferro é fonte de bastantes bens para esta terra, sendo o seu movimento dos de maior escala que se realizam em toda a linha do Douro.
......A estação de Vallongo tem quatro vias, duas para passagem dos comboios ordinários, e outras duas para resguardo dos wagons, que continuamente ali demoram a carregar e descarregar mercadorias.
......Para depósito e arrecadação dessas mercadorias à dois cais, um coberto e fechado e outro descoberto, bem como um crescido numero de empregados para bom desempenho do serviço.
Mas agora voltando novamente para o meu trajecto histórico, para a Rua de São Mamede, EN 15, antiga estrada real 33.
Ano
de 2018, onde agora vemos este edifício
envidraçado, antigamente ficava o Edifício Apalaçado que era uma das duas Alquilarias de Carruagens que existiam em
Vallongo.
Ano
de 2018, uma família de
Valongo guardou algumas pedras, desse edifício da
antiga Alquilaria de Carruagens, que depois utilizou para fazer uns bancos de jardim.
Pelo bonito
trabalhado das pedras com volutas que existiam nos corrimãos, podemos imaginar a beleza que o edifício devia ter.
Corrimãos de escadarias feitos
em granito com volutas.
Mas
continuando a descer a Rua de São Mamede, logo a seguir à Alquilaria de
Carruagens, ficava o Hotel
Central.
Este edifício do antigo Hotel Central foi preservado até aos dias de hoje, ainda o conheci como pensão e restaurante, cheguei a almoçar lá algumas vezes.
Ano de 2018, como está o antigo Hotel Central na Rua de São Mamede, actualmente está destinado ao comércio.
Ano de 2018, nesta fotografia vemos a procissão de São Mamede, que é o Santo padroeiro de Valongo, a passar no edifício do antigo Hotel Central, na Rua de São Mamede.
Mesmo em frente ao Hotel Central, no outro lado da rua existia a loja da Fábrica de Bolachas e Biscoitos Paupério.
No
piso superior deste edifício ainda está o Clube Recreativo de Valongo, que já fez 117 anos, depois à direita ainda
continua a ser uma loja de fruta, mas já não pertence ao Sr. Rocha, no piso
superior já não existe o Sindicato dos Mineiros, e no último edifício ainda
continua a ser o Café Vale.
Ano de 2018, actualmente a loja de biscoitos Paupério fica no mesmo edifício da fábrica, na Rua Sousa Paupério.
Antiga fotografia da Rua Sousa Paupério, onde vemos a Fábrica de Bolachas e Biscoitos Paupério.
A
fábrica Paupério publicou um livro onde é contada toda a história da formação
da sociedade Paupério &
Companhia, no ano de 1874.
Nesse
livro da fábrica Paupério é contada a história da vida dos dois sócios fundadores
da Paupério &
Companhia.
Fábrica Paupério a fazer bolachas e biscoitos
desde o ano de 1874.
No mesmo edifício onde existia a loja de biscoitos Paupério, abriu a loja de bolachas e biscoitos Aguiar.
Antiga fotografia da Rua de São Mamede, vemos o grande movimento de pessoas neste troço de rua, era aqui neste local que paravam as carruagens antes de ter sido inaugurada a linha férrea do Douro.
Ano
de 2018, como está
actualmente a Rua de São Mamede, o movimento de pessoas é
quase inexistente, existem é muitos carros, os edifícios foram sendo
restaurados, mas como se vê ainda são quase todos os mesmos de antigamente.
Considero esta fotografia muito importante, porque é anterior à abertura da Avenida do Calvário.
Ano de 2018, fotografia tirada no mesmo local e com a mesma vista da foto anterior.
Podemos ver o inicio da Avenida do Calvário, que como contarei mais à frente estava projectada desde 1894, mas só ficou concluída em 1960.
Ano de 2018, a rotunda onde começa a Avenida do Calvário.
O
Café Vale e o restaurante Vale, foram os primeiros edifícios construídos quando
foi aberta a Avenida do Calvário, que como podemos ver nesta fotografia ainda
estava em terra batida.
Quando comecei a frequentar a escola primária do Calvário, no ano de 1960, a avenida tinha acabado de ser aberta, ainda estava assim em terra batida.
Durante muitos anos os terrenos no início da Avenida do Calvário estiveram a monte, era aí que era montado o Circo, e os carrosséis em dias de festa.
Ainda
me lembro bem da actuação do
trapezista Carlos Avelino, aqui
no início da Avenida do Calvário.
Montaram duas torres muito altas, uma lá em
cima mais ou menos onde hoje é a rotunda da câmara e a outra cá em baixo em
frente ao café Vale, depois ele em conjunto com o irmão faziam o percurso entre
elas em cima de um cabo d’aço, fazendo o equilíbrio com uma vara, primeiro
faziam o percurso com os pés, e depois com uma mota.
Mas depois como este local era muito
valioso em termos construtivos, acabaram por fazer aqui um
centro comercial, onde está instalada a Caixa Geral de Depósitos, e
perdemos este magnifico espaço de diversão.
Nesta fotografia vemos como era o local onde agora temos a Caixa Geral de Depósitos, antes da Avenida do Calvário ser aberta, vemos no lado direito a Drogaria do Cáleiro.
Como era sombria a rotunda do Café Vale, onde começa a Avenida do Calvário.
Ano de 2018, vou agora subir a Avenida do Calvário, até lá acima à Capela do Calvário.
......Na página 266 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre a Capela
do Calvário e sobre o início da construção desta Avenida do Calvário:
......Em 1894 a expensas do Exm. Sr. José Gonçalves de Oliveira Reis, foi esta Capella do Senhor do Calvário transformada n'um magnifico santuário dourado, pintado a fresco, e cercada por um jardim vedado por um gradeamento de ferro, sendo também aberta uma avenida arborizada que, quando completa, virá sair à Praça Dom Luiz I, e dará ao lugar enorme importância.....
Como podemos ler nesta passagem do livro A Villa de Vallongo, a Avenida do Calvário terá começado a ser construída em 1894, mas só foi concluída em 1960.
Ano de 2018, a meio da Avenida do Calvário temos uma segunda rotunda, que dá acesso ao edifício da Câmara Municipal de Valongo.
Esta avenida tem menos de 1 km, mas na altura em que foi aberta foi uma obra muito importante para Valongo, a obra terá começado em 1894, depois como conto a seguir a obra foi reactivada em 1936, mas na realidade a Avenida do Calvário só ficou foi concluída em 1960.
......No Jornal Comemorativo do 1º Centenário da Fundação do Concelho de Valongo tem uma entrevista sobre a realização desta obra da Avenida do Calvário, que fazia parte de um grandioso programa de obras que a Câmara de Valongo pretendia levar a cabo no ano de 1936.
......A seguir ponho um excerto dessa extensa entrevista concedida pelo Administrador do Concelho de Valongo, Exº Sr. João Lino de Castro Neves, que na Câmara ocupava o lugar de vereador de obras na sede do concelho, e era um dos mais acérrimos defensores do novo plano de melhoramentos, que a Câmara de Valongo pretendia levar a cabo:
......Pergunta o jornalista: para quando está prevista a abertura da a Avenida do Calvário?
......Resposta: a Avenida do Calvário muito em breve deve ser um facto consumado, já se procedeu ao levantamento da sua planta, afim de pedir a comparticipação do Estado para essa grande obra, que é o sonho de todos os Valonguenses.
......Pergunta: saberá Vossa Exª dizer-nos há quantos anos se pensa nela?
......Resposta: com rigorosa precisão não poderei dizer, mas já
foi planeada pelo Sr. Oliveira Zina, muitos anos
antes da Grande Guerra, (primeira guerra Mundial, de 1914 a 1918).
......Pergunta: e a planta que Vossa Exª mandou
levantar segue o mesmo traçado que planeou Oliveira Zina, ou foi modificado?
......Resposta: nunca conheci planta alguma desse projecto de Oliveira Zina, nem mesmo depois de a haver procurado pelos arquivos da Câmara a encontrei, pelo que me leva a pensar que tal planta nunca existiu.
......Pergunta: como será a futura Avenida do Calvário?
......Resposta: pela planta agora levantada, trata-se de uma
Avenida de 22 metros de largura, devidamente arborizada, terá uma placa central
com jardins, duas ruas paralelas de 7 metros de largura, com pavimento
alcatroado, uma para o sentido ascendente, e outra para o sentido descendente,
com os respectivos passeios em granito e cimento quadriculado.
......Pergunta: deve ficar uma obra muito linda, mas,
de realização muito dispendiosa!
......Resposta: assim é de facto, deve ser de futuro a sala
de visitas desta Vila e será o passeio favorito de todos os Valonguenses,
quanto à realização, tenho esperanças de a conseguir com a comparticipação do
Estado. Principiarei por pedir a comparticipação para o seu rompimento naquela
largura, desde a Praça Machado dos Santos até à Capela do Nosso Senhor do
Calvário. Depois mais tarde, procederemos à respectiva pavimentação, passeios,
arborização, etc, etc.
......Pergunta: quando poderemos ver concluída essa
obra?
......Resposta: tenho fé que há-de ser muito brevemente. O nosso concelho contribui com uma verba importante para o Fundo de Desemprego e poucos benefícios tem recebido.
......Apenas a freguesia de Ermezinde tem realizado algumas obras com a comparticipação do Estado, por isso, Valongo tem direito e confiança no auxílio do Estado Novo para a realização destas obras.
......Além da planta desta Avenida seguem conjuntamente a das ruas transversais, uma paralela ao Teatro e a outra a partir das novas casas da Avenida 10 de Outubro, que terão 10 metros de largura e que pelo seu pequeno dispêndio devem ter execução imediata.
Ao ler esta entrevista do Administrador de Valongo, no ano de 1936, ficamos com uma ideia da importância que a execução desta obra da Avenida do Calvário tinha para a Vila de Valongo.
Mas apesar do Administrador de Valongo ter dito em 1936, que tinha fé que a Avenida do Calvário estaria para breve, a obra só foi concluída no ano de 1960.
Ano de 2018, quase no cimo da Avenida do Calvário temos a terceira rotunda, que dá acesso à que era a única escola primária masculina de Valongo.
Andei
nesta escola primária do Calvário da 1ª à 4ª classe, de 1960 até 1965.
Ano de 2018, mesmo no topo da Avenida do Calvário fica a Capela do Senhor do Calvário.
......Na página 265 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre esta Capela do Senhor do Calvário:
......A Capella do Senhor do Calvário existe desde tempos antigos no Lugar de Valga, um monte com o nome de Calvário, como se encontra em muitas freguesias, sobre o qual repousavam três cruzes.
......Essas cruzes descobertas e nuas viram passar os séculos, abençoando os povos, que de longe as saudavam com fé, e carcomidas pela acção do tempo, ficavam silenciosas e tristes cheias de poesia e encanto a estender os braços para as povoações de Vallongo e do Susão, no meio das quais se encontravam adoradas e amadas pelos crentes de todas as idades......
Ano de 2018, a Capela do Senhor do Calvário.
......Na página 266 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre esta Capela do Senhor do Calvário:
......Quando em 1809 aqui estiveram os Francezes, foi tão grande o horror com que os habitantes de Vallongo lhes ficaram que, ouvindo-se falar da terceira invasão, um individuo chamado João Monteiro Maia prometeu fazer n'esse lugar uma Capela, se esta terra não fosse assolada pelos estrangeiros e o reino de Portugal restaurado dos invasores.
……Deus terá aceitado este pedido, pois que perseguidos e vencidos os soldados de Massena tiveram de fugir vergonhosamente derrotados sem que chegassem a Vallongo
......Pelo que em 1813 foram lançados os fundamentos d'esta capelinha, que foi depois ampliada e restaurada em 1871, por uma subscrição aberta entre os nossos patrícios do Brasil, e esforços incansáveis do Exm. Sr. Cypriano de Castro Neves, que desde essa época até hoje exerceu com muito zelo as funções de tesoureiro......
......A Capella possui uma imagem de Jesus Crucificado de rara perfeição, as imagens de São Roque e São Francisco em ponto mais pequeno e n'ella está instalada a confraria de Nosso Senhor da Restauração que já em tempo teve grande brilho e explendor.
......Os irmãos apresentavam-se nas procissões com seus hábitos, que eram vermelhos e de capa azul, levando na frente um estandarte na forma de triângulo, que ainda existe e abre a procissão da festa que se faz no quarto Domingo de Agosto de cada anno.
......Há muitos anos, dizem que desde o tempo dos Francezes aparece nas vizinhanças d'esta Capella uma luz que tem sido vista por muita gente e até contam já dera bofetadas e praticara outras cousas de meter medo.
......Ora amortecida, ora brilhante, corre, levanta-se em fogueira iluminando a grande distancia, acerca d'ella vogam entre o povo disparatadas crendices, chamando-se-lhe alma do outro Mundo......
Continuando a fazer a minha viagem histórica pelo centro de Valongo, saindo da Avenida do Calvário, chego à Praça Machado dos Santos, que no século XIX se chamava Praça Dom Luiz I.
Ano
de 2018, a rotunda da Praça Machado dos
Santos.
A primeira casa no lado esquerdo é do Sr. João Amaro, casa que actualmente pertence ao filho o Dr. João Loureiro.
Nesta
antiga fotografia da Praça
Dom Luiz I em dia de
festa, vemos o grande movimento de pessoas que existia nesse tempo no centro de
Valongo, a casa que se vê no lado esquerdo é do Sr. João Amaro.
Esta é das fotografias mais antigas de Valongo, porque conforme podemos ler em várias passagens, no ano de 1890 esta praça foi objecto de obras, onde foram removidas as casas, as cercas, e a Capela da Senhora das Neves, que ainda se vêem no meio da praça.
A
casa do Sr. João Amaro deve ser muito antiga, porque aparece em todas estas
antigas as fotografias, no piso térreo desta casa existia uma taberna,
café, onde os viajantes paravam para comer.
O
João Loureiro, filho do Sr. João Amaro lembra-se de quando ainda criança ver as cadeireiras pararem aqui ainda de madrugada, para tomarem
o pequeno almoço, e depois seguirem a caminho do Porto, carregadas com as cadeiras
à cabeça.
Fotografia da primeira metade do século XX, da casa do Sr. João Amaro, na Praça machado dos Santos.
Nesta antiga fotografia vemos uma procissão a passar na Praça Machado dos Santos.
Ano de 2018, como está a casa do Sr. João Amaro na Praça Machado dos Santos.
Durante o Século XIX a Praça Machado dos Santos chamava-se Praça Dom Luiz I, este nome terá sido atribuído à praça em homenagem ao Rei Dom Luiz I, por dois motivos:
......O
primeiro motivo, terá sido porque foi por autorização do Rei Dom Luiz I, que foi
adquirido pela quantia de três contos e quatrocentos mil réis, o edifício onde ficaram
instalados os Paços do Concelho, até ao ano de 1989.
......O
segundo motivo, foi porque pouco tempo depois o próprio Rei Dom Luiz I, em companhia da Rainha Dona Maria Pia, vieram fazer uma visita a Vallongo no ano de
1871.
......Na página 222 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre essa visita Real a Valongo, no ano de 1871:
......Pouco depois veio aqui Sua Majestade D. Luiz I com a Rainha Dona Maria Pia, facto que deu a Vallongo uma grande importância e ficou gravada na memória de toda a gente, pelos grandiosos festejos que por essa ocasião se realizaram.
......A câmara municipal e demais autoridades incorporadas, foram esperar o Rei à Serra, e nos Paços do Concelho houve sessão solene em honra dos soberanos.
......Fala-se ainda com grande espanto dos gigantescos e embelezados arcos que em muitos lugares da passagem do cortejo foram feitos e deram aos festejos um admirável esplendor......
Esta visita do rei D. Luiz I, e da Rainha Dona Maria Pia, aconteceu 4 anos antes da inauguração da linha férrea do Douro, por isso eles terão vindo de carruagem pelo Alto da Serra de Valongo, para onde o povo de Valongo os foi esperar.
......Na página 368 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre a praça D. Luiz I:
.....Praça D. Luiz I, é a antiga Praça de Nossa Senhora das Neves que já existia em 1594 com o nome de Campo de Nossa Senhora da Luz, documentos existentes no Archivo Parochial de Penafiel já falam neste Campo de Nossa Senhora das Neves a 10 de Março de 1594.
......Esta praça seria pouco habitada então, estendia-se desde as casas da Rua da Ferraria até à Capela da mesma denominação, que ocupava pouco mais ou menos o ângulo sudoeste do recinto, que está actualmente fechado pelas grades.
......Em 1864 a Câmara Municipal resolveu retirar a Capela do centro do largo para uma das extremidades, e, construir aí uma praça fechada e um chafariz, para o que pediu a quantia de 2000 mil réis com a condição de amortizar pelo menos 200 réis por ano, ver sessão da Câmara de 3 de Novembro de 1864.
......Mas essa obra acabou por só ser realizada no ano 1878, continuando porém o largo a chamar-se Largo de Nossa Senhora das Neves.
Nesta
antiga fotografia que está na página 178 do livro A Villa de Vallongo, vemos como era grande o movimento na Praça Dom Luiz I em dia de feira.
Como vemos nesta altura ainda existiam casas no meio da praça, existia uma fonte com chafariz, e cercas metálicas, no tempo desta fotografia o traçado da Estrada Real nº 33 ainda não se fazia por aqui.
Neste tempo esta ainda era uma praça fechada, o traçado da Estrada Real nº 33 era pela Rua de São Mamede, depois seguia pela Rua da Ferraria, e continuava depois pela Rua do Padrão.
Quando das obras na praça no ano de 1890 a fonte de água com chafariz foi desmontada, e depois montada nas
traseiras da Capela de Santo Sabino (Capela velha), na Santa Justa, mas
entretanto como estava mesmo no meio do caminho acabou por ser retirada, e não
sei qual o seu destino.
Na fotografia da Praça D. Luiz I acima, que é do livro A Villa De Vallongo, podemos ver na segunda casa a começar da esquerda um reclame.
Esse reclame é da drogaria Noé, portanto posso dizer com alguma certeza que esta drogaria já vai a caminho de um século e meio.
Fotografia anterior a 1903, onde vemos uma procissão a passar pela drogaria do Noé na Praça Machado dos Santos, nesta foto já podemos ver perfeitamente o reclame da drogaria Noé.
Onde diz, Loja de Tabacos, de Ferragens e Manufacturados, podemos ver também que o edifício da drogaria Noé ainda tem o pé direito mais baixo do que o edifício à sua direita.
Digo que a fotografia acima é anterior a 1903, porque foi nesse ano que foram feitas umas grandes obras no edifício, e só a partir daí ele passou a ter o pé direito igual ao dos edifícios à sua direita, como se pode ver na fotografia abaixo.
Ano de 2018, como podemos ver nesta fotografia a drogaria do Noé agora já tem o pé direito igual aos edifícios à sua direita.
Ano de 2018, como vemos actualmente a drogaria do Noé tem o pé direito igual aos edifícios à sua direita.
Ano de 2018, todo o mobiliário, expositores, balcões e soalho da drogaria do Noé, ainda são de 1903.
Ano de 2018, a drogaria do Noé mantém-se inalterada desde 1903.
Ano de 2018, ainda a drogaria do Noé.
O centro da Praça Machado dos Santos, antiga Praça D. Luiz I, foi sofrendo diversas alterações ao longo dos anos, mas os edifícios à volta da praça embora tenham sido restaurados, mas ainda são praticamente os mesmo.
Nesta
antiga fotografia da Praça Machado dos Santos, que é posterior às alterações feitas na praça no
ano de 1890, vemos que todas as casas já foram removidas do meio da praça, e
que a Capela da Senhora das Neves também já foi removida do meio da praça.
Nesta
altura foram plantadas árvores no centro da praça, essas árvores foram
crescendo e já estavam gigantes, mas como veremos, com as várias alterações
que foram acontecendo ao longo dos anos, as árvores foram sendo
abatidas, e actualmente já não resta nenhuma das árvores originais.
Lá ao fundo por trás das árvores vemos a casa que para mim é a mais bonita da praça.
Ano
de 2018, fotografia tirada
na entrada da Praça Machado
dos Santos, com a mesma
vista da foto anterior.
Actualmente a praça está bastante mais ocupada, tem
paragens de autocarro, tem um quiosque, voltou a ter uma fonte de água, e
bancos de jardim.
Mas os edifícios que rodeiam a praça ainda são os mesmos de sempre, e muitos ainda pertencem às mesmas famílias de antigamente, lá ao fundo vemos a casa que considero mais bonita da praça.
Outra
antiga fotografia da Praça
Machado dos Santos, que estimo
seja de 1950.
Digo que a fotografia acima deve ser de 1950, porque no meio das árvores vemos o rinque de patinagem, e foi nesse ano de 1950 que nasceu a equipa de hóquei em patins do Valongo, a Associação Desportiva de Valongo, ainda conheci esta praça assim toda em terra batida com o rinque no meio.
Anos mais tarde, na década de 1970 a Câmara de Valongo fez um pavilhão lá em cima no Calvário, nessa altura foi retirado o rinque de patinagem do meio da praça, e no seu lugar fizeram este bonito lago com peixes e patos.
Como era bonita a Praça Machado dos Santos na década de 1970, com
o lago no meio.
Década de 1970, como era bonito o lago dos patos na Praça Machado dos Santos.
Anos mais tarde foi adjudicado pela Câmara de Valongo ao Sr.
Belchior, o projecto e
a montagem de uma fonte luminosa no meio do lago.
Ainda
o ajudei a fazer a montagem desta fonte, mas a fonte como todos os projectos
veio a dar alguns problemas, ainda me lembro de todos os problemas da fonte, e
como foram resolvidos.
O Sr. Belchior era um indivíduo muito
inteligente, ele morava com o irmão na casa ao lado do Café Bela Cruz, na Praça
Machado dos santos.
Era
amigo do Sr. Belchior, parávamos ambos no café Bela Cruz, e trocávamos opiniões
sobre muitos projectos que ele tinha em mente, ele andava sempre a mil, andava
sempre a trabalhar em algum projecto, ele
desenvolveu inúmeras máquinas para a industria da Ardósia.
Por
exemplo na minha opinião esta máquina
de afiar penas para a indústria da ardósia, totalmente desenvolvida e fabricada
pelo Sr. Belchior era digna de
estar no Museu da Lousa.
Gostava
muito do Sr. Belchior, ele foi um grande projectista, projectou inumeras
máquinas para a Industria da Ardósia.
Esta
fotografia que estimo tenha sido tirada por volta de 1960, na Praça Machado dos Santos, para mim é muito importante, pela
quantidade de informações que consigo retirar, e pelas muitas recordações que
me trás.
Nesta fotografia vemos à porta da sua casa, a dona Rosa Maria (a Mi)
que vivia por cima da taberna do Verdinho, depois estão 4 meninas que são a
Isabel Maria (a Bé), depois está a Dilma do Noé, depois a Maria das Dores (a
Dores) e seguir a Maria Antónia (a Tona).
Por trás das meninas estão as bancas da loja
de fruta da Sra. Eulália, depois vemos um cão parado junto à Loja da Singer, onde trabalhava a Teresa
da Singer.
Por cima da Singer ficava a Foto Veneza, vemos o reclame da máquina fotográfica ADOX, depois vemos várias pessoas na entrada do Café Bela Cruz, café que eu frequentava, a seguir ficava a casa onde morava o Sr. Belchior, e depois era a casa e a taberna do Pires.
Ano
de 2022, actualmente a Praça Machado dos Santos está
totalmente diferente, já não existe o rinque, nem o lago dos patos, e também já
não existe uma única das antigas árvores, está uma tristeza, até tenho pena do
estado a que chegou.
Só mesmo os edifícios que rodeiam a praça é que ainda são os mesmos, no lado esquerdo vemos o edifício do Sr. João Amaro, e no lado direito vemos a cruz da Capela de Nossa Senhora das Neves.
Ano de 2018, para mim este é o edifício mais bonito da Praça Machado dos Santos.
Ainda me lembro que na década de 1960, era aqui na Praça Machado dos Santos que parava a carrinha da biblioteca itinerante da Calouste Gulbenkian.
Foi nesta carrinha da Gulbenkiam que comecei a requisitar os primeiros livros, à noite a carrinha ficava guardada na garagem do Varela.
Mais
tarde a biblioteca da Calouste Gulbenkian passou a ter instalações fichas em
Valongo, a biblioteca ficou instalada na Capela de São Bruno, também aí requisitei
muitas dezenas de livros.
Foi
aqui na Capela de São Bruno, na
Rua de São Mamede que foi instalada a biblioteca fixa da Calouste Gulbenkian,
o responsável era o Francisco Pires, actualmente esta capela faz parte do Museu
e Arquivo Histórico de Valongo.
......Na página 264 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre esta Capela de São Bruno:
......A
Capela de São Bruno, de cuja fundação não se pode bem precisar a data, não
parece ser muito antiga, porque o Padre Carvalho que escreveu em 1706, no tomo primeyro que ofereceu a El-Rey D. Pedro
II, não faz
mensão d'ella.
......Sabe-se que existiu em ponto mais pequeno um pouco para a retaguarda do lugar que agora ocupa, quase junto ao ribeiro, e que, quando em 1825 foi construída a casa, onde hoje estão os Paços do Concelho, Bernardo Martins da Nova a reedificou ficando transformada n'um magnifico e elegante oratório consagrado mais tarde por sua filha, dona Helena Martins das Neves, ao Sagrado Coração de Maria.
......Uma inscripção que está na parede do lado do evangelho diz assim, "Esta ermida consagrada a São Bruno, foi reedificada em 1825 por Bernardo Martins da Nova e concluída em 1842 pelo Padre Bernardo Martins das Neves".
......E nesta Capela de São Bruno por muitos anos se celebrou festa estrondosa precedida de novena na qual todos os dias havia prática, cânticos e musica.
......Hoje, como recordação de todo esse explendor, ainda se celebra a festa, embora de um modo modesto, com musica, sermão e novena em que se canta um hino de prodigioso efeito cuja letra é obra inspirada do Padre João de Castro Neves e a musica do maestro José Alves......
......Mas agora voltando novamente para a Praça Machado dos Santos.
Neste antigo postal dos correios vemos um grande numero de pessoas a sair da Capela da Senhora das Neves, esta capela também é conhecida como Capela da Senhora da Luz, fica na Praça Machado dos Santos.
Ano de 2022, como está actualmente a Capela da Senhora das Neves, na Praça Machado dos Santos.
Ano de 2022, na entrada da Capela da Senhora
das Neves existe esta placa informativa que conta a sua história.
Na revista publicada no ano de 1936, quando da Comemoração do 1º Centenário da Fundação do Concelho de
Valongo, o vereador responsável
pelas obras públicas deu uma extensa entrevista, sobre as obras que estavam
programadas para fazer na Praça Machado dos Santos.
......Diz o Sr. Vereador:
......A actual Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Valongo, que tem sabido agradar inteiramente a todos os seus munícipes, elaborou um vasto programa de melhoramentos em todo o concelho, alguns dos quais, muito em breve veremos realizados.
......O Sr. Admistrador do Concelho de Valongo, Exº Sr.
João Lino de Castro Neves, que na Câmara ocupa o lugar de vereador de obras na
sede do concelho, é um dos mais acérrimos defensores do novo plano de
melhoramentos, por isso quisemos ouvir S. Exª acerca das realizações das obras que dizem
respeito ao seu pelouro.
......E obtivemos de S. Exª todas as elucidações sobre esse grandioso programa que a Câmara de Valongo pretende levar a cabo.
......Concretamente sobre as obras a realizar na Praça Machado dos Santos, pergunta o jornalista:
......Diz S. Exª que está indicado o novo Mercado Municipal, que será construído perto do lugar onde primitivamente funcionou, ou seja, na Praça Machado dos Santos, é na parte ajardinada, perguntamos?
......Resposta: o jardim será ainda ampliado, o mercado será construído sobre os terrenos que
vão ser expropriados com a comparticipação do Estado.
......Pergunta: trata-se dum mercado coberto?
......Resposta:
por enquanto ainda não será, contudo, fica desde já estudado a forma de poder vir a ser mais tarde, se nisso houver conveniência. Por agora ficará um mercado de
linhas modernas, dotado de todas as condições e exigências sanitárias, vedado
com um elegante muro gradeado com quatro edifícios, um em cada canto, que
servirão para estabelecimentos de qualquer espécie, três grandes portões que
facilitem livremente a entrada e saída do público, o interior dividido em
amplos tabuleiros, para exposição e venda de géneros, cercados por ruas de
quatro metros de largura, devidamente cimentadas, etc. etc.
......Pergunta:
quando poderemos ver concluída essa obra?
......Resposta:
espero que muito brevemente teremos esse prazer, uma vez entregue a planta em
Lisboa, e logo que seja concedida a comparticipação, iniciaremos os trabalhos.
......Pergunta:
em Lisboa costumam demorar muito essa comparticipação?
......Resposta:
ainda não sei bem, apenas mandei a planta e brevemente mandarei
também o projecto da restauração dos Paços do Concelho, que já está concluído,
mas, segundo estou informado deve demorar uns dois ou três meses.
Este Mercado Municipal na Praça Machado dos Santos que constava no plano de obras de 1936 nunca chegou a ser feito, não passou da fase de projecto, a obra não deve ter sido aprovado em Lisboa.
Mas agora continuando a percorrer a antiga Estrada Real nº 33, saindo da Rua de São Mamede a Estrada Real seguia pela Rua da Ferraria, que foi rebaptizada e se chama actualmente Rua Fernandes Pegas.
......Na página 375 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre esta Rua da Ferraria:
......Rua da Ferraria, o seu nome deriva de ferreiros e ferradores, que no Século XVIII ali havia, com oficinas e fábricas em que se lavrava e trabalhava o ferro, às quais chamavam ferrarias, segundo o elucidário de Viterbo......
Mesmo na esquina da Rua da Ferraria existia este Mirante e o portão de entrada para a Vila Tina,
a janela e o portão que se vêem à direita são da Serralharia Moreira, que foi a
única serralharia que resistiu até à década de 1970.
Conheci muito bem esta rua, assim com a serralharia do Sr. Moreira.
No lugar do antigo edifício Villa Tina fizeram este centro comercial, a que em sua homenagem ao antigo edifício deram o nome de Edifício Vila Tina, morei neste edifício durante mais de 10 anos.
O construtor deste edifício da antiga VILLA TINA, o Sr. Pereira Gomes, mandou retirar com muito cuidado os painéis de azulejos e depois mandou restaurá-los.
O painel com os dizeres VILLA TINA, foi depois aplicado no interior do Centro Comercial que tomou o nome de Vila Tina.
Também da fachada da antiga vivenda Villa Tina,
foi retirado o painel de azulejos com a imagem de Santo António, que foi
restaurado e está hoje na casa de um particular de Valongo.
Este painel com a imagem de Santo António, que estava aplicado na fachada da Villa Tina, voltada para a Rua do Norte foi feito pela famosa fábrica de Cerâmica do Porto, que era a Fábrica do Carvalhinho, fundada no ano de 1841.
Antigamente o Santo António era um Santo muito venerado em Valongo, tenho algumas dezenas de notícias publicadas em jornais do Norte, que descrevem os deslumbrantes festejos que se realizavam em sua honra.
No jornal “O Comércio do Porto”, de
quarta-feira, dia 13 de Julho de 1892, os festejos realizados em Valongo em honra de Santo
António, foram notícia de primeira página.
Mas agora vou voltar para o meu percurso
principal, que é a antiga Estrada Real 33, e vou seguir pela Rua Fernandes
Pegas, que antigamente se chamava Rua da Ferraria.
Ano
de 2018, a rua
Fernandes Pegas que antigamente se chamava Rua da Ferraria.
Como podemos ver esta Rua da Ferraria está perfeitamente alinhada com a Rua do Padrão, lá ao fundo já vemos o Cruzeiro do Padrão, que deu o nome à rua.
Durante o século XIX era por esta Rua da Ferraria que se fazia a circulação na direcção do Porto, e vice versa, esta rua fazia parte da Estrada Real nº 33.
Ano de 2018, saindo da Rua da Ferraria, chegamos à Rua do Padrão, que antigamente se chamava Rua da Portela e da Portelinha.
......Na página 376 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre estas ruas:
......Rua da Portela, era a rua que ia desde a Rua da Ferraria até ao Padrão, tinha 60 casas, em 1834, a estrada nova quando foi aberta rasgou esta rua até à Capela da Senhora da Luz.
......Rua da Portellinha, era a rua que ia do Padrão até à ponte da Presa, tinha 26 casas, em 1834.
......Rua da Padrão, é a Portella e a Portellinha antiga, antes da Estrada Nova, já por ali passava por cima de ásperas fragas a antiga Estrada Real, que era composta nos pontos mais irregulares com grandes pedras de calcário e chisto.
......O primeiro rebaixamento d'esta rua data de 1838, feito para tornar mais suave esse caminho, que foi depois calcetado em 1840.
......A Estrada Nova, quando feita, abaixou o solo, mas nas extremidades ainda ficaram alguns monos de fraga que só desapareceram em 1880, com a reforma que a Câmara deu a esta rua......
Ano de 2018, saindo da Rua da Ferraria, chegamos à Rua do Padrão, que faz parte da Estrada Nacional 15, antiga Estrada Real nº 33.
Antiga fotografia onde vemos como era a Rua do Padrão noutros tempos, lá ao fundo vemos o Cruzeiro do Padrão que deu o nome à rua.
Nunca conheci esta Rua do Padrão com árvores, nem cheguei a conhecer a loja de panos e fazendas que se vê no lado direito, mas sei que foi lá que os meus pais mandaram fazer as roupas para o casamento.
Ano de 2018, como podemos ver os edifícios da Rua do Padrão ainda são os mesmos de antigamente, lá ao fundo ainda continuamos a ver o Cruzeiro do Padrão, só não existem as árvores.
Ano de 2018, a rua Rua do Padrão, vemos a loja Criações Paulino que já fez 62 anos de existência, e espero que a sua existência se prolongue por muitos anos, para preservar o apelido da família dos Paulinos.
Ano de 2018, continuando na Rua do Padrão, logo a seguir à casa do Paulino fica uma das casas mais antigas de Valongo, é a Casa do Anjo, tem uma bonita frontaria toda em granito talhado.
A Casa do Anjo deve o seu nome à imagem do Anjo São Miguel, que está no nicho do andar nobre da casa.
A Casa do Anjo, na antiga Estrada Real nº 33, numa altura em que ainda era uma casa de habitação.
A casa das Criações Paulino e a Casa do Anjo, na Rua do Padrão, antiga Estrada Real nº 33, numa altura em que ainda eram casas de habitação.
......Continuando a descer a Rua do Padrão, chegamos ao Cruzeiro do Padrão, que foi quem deu o nome à rua.
Ano de 2018, e chegamos ao Cruzeiro do Padrão.
Esta é provavelmente a fotografia mais antiga do Cruzeiro do Padrão, está no livro A Villa de Vallongo.
Na altura desta fotografia o padrão tinha uma enorme base com degraus que ocupavam quase toda a rua, o padrão estava protegido por um gradeamento metálico, e à volta ainda existiam árvores, lá ao fundo por trás do cruzeiro vemos a Fonte da Portela, ou Fonte do Padrão.
Esta zona do Padrão foi das zonas mais fotografadas pelos nossos antepassados.
Esta
antiga fotografia da zona do Cruzeiro do Padrão, está no livro A Villa de Vallongo, nesta altura, anterior a 1904, a base do padrão
ainda tinha degraus, e gradeamento de protecção, mas já não existiam as
árvores.
Por
trás do cruzeiro, lá ao fundo vemos a Fonte da Portela.
Outra
antiga fotografia da zona do Cruzeiro do Padrão.
Antiga
fotografia do Cruzeiro do
Padrão que deve ter sido tirada num dia de festa, porque
vemos um grande número de crianças e adultos a posar para a fotografia, a base
do padrão ainda continua a ter os degraus e o gradeamento de protecção.
Por trás do cruzeiro lá ao fundo vemos a Fonte da Portela, que é a única fonte que ainda existe neste troço da antiga Estrada Nacional nº 33.
Fotografia
actual, onde vemos as pessoas junto ao Cruzeiro do Padrão à espera da procissão
do Senhor dos Passos.
Ano de 2018, como está a Rua do Padrão.
A base do padrão foi completamente alterada, já não existem os degraus nem o gradeamento, mas passados que estão mais de 120 anos, os edifícios embora tenham sido restaurados ainda são os mesmos de antigamente, lá ao fundo ainda continuamos a ter a Fonte da Portela.
Antiga
fotografia também da zona do Cruzeiro do Padrão, onde vemos algumas pessoas à
varanda da Associação de Socorros Mútuos, e um grupo de pessoas à porta do antigo quartel da GNR de Valongo.
Ano de 2018, também aqui
na zona do Cruzeiro do Padrão os edifícios ainda são os mesmos, embora alguns já estejam muito degradados.
Esta zona do Padrão traz-me muitas recordações da minha infância, faz-me lembrar das duas maiores festas que acontecem em Valongo, a festa do nosso Santo Padroeiro, o São Mamede, que se realiza em meados de Agosto, e a festa do Senhor dos Passos, que se realiza por altura da Páscoa.
Estas duas festas traziam a Valongo romarias de pessoas, o ponto alto de ambas as festas são as grandiosas procissões que passam aqui pelo Padrão.
São Mamede, que é o Santo Padroeiro de Valongo, está representado num painel de azulejos mesmo no topo da Igreja Matriz de Valongo.
......No ano de 1706, o padre Carvalho refere-se a Valongo como São Mamede de Val-longo.
Fui procurar este livro da topografia portuguesa escrito pelo padre António Carvalho da Costa, publicado no ano de 1706, porque ele é referido várias vezes no livro A Villa de Valongo.
A
festa de São Mamede, prolonga-se por vários dias, o ponto alto é
uma grandiosa procissão, nessa altura a cidade é toda engalanada e colocam-se
nas varandas das casas as melhores cobertas, para a passagem da procissão.,
Antigamente era criada uma comissão de festas que programava tudo o que iriam fazer de um ano para o outro, nesse tempo a Praça Machado dos Santos era vedada,
e no seu interior era montado um palco onde actuavam artistas todos
os dias, também era montado um bar com mesas e cadeiras para a assistência.
Claro que actualmente existe tudo isso, e se
calhar muito mais, eu é que fiquei mais agarrado às festas do passado, quando
somos crianças vemos as coisas de forma diferente.
Mas
tenho que confessar que quando era criança, a procissão que mais admirava era
a procissão do Senhor dos Passos, que se realiza por altura da
Quaresma.
No Sábado à noite sai da Igreja Matriz a procissão com o andor da Nossa Senhora que vai até à Praça Machado dos Santos, onde fica recolhida na Capela de Nossa Senhora das Neves, em todo o percurso da procissão a iluminação pública é desligada, e a iluminação é feita por velas, ou lamparinas, que os moradores colocam nas janelas e nas fachadas dos edifícios ao longo de todo o percurso.
Depois no Domingo de tarde, sai também da Igreja Matriz a procissão do Senhor dos Passos, e na Praça Machado dos Santos o andor da Nossa Senhora que ficou recolhido desde a noite anterior na Capela da Senhora das Neves, junta-se com a procissão do Senhor dos Passos, e seguem ambos para o Padrão, onde se dá o encontro de Jesus com a Nossa Senhora, Sua Mãe.
No Padrão é montado um púlpito, onde é feito O Sermão do Encontro por um Sacerdote convidado, todas as varandas do percurso da procissão do Senhor dos Passos, são adornadas com cobertas de cor Roxa, cor que simboliza a quadra da Quaresma.
Em todo o percurso por onde passa a procissão do Senhor dos Passos, as varandas são adornadas com cobertas da
cor roxa, que simbolizam a quadra da Quaresma.
A procissão do Senhor dos Passos, foi e ainda é famosa, mas antigamente era tão reconhecida que no ano de 1876, a recém criada Companhia dos Caminhos de Ferro do Douro fez comboios com horários extraordinários entre o Porto e Valongo, e entre Valongo e Cahíde, em Penafiel, a preços reduzidos.
O horário dos comboios extraordinários entre o
Porto e Valongo, entre Valongo e Cahíde e Penafiel, feito pela Companhia dos Caminhos de Ferro do Douro, para o dia da Procissão do Senhor dos
Passos no ano de 1876, um ano depois da inauguração da linha do Douro.
......Na página 251 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre a Confraria dos Santos Passos, que organiza esta festividade desde 1710:
......De todas as confrarias de Vallongo a mais rica hoje, em 1904, é talvez a dos Santos Passos.
......Pelos
estatutos da Confraria o dia próprio para a Procissão do Senhor dos Passos é o
4ª Domingo da Quaresma, mas como n'esse dia por muitas vezes houvesse chuva, em
1894 resolveu a Confraria mudar a festa para o 3º Domingo da Quaresma, quando
por causa da chuva não se pôde realizar, fica para o Domingo seguinte.
......Mas agora continuando a percorrer a antiga Estrada Real 33.
Logo abaixo do Cruzeiro do Padrão temos A Fonte da Portela que teve sorte, porque como não interferiu com o desenvolvimento de Valongo foi poupada, e ainda existe actualmente.
Ano de 2018, a Fonte da Portela é a única fonte da Estrada Real 33 que chegou até aos dias de hoje, embora já não deite água.
......Na página 360 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre esta Fonte da Portela:
......É a fonte que fica abaixo do Padrão, na rua do mesmo nome, foi mandada fazer em 1883 e a água que a fornece vem de uma mina que existe debaixo da Rua Velha, cuja água também sustenta o Chafariz da Praça Dom Luiz I......
Na imagem da esquerda que está no livro A Villa de Vallongo, vemos no meio da Praça Dom Luiz I, o chafariz a que o padre Joaquim se refere na página 360.
Na imagem da direita vemos a Praça Machado dos Santos na década de 1950, nesta altura já não existem casas nem a Capela da Senhora da Luz no meio da praça, nessa altura foi montado no topo da praça um elegante chafariz, onde se pousava o cântaro ou caneco para encher de água.
Um antigo chafariz onde se pousava o cântaro para encher de água.
Outro antigo chafariz onde se pousava o cântaro para encher de água.
Valongo
só começou a ter água canalizada por volta de 1950, até aí era necessário ir
com o cântaro ou caneco buscar água à fonte, na casa dos meus pais na Rua da Passagem a
água canalizada só chegou em 1958.
......Continuando a fazer a minha viagem histórica pela antiga Estrada Real 33, passando o Cruzeiro do Padrão, chegamos à Rua Alves Saldanha.
Ano de 2018, as casas da Rua Alves
Saldanha foram sendo restauradas, mas ainda mantêm a traça original.
Nasci
na última casa ao fundo desta rua, no ano de 1955, vivemos nesta casa, os meus
pais, eu e a minha irmã até ao falecimento da minha avó materna no ano de 1957.
Ano de 2018, a Rua Alves Saldanha antigamente chamava-se Rua da Portelinha.
Durante a Guerra Civil em Portugal, entre 1832 e 1834, nas terras de Valongo aconteceram inúmeras escaramuças.
E a Batalha
da Ponte Ferreira, que foi a primeira das muitas batalhas travada
entre o exército Liberal do Imperador Dom Pedro, e o exército Absolutista do
seu irmão Dom Miguel, travou-se aqui nas terras de Valongo.
A seguir vou pôr um pequeno excerto que tem a ver com a passagem do Imperador Dom Pedro por esta Rua da Portellinha, quando ia a caminho da Batalha de Ponte Ferreira.
......Na página 360 e seguintes do livro A Villa de Vallongo, são descritas com grande pormenor todas as escaramuças, e a Batalha da Ponte Ferreira que aqui se travaram, este texto que ponho a seguir faz parte de um capítulo muito extenso que começa com o título:
......Dom Pedro em Vallongo - A Batalha da Ponte Ferreira.
......Quando pelas 8 horas da manhã o Imperador Dom Pedro passava à frente do seu exército pelas ruas de Vallongo, o enthusiasmo entre os apaixonados do seu partido chegou até ao delírio.
......As casa estavam engalanadas com bandeiras, e atroavam os ares calorosos vivas e salvas de palmas que das janelas lhe eram dadas com gritos de alegria, enquanto que tudo era Miguelista, triste e cabisbaixo, roía de portas cerradas a paixão que ia na alma. E' ainda a mesma "mis eu sceue" que sempre se repete à queda de todos os partidos.
......Hoje exultam com vivas, morras e foguetório ao som do fungagá, para amanhã ouvirem o mesmo d'aquelles a quem o fizeram.
......Foi da casa d'um seu admirador onde almoçou, já ao fim da Rua da Portellinha, que Dom Pedro viu desfilar as suas tropas, tropas que depois seguiu até ao campo de batalha um kilometro mais distante......
Conforme me disseram foi nesta casa brasonada, já
ao fundo da Rua Alves Saldanha, que terá pertencido a uma família
aristocrática, que ficou alojado o rei Dom
Pedro, durante o tempo que
durou a Batalha de Ponte Ferreira.
E foi da varanda desta casa que depois Dom Pedro viu passar o grosso das suas tropas a caminho da Batalha de Ponte Ferreira, tropas que depois seguiu até ao campo da batalha que aconteceu um Kilometro mais à frente.
Ano
de 2018, continuo a descer a Rua Alves Saldanha, e
como vemos à excepção de um prédio de 5 pisos, todas as outras casas ainda
mantêm a traça original.
Onde agora vemos esse edifício de 5 pisos existia uma casa muito bonita, era a casa da família Enes.
Como
se vê nesta fotografia, a casa da família Enes tinha 3
pisos.
Consigo
descrever com grande pormenor esta casa porque a conheci muito
bem, andei lá nas explicações ainda antes de entrar para a escola primária, na
década de 1950, na altura dizíamos que andávamos na mestra.
No
piso térreo ficava a cozinha, a sala de estar e a sala de jantar, no primeiro
andar ficavam os quartos, nas águas furtadas também tinha mais alguns quartos, mas
o sótão era utilizado para outros serviços, por exemplo era lá que estendiam a
roupa para secar.
O interior da casa era todo em madeira, até as
traves do sótão estavam revestidas com madeira, as portas do piso térreo tinham
vitrais coloridos, foi uma pena esta casa ter sido destruída.
Anos
mais tarde nos finais da década de 1960, quando a casa ficou desabitada, eu com
mais alguns colegas utilizávamos esta casa como palco de muitas das nossas
brincadeiras de juventude.
Já
devia ter os meus 13 ou 14 anos, e ainda gostava de ir para a casa dos Enes, íamos tentar descobrir moedas ou tesouros que
pudessem estar escondidos por debaixo dos soalhos, nos armários da cozinha, ou
nas águas furtadas, também servia para fazer algumas partidas a outros colegas,
lembro-me mesmo muito bem desta casa.
Não
faço a mais pequena ideia de quem seria a família Enes, que originalmente foram os proprietária desta
casa.
Procurei
no livro A Villa de
Vallongo, e encontrei referência
a duas famílias com nomes parecidos, mas não sei se esta casa
pertenceria a alguma destas duas famílias:
Uma das famílias referida no livro é a do Sr. Eduardo Ennor, sobre o qual diz o seguinte:
......O Sr. Eduardo Ennor era da respeitável família
Ennor, que foi quem em 1865 começou com as famosas Minas do Galinheiro,
conforme consta da escritura feita a 15 de Março desse mesmo ano, esta família
Ennor está ligada a Valongo por muitos actos de benemerência.
A outra família também referida no livro é a do Sr. Belchior Pereira Ennes, sobre o qual diz o seguinte:
......O Sr. Belchior Pereira Ennes era natural de Vallongo, foi um homem notável no seu tempo por ser mestre de esgrima do Imperador Dom Pedro no Rio de Janeiro, que depois o agraciou com várias distinções e títulos. Ano
de 2018, continuo a
descer a Rua Alves
Saldanha, e mesmo lá
no fundo temos esta bonita mansão que no seu tempo deve ter tido um grande
esplendor, mas agora está em decadência prestes a ruir.
Nunca conheci esta casa habitada, nem
encontrei qualquer referência a quem a terá construído, já teve um bar
instalado na cave, e actualmente tem uma única sala ocupada pela barbearia do
Avelino.
Continuo a fazer a minha viagem histórica pela antiga Estrada Real nº 33, a caminho da Estação dos Caminhos de Ferro Valongo, e agora chego à Ponte da Presa.
Ano de 2018, actualmente quando passamos de carro pela Ponte da Presa, nem nos apercebemos da sua existência, mas como veremos nem sempre foi assim.
Ano
de 2018, como vemos actualmente a estrada nacional
15 está bastante elevada relativamente ao Ribeiro da Presa, mas nem sempre foi assim.
......Na página 367 do livro A Villa de Vallongo, diz o seguinte sobre esta Ponte da Presa:
......A Ponte da Presa, é onde atravessa a Estrada Real no lugar da Presa, esta ponte foi primitivamente muito mais baixa, elevando-se do leito da Ribeira da Presa apenas um metro, e d'ella até à altura da Rua do Padrão havia uma subida horrorosa......
Ano de 2018, nesta fotografia vemos o Ribeiro da Presa a sair da ponte do mesmo nome, vai a caminho do fundo do Lugar da Ilha onde vai desaguar no Rio Simão.
O Moinho
Telhado, citado no livro A Villa de Vallongo, fica mesmo lá no fundo do Lugar da Ilha.
Este moinho deixou de funcionar na primeira
metade do século XX, depois durante algum tempo foi uma casa de habitação, até
que acabou por ficar abandonado, e prestes a ruir como vemos.
Mas como costumo dizer não à mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe, e como veremos este moinho teve sorte porque foi adquirido por um descendente dos antigos donos, que o transformou num bonito estúdio para habitação.
Ano
de 2018, como ficou o velhinho moinho telhado depois
de restaurado.
Ano de 2018, como ficou o velhinho moinho telhado depois de restaurado.
Ano de 2018, o interior do antigo moinho depois de restaurado.
Ano de 2018, o interior do antigo moinho depois de restaurado.
Ano de 2018, este antigo moinho no fundo do Lugar da Ilha tinha duas portas de saída da água.
Ano de 2018, as duas portas do antigo moinho servem agora como armazém.
Ano de 2018, era neste local que eram fechadas as comportas do Ribeiro da Presa, para obrigar a água circular por dentro do moinho.
Este moinho tinha uma particularidade, porque ficava mesmo no meio de dois rios, tanto trabalhava com a água do Rio Simão, como com a água do Ribeiro da Presa.
Ano de 2018, é aqui neste local mesmo no fundo do Lugar da Ilha, que o Ribeiro da Presa desagua no Rio Simão.
......No lado direito vemos o Ribeiro da Presa.
Este Ribeiro da Presa nasce no Susão, passa próximo da Igreja nova do Susão, atravessa Valongo pelo lado mais a Nordeste, pelo caminho vai recebendo as águas de vários outros ribeiros, que vão aumentando o seu caudal, passa pela Fonte Mourisca, depois pela Ponte da Presa, até que finalmente vai desaguar no Rio Simão, aqui no fundo do Lugar Ilha.
......No lado esquerdo da foto acima, vemos o Rio Simão a sair de um túnel.
O Rio Simão também nasce no Susão, ali para os lados da Outrela, passa próximo do apeadeiro do Susão, atravessa Valongo, e pelo caminho também vai recebendo as águas de vários outros ribeiros, como o Ribeiro dos Lagueirões, o Ribeiro da Igreja, o Ribeiro da Presa, o Ribeiro das Águas Férreas que vem do lado da Santa Justa, e segue sempre até lá ao fundo do Lugar da Azenha, onde finalmente desagua no Rio Ferreira.
Ano de 2018, o Rio Simão depois de receber as águas do Ribeiro da Presa fica com o dobro do caudal.
Ano de 2018, ao longo de todo o seu curso o Rio Simão tem um caminho pedonal, desde o Susão até ao fundo do Lugar da Azenha, onde desagua no Rio Ferreira.
Ano de 2018, um troço do caminho pedonal que acompanha o Rio Simão durante mais de 5 km.
Ano de 2018, aqui no fundo do Lugar da Ilha o caminho pedonal segue pelos antigos caminhos, pelo sopé do Monte da Santa Justa, até ao fundo do Lugar da Azenha.
......Na página 372 do livro A Villa de Vallongo diz o seguinte sobre o Rio Simão:
O Rio Simão recebe as águas do Ribeiro do Cambado ainda antes da linha férrea, e de Fontelas vem a Centiais no Susão, donde depois corre por Contenças a caminho de Vallongo, e como recebe as águas de todos esses ribeiros isso faz com que os seus moinhos trabalhem quase todo o ano.
Antigo mapa do Susão, onde podemos acompanhar o percurso do Rio Simão.
......O Rio Simão nasce
mais ou menos onde eram as pedreiras do Chemina, depois corre por Fontelas, Centiais, atravessa a linha férrea
perto do Apeadeiro do Susão, depois corre por Contenças a caminho de Valongo.
......Actualmente ainda existe em Valongo a Casa de Contenças.
Vou agora
fazer um pequeno desvio para mostrar os 4
primeiros moinhos que trabalhavam com a água do Rio Simão, vou começar perto
da nascente no Susão e vou terminar no junto à Ponte da Passagem.
Ano de 2018, era este o primeiro moinho do Rio Simão, ficava no Susão próximo do Souto.
Conheci muito bem este moinho e estive dentro dele muitas vezes, ele esteve alugado ao meu pai de 1957 até 1973, mas o meu pai não o utilizava como moinho, o meu pai só o utilizava porque ficava ao lado do rio.
Ano de 2018, o primeiro moinho do Rio Simão.
Ano de 2018.
Este primeiro moinho do Rio Simão tinha uma roda de pás lateral, igual ao desta foto.
É este o princípio de funcionamento de um Moinho com eixo a 90 graus, com roda de pás lateral.
Ano de 2018, este primeiro moinho do Rio Simão está prestes a ruir, mas se reparamos ainda conseguimos ver no lado direito um quadrado na parede que não está revestido, era aí que ficava a chumaceira do eixo da roda das pás.
Ano de 2018, o segundo moinho que moía com a água do Rio Simão fica já em Valongo, no Lugar da Senra, é o Moinho da Senra.
Ano de 2018, o Moinho da Senra está a ser recuperado pela C. M. de Valongo.
Ano de 2018, o Rio Simão a passar no Moinho da Senra, como vemos aqui neste local o rio ainda tem bastante caudal.
Ano de 2018, a porta de saída da água no Moinho da Senra.
Ano de 2018, o terceiro moinho do Rio Simão fica na Rua de Trás, 200 metros antes da Ponte da Passagem.
Ano de 2018, quem passa pela frente deste moinho mal o vê, mas no seu interior ainda existe o túnel por onde antigamente passava a água, que fazia rodar a Mó.
Ano de 2018, mas se formos pelo passadiço do Rio Simão, que passa nas traseiras do moinho, ainda conseguimos ver duas grandes portas em ardósia, que era por onde a água saía do moinho depois de passar na mó.
Ano de 2018, as portas em ardósia nas traseiras do moinho, como vemos neste local o Rio Simão também tem bastante caudal.
Ano
de 2018, e agora chegamos à Ponte da Passagem, onde fica o quarto moinho do Rio
Simão, moinho que também é mencionado no livro A Villa de Vallongo.
Foi esta Ponte da Passagem que anos mais tarde, acabou por dar o nome à Rua da Passagem, rua para onde foram os meus pais no ano de 1958.
Como era a Rua da Passagem na década de 1970, esta fotografia foi tirada no quintal da
casa dos meus pais.
Neste
pequeno trecho da Rua da
Passagem, vemos no lado
direito da ponte a casa estilo colonial da Quinta da Nadita.
No lado esquerdo da ponte vemos o telhado do Moinho da Passagem, que é mencionado no livro A Villa de Vallongo.
......A
abertura desta Rua da Passagem começou a ser pensada em 1936, mas a obra só foi
executada por volta de 1950.
......No Jornal
Comemorativo do 1º Centenário da Fundação do Concelho de Valongo, no
ano de 1936 tem uma entrevista sobre a abertura
desta Rua da Passagem, que fazia parte do grandioso programa de obras que a Câmara pretendia levar a cabo nesse ano de
1936.
......A
seguir ponho um excerto dessa entrevista sobre a Rua da passagem, concedida
pelo Administrador do Concelho de Valongo, Exº Sr.
João Lino de Castro Neves, que
na Câmara ocupava o lugar de vereador de obras na sede do concelho, e era um
dos mais acérrimos defensores do novo plano de melhoramentos, que a Câmara de
Valongo pretendia levar a cabo em 1936:
......Pergunta o jornalista: fala-se também da abertura da Rua da
passagem?
......Resposta: sim, a Rua da Passagem também
já foi pensada e está-se a proceder ao levantamento da planta que a vai
transformar numa suave estrada de 8 metros de largura, que partindo do Hospital
desta Vila vem até à Ponte da Presa, substituindo o velho caminho que
actualmente está intransitável.
......Pergunta o jornalista: isso seria uma obra de grande
interesse para o público, vai ficar muito dispendiosa para o Município?
......Resposta: o seu preço não é de grande
vulto, porque os proprietários oferecem todos os terrenos e a
terraplanagem é relativamente fácil de fazer, motivo porque espero dentro em
breve ver esta obra realizada.
Mas apesar desta promessa feita em 1936, a abertura da Rua da Passagem só veio a acontecer por volta de 1950.
A abertura da Rua da Passagem foi muito importante na altura, porque até aí só existia uma via que atravessava Valongo, era a EN 15, antiga Estrada Real 33.
A partir da abertura desta Rua da Passagem passou a existir uma segunda via, para não ter que passar pelo centro de Valongo.
Ano de 2022, actualmente a Rua da Passagem só tem um sentido de circulação, do Porto para Penafiel.
Ano de 2018, é este o Moinho da Passagem que é citado em 1904, no livro A Villa de Valongo.
Ano de 2018, nesta fotografia vemos as comportas no Rio Simão que eram fechadas para fazer a água a circular pelo interior do Moinho e fazer rodar a Mó, vemos também a porta por onde depois a água saía do Moinho.
Ano de 2018. as comportas no rio, e a porta por onde depois a água saía do Moinho.
Ano de 2018, a água depois de passar pelo moinho entra na Ponte da Passagem, vemos também o caminho pedonal que
acompanha o rio durante todo seu curso.
Ano de 2018, agora vemos o Rio Simão a sair da Ponte da Passagem.
E para encerrar este capítulo, vou mostrar algumas Mós dos antigos moinhos do Rio Simão.
Interior de antigo moinho.
Interior de antigo moinho.
Interior de antigo moinho.
O Moinho do Cuco, é o último moinho do Rio Simão, fica mesmo lá no fundo do Lugar da Azenha tinha 4 Mós.
Uma colecção particular de pedras de Mós de antigos moinhos do Rio Simão, e do Rio Ferreira.
Mas
este assunto dos Moinhos, das Mós, dos caminhos pedonais, dos muitos
Rios e Ribeiros que atravessam Valongo, como é muito extenso, vai ter que ficar
para outra publicação, porque já me afastei muito do meu percurso inicial.
...... E agora vou regressar à Ponte da Presa, que fica na Estrada Nacional 15, antiga Estrada Real 33, e vou continuar o meu percurso até à Estação dos caminhos de ferro.
Já estou novamente na Ponte da Presa, lá ao fundo vemos a Rotunda da Trilobite, onde vamos virar à esquerda para a Rua da Estação, que é o nosso destino final.
A rotunda da Trilobite.
A rotunda da Trilobite, é uma homenagem às trilobites que eram uns seres marinhos que por cá viveram acerca de 360 milhões de anos, num tempo em que Valongo ainda estava submerso pelas águas do mar.
A futura Câmara Municipal de Valongo vai ter a forma de uma Trilobite, em homenagem a esses serem marinhos que por cá habitaram à muitos milhões de anos.
A futura Câmara Municipal de Valongo em forma de uma Trilobite.
Nas
minas de ardózia de Valongo, e de Arouca continuam a aparecer muitos fosseis
desses antigos seres marinhos, em Arouca existe mesmo um museu dedicado às
Trilobites.
Ano de 2022, mas no local onde agora existe esta Rotunda da Trilobite, antes existia um edifício todo revestido com Soletos de Ardózia.
Era este o edifício que existia no lugar onde agora está a Rotunda da Trilobite.
Falo deste antigo edifício que era todo revestido com soletos de ardózia, porque tenho a firme convicção de que ele devia ser a segunda Alquilharia de Carruagens de Vallongo.
Digo que este edifício devia ser a segunda Alquilharia de Carruagens pelas características do edifício, e porque na página 386 do livro A Villa de Vallongo diz que antes da inauguração da linha férrea do Douro entre Ermesinde e Penafiel, em 1875, em Vallongo existiam duas Alquilharias com boas Carruagens.
E
agora continuando com esta minha viagem, entro na Rua da Estação, e vou até à Estação dos Caminhos de Ferro, onde finalmente vai terminar esta minha
grande viagem, de cerca de 1000 metros pelo centro de Valongo.
Ano de 2022, agora já estou na Rua da Estação, e lá ao fundo já se vê o edifício da Estação de Caminhos de Ferro de Valongo.
O edifício da Estação dos Caminhos de Ferro de Valongo.
A Estação de Caminhos de Ferro de Valongo, no tempo em que ainda tinha chefe de estação.
Toda a linha dos Caminhos de Ferro do Douro foi modernizada, e Valongo não foi excepção, actualmente temos uma estação digna do Século XXI.
Mas a antiga estação com os seus armazéns, uns construídos em madeira, outros em Ardózia, deixaram-me muitas saudades, ainda me lembro de como era a antiga estação, até das casas de banho me lembro.
......Vou postar a seguir 11 imagens dos arquivos da RTP do ano de 1965, onde aparece a estação antiga tal como eu a conhecia.
Porque foi precisamente nesse já longínquo ano de 1965 que comecei a viajar diariamente de comboio entre Valongo e o Porto, tinha 10 anos, nessa altura os comboios que circulavam na linha do Douro ainda eram com máquinas a Vapor.
Junho de 1965, a estação de Valongo.
Junho de 1965, um comboio a vapor a chegar à estação.
Junho de 1965, comboios a vapor na estação de Valongo.
Junho de 1965, um grupo de pessoas na gare de embarque à espera do comboio no sentido de Valongo para Penafiel.
Junho de 1965, o comboio a vapor prestes a parar na gare de embarque da estação de Valongo, no sentido do Porto para Penafiel.
Junho de 1965, ainda o comboio a vapor prestes a parar na gare de embarque da estação de Valongo, no sentido do Porto para Penafiel.
Junho de 1965, os armazéns traseiros da estação tinham paredes de ardósia, e telhados em soletos.
Junho de 1965, na estação de Valongo eram carregados vários wagons todos os dia.
Daqui era despachado todo o tipo de materiais, mobiliário, e todo o tipo de artigos fabricados em ardósia.
Desde lousas e penas escolares, a bancas de cozinha, algerozes para os beirais das casas, eram vasos e ladrilhos para o chão, soletos, etc, esses wagons eram depois atrelados nos comboios de mercadorias que por aqui passavam.
Junho de 1965, como vemos o telhado e as paredes destes armazéns da estação de Valongo, eram em soletos de ardósia.
Antigamente existiam em Valongo muitas casas como
esta, totalmente revestida com soletos
de ardósia, mas hoje já
poucas existem.
Outra casa em Valongo revestida com soletos de ardósia, que ainda resistiu.
Outra casa em Valongo revestida com soletos de ardósia.
Outra casa em Valongo revestida com soletos de ardósia.
Mas a moda de revestir edifícios com soletos de ardósia voltou a começar, e no Porto já existem dezenas de edifícios com partes revestidas a Soletos.
Ano de 2022, um edifício no Porto, perto do Mercado Ferreira Borges, com revestimento feito com soletos de ardósia.
Ano de 2022, outro edifício nas traseiras do Palácio das Cardosas no Porto, com revestimento feito com soletos de ardósia.
Ano de 2022, outro edifício perto do palácio de Cristal no Porto, com revestimento feito com soletos de ardósia.
Ano de 2022, um edifício no Porto, perto do Mercado Ferreira Borges, com revestimento feito com soletos de ardósia.
Mas agora vou votar novamente para a estação de Valongo no ano de 1965, porque senão nunca mais acabo a publicação.
Junho de 1965, os armazéns da parte da frente da estação eram construídos em madeira, iguais a tantos outros noutras estações, vemos um Wagon para ser carregado com mercadorias.
Estes
armazéns em madeira na frente da estação, eram os que eu conhecia melhor,
porque muitas vezes acompanhei o meu pai quando ele ia fazer despachos de
Lousas Escolares, também me lembro bem da balança que aparece nesta fotografia,
era nela que era pesava a mercadoria antes de ser despachada, também me pesei
nela muitas de vezes.
Na década de 1970 existiam 26
fábricas de Lousas e penas escolares, e mais de uma dezena de pedreiras de
Ardósia em Valongo, e todas as
mercadorias dessas fábricas e pedreiras eram despachadas de Comboio.
Dessas 26 fábricas de Lousas Escolares, das quais uma era do meu pai, actualmente só existe uma.
Os antigos armazéns em madeira da Estação de Valongo eram iguais a estes do Peso da Régua.
Actualmente já não existem armazéns, nem se fazem despachos de mercadorias na Estação de caminhos de Ferro de Valongo.
......Na página 220 do livro A Villa de Vallongo diz que com a passagem da linha de caminhos-de-ferro do Douro, Valongo sofreu um rude golpe no seu comércio e industria:
......A 29 de Julho de 1875 inaugura-se a linha férrea do Douro
entre Ermesinde e Penafiel, a qual passados alguns anos até tem concorrido para
o desenvolvimento material de Vallongo, embora por algum tempo fosse um golpe
de morte dado no seu comércio e industria.
......Porque até então era por Vallongo que passavam todas as mercadorias e passageiros que do Alto-Douro e Terras de Traz-os-Montes desciam para o Porto, seguindo a Estrada Real nº33 que d'essa cidade ia até Penafiel, Amarante, Régua, Chaves, Bragança até à Hespanha.
......E todos os dias n'esta terra passava uma multidão imensa de povo de todas as condições e estados, almocreves com suas alimárias (animais de carga), estafetas, carroças, liteiras, e malas postais que descansavam, comiam, compravam e vendiam, constituindo aqui um centro de comercio que muitas vezes fez a felicidade de muitas famílias.
......Era o que fazia dizer aos nossos pais que à beira da estrada, vendendo iscas de dez réis e meios quartilhos de vinho, pôde-se arranjar bem a vida, e podia, a primeira paragem para refresco dos viandantes, depois da saída do Porto, era Vallongo, onde também os transeuntes se muniam do afamado pão, quando iam para aquela cidade.
......Mais tarde as coisas começaram a mudar, e hoje, 1904, o caminho de ferro já é fonte de bastantes benefícios para esta terra, sendo o seu movimento dos de maior escala que se realizam em toda a linha do Douro.
......A estação tem quatro vias, duas para passagem dos comboios ordinários, e duas para resguardo dos wagons, que continuamente ali demoram à carga e descarga de diversas mercadorias.
……Para depósito e arrecadação das mercadorias à também dois cais, um coberto e fechado e outro descoberto, bem como um grande numero de empregados para bom desempenho de serviço.
......Até este tempo, porém, tiveram os Vallonguenses de arcar com grandes dificuldades na luta pela vida, recorrendo muitas vezes à emigração, que foi causa de que muitos de seus filhos procurassem nas terras de Santa Cruz, Brasil, o forçado pão do exílio......
O início das obras de construção da linha do Douro começou em Julho de 1873, e o primeiro troço entre Ermesinde e Penafiel entrou ao serviço no dia 30 de Julho de 1875.
A linha dos caminhos de ferro do Douro inaugurada no ano de 1875, começava na Estação de Ermesinde.
Como era a estação de Ermesinde quando eu comecei a viajar de comboio de Valongo para o Porto.
Ano de 2018, a estação de Ermesinde tal como toda a linha do Douro também foi modernizada, e como vemos hoje Ermesinde tem uma estação toda futurista.
Ano de 2018, a estação de Ermesinde com iluminação nocturna.
Os
comboios da linha do Douro partem da Estação de São Bento, no Porto, passam por
Ermesinde, e 2km à frente passam por um viaduto sobre o Ribeiro de Cabeda.
Este viaduto apesar de não ser muito alto impõe muito respeito, quando com 10 anos comecei a passar por ele parecia-me sempre que ele abanava muito.
Nesta antiga fotografia vemos um comboio a vapor a passar no Viaduto de Cabeda, ou Viaduto dos Sete Arcos, como é conhecido por alguns.
Já passei muitas vezes a pé por cima deste Viaduto de Cabeda, quando andava no ciclo preparatório no ano 1965/66/67, só havia comboios para Valongo no final da tarde.
E quando não tínhamos aulas de tarde, com mais alguns colegas fazíamos a viagem a pé desde a Estação de Ermesinde até ao apeadeiro do Susão.
O Viaduto de Cabeda.
4 km à frente do viaduto de Cabeda chegámos ao Apeadeiro do Susão, na década de 1960 eram poucos os comboios que paravam no Susão.
Uma antiga fotografia do Apeadeiro do Susão, no tempo em que ainda tinha as
cancelas metálicas, no Susão existiam 2 passagens de nível com guarda.
Outra antiga fotografia do Apeadeiro do Susão.
Outra antiga fotografia do Apeadeiro do Susão.
O Apeadeiro do Susão num tempo já mais recente, nesta altura as cancelas metálicas já tinham sido substituídas por barreiras, e os comboios que circulam já não são a vapor.
Antes da modernização da linha do Douro, no Susão existiam 2 passagem de nível com guarda, e ambas com casa onde morava o guarda com a família.
Eram esses guardas das passagens de nível que tinham a obrigação de fechar, e abrir as cancelas metálicas, quando se aproximava um comboio, uma das passagem de nível ficava na estrada que liga Valongo a Alfena, e a outra ficava na estrada que vai até ao Souto, no centro do Susão.
Ano de 2018, com a modernização da linha do Douro o antigo Apeadeiro do Susão foi transformado numa moderna estação, tão importante como a Estação de Valongo, a antiga casa do guarda da passagem de nível ainda se mantém, embora já não more lá ninguém.
Os
comboios depois de passarem no apeadeiro do Susão, antes de chegar à estação
de Valongo, ainda passavam por mais duas passagens de nível com cancelas
metálicas, uma ficava no Calvário, dava acesso às Pedreiras do Galinheiro, e a
outra ficava já perto da Estação de Valongo, e também servia para dar
acesso às pedreiras.
E finalmente os comboios depois de passarem nessas passagens de nível, chegavam à Estação de Valongo.
A
Estação dos caminhos-de-ferro de Valongo, inaugurada em 1875, só tinha 2 linhas
por onde circulavam os comboios ordinários.
Mas
como podemos ler numa passagem do Livro A Villa de Vallongo, em 1904 a estação
já tinha quatro vias, duas para passagem dos comboios ordinários, e duas para
resguardo dos wagons, que continuamente ali demoram à carga e descarga de
diversas mercadorias.
......No livro A Villa de Vallongo diz o seguinte sobre esta Estação de Caminhos de Ferro de Valongo:
......A Estação do Caminho de Ferro serve de aposento ao chefe do respectivo serviço, e é lugar de embarque e desembarque de diferentes mercadorias e indivíduos, nada tem de notável por apresentar a forma das outras casas que na linha do Douro tem o mesmo fim e mister.
......Data de 1875, o primeiro comboio passou aqui já depois do meio dia, levando o ministro da marinha, alguns vereadores, o governador civil, o general da divisão e outros funcionários, jornalistas, e vários cavalheiros representantes do corpo diplomático.
......O comboio foi até Penafiel, onde houve um lanche de 180 talheres, estando todas as estações engalanadas e havendo em Vallongo várias manifestações de regozijo.
Não me sentiria bem terminar esta publicação sem fazer um elogio ao padre Joaquim Alves Lopes Reis, porque muitos dos textos que utilizei são do livro A Villa de Vallongo.
O
padre Joaquim no livro A Villa de Vallongo, escreve sobre as
tradições, sobre a história, sobre os costumes de Vallongo, desde
os tempos mais remotos, até ao ano da publicação do livro, em 1904.
Utilizo este livro como um manual de consulta sobre o passado de Valongo, tenho uma grande admiração por este livro, mas melhor do que lhe fazer algum elogio, será escrever um texto que o próprio escreveu na conclusão do livro, que diz o seguinte:
......Nos Séculos que ainda estão por vir, se algum d'esses cataclysmos que subvertem as Nações e fazem desaparecer os povos, risque do mapa de Portugal esta encantadora terra, este livro ficará sempre como um monumento vivo a atestar aos vindouros o que ela foi no passado.
......E assim como os toscos hieroglyphos do Egypto perpetuam a civilização de gerações que se finaram, o livro A Villa de Vallongo, apesar de mal escrito, não deixará esquecer as bellezas nem as graças que o Céo azul d'esta villa abundantemente encerra......
E depois desta extenuante viagem histórica de 1 km pela antiga Estrada Real 33, que me levou 6 anos a completar de 2018 a 2024 despeço-me, e se alguém se deu ao trabalho de ler esta extensa publicação, espero que tenha gostado.
Obrigado.
Fantastico trabalho (resumo) de uma parte da Villa hoje cidade de Valongo. No minimo mereceria uma brochura por parte da Camara Municipal . Um kilometro calcorreado, centenas de anos de Historia. Bem hajas. Abraco.
ResponderEliminarJoao Carlos Pauperio
Parabéns pelos registos. Importante trabalho para a memória de Valongo.
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